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segunda-feira, 25 de março de 2013

No Campo da Vida





No Campo da Vida
por    J. Alexandre
in Reformador (FEB) Dezembro 1969


            Você está desalentado pela crítica.

            Não interrompa, porém, a sua tarefa de ofertar migalhas aos famintos de pão e gotas de luz aos carentes de orientação e consolo.

            Excelente um dia sem fome e sem ignorância.

            Mas, até lá, enquanto alguns se restringem a traçar magníficos propósitos do Bem, outros a planear medidas saneadoras de extensão e profundidade, alguns a verberar por soluções definitivas - continuemos a servir, mesmo com pouco, a fim de garantir a própria sobrevivência dos menos felizes para que possamos juntos alcançar o panorama ideal.

            Se você não fizer o mínimo no campo da realidade, suportando as acusações dos que almejam o máximo na área da palavra sem ação, o mendigo de pão perecerá de fome e o ignorante se arrojará a tenebrosos abismos - e não terão olhos para o “mundo de justiça”, propagado em espalhafatosas paradas de ilusão.

*

            Será caridade a assistência social?

            A indagação, respeitável e justa, sobre a atividade da benemerência, longe de ser articulada nos salões festivos, onde os convencionais trazem o corpo recoberto por generosos tecidos e o estômago abastado em seus reclamos imediatistas - deverá ser proferida dentro da choupana e da tapera, das favelas e dos casebres, junto a velhinhos trêmulos e criancinhas avitaminadas, mães de seio estéril incapazes de filtrar a seiva aos filhos, e pais enfermos temporariamente impedidos de esforços maiores.

            Vale mais o pão amanhecido que gravuras de pratos apetitosos.

*

            A pobreza de opereta é mais amada.

            Na certa, no contato com o pobre de nosso mundo, carente de higiene e de letras, de roupa e de pão, poderemos lembrar as lições de amor ao próximo, quando idealizávamos os sofredores aromatizados em delicados perfumes ou revestidos de andrajos de cetins.

            Nosso mundo pode ser figurado como um palco, mas as suas personagens vivem um drama real...

            Abracemos a quem sofre, com piedade cristã.

*

            Há várias maneiras de fugir da realidade.

            Uma das mais sutis, porém, é aquela em que a criatura se arvora a reformador do mundo, desconformando-se com todas as soluções em curso de realização, sem jamais se encorajar a arregaçar as mangas e partir para o campo de trabalho a favor dos que sofrem.

            A ginástica do verbo, bastas vezes, é um artificioso arco-íris com que se recobre a boca da furna em que nos refugiamos, egoisticamente, temerosos de confundir-nos, no vale da dor, com os que gemem e se agoniam.

            Preciso é a coragem de começar a ser útil.

            Dessa virtude o Espiritismo cristão se faz o apanágio, anunciando que, para chegar à caridade moral, redentora do homem, é urgente que iniciemos a benemerência que fará, ao socorrido, condições de aspirar a uma vida melhor.

*

            No campo da assistência, vale lembrar a Espírita. 

            Após os primeiros ensaios de efetivo amparo social, cumpre-nos espiritizar nossos serviços, imprimindo-lhes as características regeneradoras da Religião dos Espíritos, ofertando orientação segura aos que sofrem.

            É fundamental, em Doutrina Espírita, o cuidado da alma.

*

            Ponderável parcela dos que se alistam como Obreiros da Luz, foge de distribuir as bênçãos da orientação redentora, sob a alegação de que as vestes, a falta de cultura, o aparente desinteresse dos assistidos, diluem o ânimo de medidas saneadoras.

            Lembremos, porém, o pântano.

            Se, por inferir que a sua superfície jamais se tornará respeitável trato de terra, o trabalhador distanciar-se das medidas de drenagem, evidentemente não lhe caberá reclamar da falta de colheita, já que se negou ao plantio.

            Alegações são razoáveis - mas não constroem.

            Nem sempre o campo está preparado.

            Jesus, porém, não nos convocou para a colheita.

            Fomos chamados para aprestar o terreno e realizar a sementeira, com antecipado conhecimento do Ceifeiro Divino das dificuldades dos corações que receberiam o chamamento do Evangelho.

            Semeemos sempre, para que haja messe.  

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