quarta-feira, 20 de março de 2013

23. 'Fenômenos de Materialização'



            23

Fenômenos de Materialização
por     Manoel Quintão
 Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira
 1942


            Poderíamos prolongar indefinidamente a cita de casos de mediunidade curadora, capazes, por sua natureza intrínseca, de subverter e confundir todas as teorias científicas.

            Nestes domínios experimentais, concludentes, os anais do Espiritismo no Brasil constituem filão inesgotável e opulentíssimo. Estes que aí ficam, tomamo-los ao acaso, de escantilhão, para justificar a nossa...

                                                                       Tese

            assim proposta e desdobrada:

            1º - Demonstrar que as nações, como entidades coletivas, desempenham missões definidas e conjugadas ao plano universal, sob as vistas de seus Guias (1).

            (1) Assim como a França tem por Guia presumível Joana d'Arc, o Brasil tem Ismael, segundo afirmam os Espíritos. Esta verdade foi ainda há pouco ratificada por Emmanuel, luminoso Guia do médium Francisco Cândido Xavier, em sua preciosa obra intitulada – ‘A caminho da Luz’. Também o muito nosso Humberto de Campos lhe deu foros de legítima procedência, ao transmitir o seu ‘Brasil, pátria do Evangelho, coração do Mundo’.

            2º - Acentuar a preponderância da mediunidade como fator maior da propaganda em nosso país.

            3º - Determinar como, das próprias condições mesológicas, da situação moral, econômica, política e territorial, decorrem, em refluxo para outros países, as primícias de uma mentalidade nova.

            4º - Firmar o ascendente do Espiritismo evangélico, religioso portanto, não no sentido formal, ritualístico, sectário, mas no verdadeiro sentido do conhecimento das causas, por dedução dos efeitos, ou seja do "amor de Deus e do próximo" - de que nos falou o Cristo como sendo a síntese de toda a Lei e os Profetas.

            Os povos, no desdobramento de suas atividades tomadas isoladamente, em pouco se diferenciam dos indivíduos, que, do berço ao túmulo, nessa trajetória de relâmpago em relação ao Tempo imanente, lutam pela fatalidade, pensando realizar um destino, quando, na verdade mal tateiam, na treva, esse destino.

            E se eles, os homens, não colocam a finalidade, o objetivo, desse destino para além das raias da morte física - seja a dissociação do corpo e, com ela, a cessação de sua atividade - que valor podemos atribuir ao seu laborioso e presumido quão incoercível esforço de realização?

            Ninguém dirá que Tutmés ou Ramsés, fazendo por formidáveis anuduvas (tributo em dinheiro ou em trabalho a que eram obrigados os vassalos para atender à reparação das obras militares dos castelos feudais)  erigir as pirâmides que lhes guardassem os despojos, pudessem prever a decadência do seu povo no curso da evolução planetária.

            Cesar, conquistando as Gálias, jamais poderia presumir a fundação, ali, de uma outra pátria que não a sua.

            Antes que as quilhas do glorioso Genovês revelassem ao mundo ocidental as plagas americanas, quem ousaria assinalar o surto de civilização aqui elaborada em cinco séculos?

            Os que pretendem fazer da Sociologia uma ciência esquecem-se do limitado e sempre relativo alcance dos valores humanos.

            E, assim como na esfera individual, em que pese a influência do livre arbítrio, há de o homem contar sempre com o imprevisto, assim também, nas realizações coletivas surgem fatores inesperados, que modificam e até anulam todos os desígnios e prognósticos, todos os planos e convenções sociais.

            A este ascendente superior, providencial, que lhe foge de geração a geração, quando lhe não falha no curso de sua mesma geração, chama o homem, por ignorância e orgulho - fatalidade!

            Mas, fatalidade é um simples vocábulo e o fato que ele traduz, em si, fora de molde a fazer refletir os pretensos condutores de povos, se eles, por humanos, não baixassem ao plano material inquinados da tara comum do orgulho.

            Não vêm que a sua influência não atinge, as mais das vezes, as raias da própria existência corporal, efêmera, a menos que, consciente ou inconscientemente, a entrosem e subordinem ao plano universal, seja ao pensamento divino, tornando-se, neste caso, instrumentos mais ou menos passivos dessa mesma Providencia, que sistematicamente contestam.

            Aos convencidos da unicidade da existência individual, aos céticos de todas as escolas e matizes, para quem o aparecimento do homem - ser pensante - na crosta desta esfera representa um enigma indecifrável, como o próprio universo, ou se filia a um mecanismo indefinito e abstruso, quanto insolúvel também a esses assenta-lhes ao justo o papel de reivindicadores do futuro e possuidores do mundo, que eles pretendem e supõem encaminhar a seu talante. 


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