quarta-feira, 20 de março de 2013

7. Ciência Fanatismo Religião



7

Ciência    Religião   Fanatismo

por  Mínimus
(Antônio Wantuil de Freitas)
Ed. FEB
c.1938


            Empunhemos a nossa bandeira - "Fora da Caridade não há salvação" - hasteemo-la em todos os corações. Não há maior caridade que essa de implantar, nos refolhos da alma da mocidade, o conhecimento das leis de Deus.

            Levemos a nossa bandeira de Amor. Os jovens a aceitarão, porque a mocidade é boa, é caridosa, possui sentimentos nobilíssimos que a farão distinguir o que lhe anunciamos do que lhe pretenderam ensinar.

            Então, amigos, veremos as velhas religiões passarem, como passaram as crenças mitológicas. O diabo será um ser mitológico, residente num lugar imaginário chamado inferno. As cerimônias litúrgicas passarão ao rol das coisas esquecidas, estudadas como velharias, assim como hoje tomamos conhecimento das cerimônias primitivas de que nos fala a História.

            Ensinemos que Deus é o criador dos trilhões de mundos que giram pelo infinito; que Deus jamais abandonou esses mundos colossais para se encarnar neste minúsculo planeta. Ensinemo-la a amar o Cristo, pelo seu grande valor, pela sua pureza, pela sua perfeição, mas não ofendamos o Criador, confundindo suas criaturas com Ele próprio.

            Lancemos a semente do puro Cristianismo no âmago da mocidade. Ela germinará viçosa, e frutos dulcíssimos alimentarão a humanidade futura.

            Mostremos que o nosso Deus é muito diferente do deus colérico e mal que lhe pretenderam fazer crer. Chamemos a sua atenção para o Deus que adoramos, um Deus que não vinga, não castiga, não condena e que se apieda igualmente de ateus e de crentes.

            E veremos que a mocidade pura e boa, tornada perigosa pela descrença, procurará estudar o Espiritismo, ansiosa por encontrar esse Deus de Amor, de quem nunca ouviu falar. Ansiosa, sim, porque ninguém é completamente ateu; todos têm uma leve dúvida, todos possuímos o sentimento intuitivo da existência de um Ser Supremo.            

            Provemos a essa mocidade, que dirigirá os destinos do mundo de amanhã, que ela tem vivido enganada. Que o Espiritismo não é o conjunto de loucos e de ignorantes que lhe disseram ser. Que o Espiritismo foi codificado por um homem de ciência e que ao nosso lado estão centenas dos maiores sábios do planeta, muitos dos quais seus conhecidos e por ela colocados em altares, recebendo o perfume sutil das ânforas da Sabedoria.

            Então, um mundo novo surgirá. As Escolas Superiores, hoje materialistas, terão a sua cadeira de psiquismo. Estudarão oficialmente os fatos, tirarão conclusões, absurdas em começo, lutarão para vencer a verdade da causa dos fenômenos supranormais, mas os laboratórios se encarregarão de demonstrar que suas hipóteses não satisfazem, como aconteceu a Richet. E do psiquismo passarão os estudantes para o Espiritismo, catalogando os fatos, estudando-os como produzidos pelos Espíritos, sem discussões de teorias absurdas e incoerentes, assimilando finalmente a pureza do Cristianismo, por intermédio do - Livro dos Espíritos.

            Assim como do negro carvão surge o diamante e deste, após lapidações que o ferem, sai o brilhante com reflexos luminosos, assim também veremos a mocidade de hoje transformar-se numa mocidade luminosa, cristianizada, enfim.

            O homem pode estacionar, pode continuar na rebeldia da encarnação anterior, mas, um dia, quando encontrar quem o encaminhe, ele progredirá.

            No túmulo de um dos faraós, sepultado há três mil anos, encontraram-se sementes de trigo. Três mil anos elas dormiram! Plantaram-nas. Faltava-lhes o meio próprio para germinar, mas, alguns dias depois de plantadas, brotaram viçosas, como se tivessem dias de colhidas. Assim somos nós.

            Há, em Física, um fenômeno denominado convecção, que consiste em esquentar-se uma vasilha pelo fundo, para demonstrar que os líquidos fervem de baixo para cima, formando correntes contínuas, subindo as quentes e descendo as frias. As frias descem para receber o calor. A vaporização da humanidade, o seu progresso, também é assim. Desce, cai, recebe a dor, sofre-a; sobe depois, mas, por pesada e impura, torna a descer, e assim, em alternativas um dia chega a espiritualizar-se, subindo, tal como acontece com os vapores da água da experiência física.

            O Espiritismo tem, sobre as religiões antigas, a qualidade de não ser estacionário e de caminhar ao lado das ciências humanas. Ele se antecipa muitas vezes à ciência com seus enunciados, e isto naturalmente, porque é ele o gerador do progresso humano, ora permitindo que Espíritos de sabedoria venham trazer intuições aos sábios estudiosos da Terra, auxiliando-os em suas descobertas; ora apresentando fenômenos novos que destroem completamente as teorias sofisticamente criadas para explicar os fatos anteriores.

            Nosso trabalho é, pois, relativamente pequeno, porque é do Alto, como sempre, que vem a maior força e os mais fortes argumentos, para obrigar os rebeldes a aceitarem a Verdade das Verdades: - O Cristianismo do Cristo. Dizemos do Cristo, do Ungido, porque o Cristianismo que afirmam existir, que anunciam espalhado por 800 milhões de homens de várias religiões chamadas cristãs, não é o Cristianismo puríssimo do Enviado divino, e não o é porque só existe nos lábios, quando seu lugar é na pureza evangélica da fé, é no coração, é na alma, e, por isso, só se manifesta nas obras dos seus iniciados.

            Como vos dissemos, estamos muito acima das velhas crenças misteriosas que tanto se distanciaram da ciência, quando deveriam, se ambas se originam do mesmo foco - que é Deus, caminhar de mãos dadas, na mesma direção, tal como o Espiritismo, que não proíbe que se lhe examinem os fatos, que os discutam, mas, antes, convida a todos para estudá-los, pesquisando a verdade da existência da alma e de sua imortalidade, e não só em investigações meticulosas, onde médiuns e Espíritos se prestam a experiências físicas e químicas, senão ainda, em gabinetes, apresentando os fenômenos classificados como oriundos de uma força inteligente, que eles denominam de desconhecida, para não confessar que é dos Espíritos.

            Falemos, agora, meus amigos, mais diretamente de nós, da necessidade da nossa cooperação para que a filosofia espírita se difunda o mais celeremente possível, para patentearmos ao Cristo a nossa alegria em conhecê-lo, a nossa gratidão pelo bem que nos fez e sobretudo para demonstrarmos, a nós mesmos, a nossa consciência, que assimilamos os ensinamentos evangélicos de amor ao próximo, espalhando a consolação, o conforto, a resignação e a fé.

            Não é só aos que nos procuram que deveremos socorrer com a nossa palavra de amor. A estes é bem fácil encaminhar, mas é principalmente aos que nos desprezam e mesmo aos que nos odeiam, que devemos e temos a obrigação de tirar do lamaçal da descrença ou da dúvida em que se acham, infelizmente, chafurdados.

            Aos que nos odeiam, mostremos que não somos ruins e que os amamos, aproveitemos todas as oportunidades que se nos depararem, para patentear-lhes que o nosso desejo é vê-los felizes, tirando-os da dúvida em que se debatem.

            Aos descrentes, aos que se riem de todos nós que acreditamos na existência da alma, falemos da nossa felicidade, da nossa fé, da certeza no Além, na justiça da dor e de sua purificação; porque, eles, meus amigos, rirão ainda, mas por fim se convencerão, como nós nos convencemos, de que só se pode encontrar a felicidade, palmilhando a estrada luminosa dos Evangelhos de N. S. Jesus Cristo.

            Sejamos trabalhadores, conquistando, para o rebanho do Senhor, as ovelhas desnorteadas que se encontram estacionárias e as que têm o Cristo nos lábios, mas não o compreendem, temendo-o, em vez de amá-lo.

            Um dos meios, que julgamos muito eficientes para propagação da doutrina, consiste em provocarmos que a acusem. Quantos e quantos abraçam o Espiritismo, depois de atacá-lo, Combatiam-no porque o não conheciam. Discutiam sem base, sem alicerce, sem conhecimento. Mas, depois de serem vencidos por argumentos de amigos, no desejo de se tornarem invencíveis, procuraram ler as obras de Kardec e a luz se lhes abriu, aclarando-se lhes a razão.

            Conhecemos uma senhorita, interna de um dos maiores e mais afamados colégios do Rio, que, a conselho nosso, aproveitava todas as oportunidades, quer com diretores e professores, quer com suas colegas, para dizer-se adepta do Espiritismo.

            Disse-nos essa moça que, a princípio, todos se admiraram de ela abraçar uma doutrina que faz loucos, que conversa com demônios e outras infantilidades, e acrescentou que as colegas mais íntimas passaram a fazer chacotas com a sua crença.

            Tolerante e boa, essa moça argumentava com tanta fé e humildade, que suas verdadeiras lições de Espiritismo acabaram por destruir essa zombaria, transformando-a em respeito, bem como animaram outras colegas a se declarar espíritas, e hoje, em tal colégio, todas as alunas estão preparadas para receber a Doutrina, porquanto já sabem que o Espiritismo é a síntese de todas as religiões, é a síntese das verdades esparsas, encontradas em todas as seitas, mas que por elas foram deturpadas no correr dos séculos.

*

            Finalizemos, senhores, porque o assunto é vasto e por demais complexo para ser tratado no correr de uma palestra.

            Concluamos, mas saiamos daqui impregnados de fé, com o desejo de cooperarmos para o progresso da humanidade, fazendo que todos compartilhem desse banquete de felicidade, que a bondade de Deus nos permitiu usufruir.

            Chama-se em ciência - equilíbrio térmico - ao fato de um corpo quente, colocado junto a um outro corpo frio, comunicar-lhe o calor, ficando ambos, dentro de algum tempo, em temperaturas iguais.

            Nós, amigos, que já recebemos de Deus o calor espiritual dos Evangelhos do Cristo, saiamos daqui decididos a produzir na humanidade o equilíbrio espiritual, de que ela precisa, para que a Terra se torne em harmonia com o Infinito.


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