Pesquisar este blog

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Sugestões cristãs - 1 - Aos que desanimam

 


Sugestões cristãs - 1 - Aos que desanimam

por Luiz de Oliveira     Reformador (FEB) Março 1924

 

            A vida não nos pertence, não é nossa propriedade; ela pertence à Fonte que a produz; nós somos o que ela é: originários dessa mesma Fonte que lhe dá origem. Com ela nascemos, indivisivelmente com ela estamos e estaremos onde ela estiver.

           Que somos, pois? Se a vida é nossa e não está sob nosso exclusivo critério; se é nossa inseparável companheira e, indestrutivelmente, nos prende em seus tentáculos; se nos conduz para onde a conduzam as energias ocultas que a alimentam e atraem; se, estando em nosso domínio, não a podemos afastar, porque somos o que ela é, amamos o que ela ama, detestamos o que ela detesta, sofremos o que ela sofre, rejeitamos o que ela rejeita, seguimos o que ela segue e nos transportamos para onde ela se transporta, sentindo as mesmas sensações que a empolguem; se somos, enfim, oriundos de uma Vontade soberana e se por essa Vontade é que personalizamos a vida, porque ela se identifica em nós e nós nos identificamos nela; certamente, a existência que impulsiona o corpo de que nos servimos para o trabalho material, é que nós somos. Entretanto, embora tenhamos a nosso cargo o invólucro terreno, não nos assiste o direito de elimina-lo, porque não o adquirimos por nós mesmos, isto é, pelo império de nosso desejo, a fim de fazermos uma travessia mundial para satisfação da vaidade e do orgulho, até quando nos conviesse. Esse direito não temos, pois, sendo o que realmente somos: emanações da Vida Suprema, para realização do trabalho espiritual, estamos na dependência de quem nos aparelhou para o existir.

             Antes de sermos, que éramos? Não estamos sujeitos ao império da sabedoria que nos despertou do sono da inconsciência? Não está o aprendiz subordinado ao mestre que o dirige? Não se exige da infância obediência a seus progenitores? Não depende o homem do sustento que o avigora para exercício da atividade? Não depende o pão, que o sustenta, do trabalho? Não depende o trabalho da saúde? Não depende a saúde da vida? Não depende a vida de seu Criador?

             Por conta de quem nos agitamos, se não nos fizemos a nós mesmos? A quem nos devemos dirigir, se somos operários, para prestar contas da tarefa de que nos incumbimos? A quem nos dá o pão ou o salário para adquiri-lo, ou a quem no-lo quer roubar? Quando alguém, fugindo às sugestões da fé, trabalhado polo desanimo, põe termo ao seu existir, precipita-se em trevas e vai sofrer os horrores de tenebroso suplício, que se lhe afigura eterno, por não ter atendido ao instinto de conservação, a que os próprios irracionais obedecem, e haver, com rebeldia, recusado o alimento espiritual que a Providência distribui por todos os seres da Criação.

             Desse modo, o infeliz que procura a morte, esquecendo-se da autoridade eterna, pretendendo, à semelhança do mal trabalhador, libertar-se do dever de aguardar a hora da prestação de contas; torturado pela decepção de não retomar ao sono da inconsciência, percebe, horrorizado e confuso, que a sua falta de humildade e submissão à disciplina espiritual exemplificada pelo Senhor Jesus, depois de o propelir à voragem do desespero, entregou-o às emboscadas da ignorância que lhe roubara a crença e lhe armara o braço, pretendendo adormece-lo, para todo o sempre, no silêncio da morte!

             E o inditoso, sentindo-se vivo na região espiritual com que não contara, experimenta, perplexo e aturdido, o vigor e a agonia da própria existência que lhe sugerira a ideia do suicídio, pois, unificado a ela para se livrar da condição terrena e fugir aos desenganos e aflições que o desalentaram, por não se haver equilibrado nos esplendores da fé, não tendo conseguido a eliminação que pretendera, percebe claramente que também a vida não se faz por si mesma, não se pertence, mas sim à Força Superior que lhe dá origem e propriedade sobre a Terra.

             Por essa razão, quando a vida se afasta do corpo material, remontando à sua origem, ingressa no mundo dos Espíritos, onde conserva as impressões do que praticou e se mantém sob o império e propriedade da inteligência suprema - fonte de luz que a distribui, impulsiona e orienta, dando-lhe calor movimento, diretriz e ação.

             A inteligência suprema, que se designa com o nome de Deus, desenvolvendo e ativando a majestosa e incomparável obra da criação, utiliza-se das existências que se formam em todos os departamentos da atividade pelo infinito, com o predomínio paternal de sua natureza criadora, conduzindo-as à execução de seus divinos planos, norteando-as para o trabalho de ascendência sobre os elementos materiais, em que, dominando instintos grosseiros, substituindo-os por sentimentos nobres e elevados, aspirando a novas etapas, mais confortáveis e delicadas, realizam a trajetória do progresso em demanda da perfeição.

             Destarte, o homem que toma por modelo o que nos legou, em sua passagem pela Terra, a orientação cristã; tendo, para seu governo, perseverança e firmeza no desenvolvimento das faculdades pensantes, coloca a vida, que por seu intermédio se ativa, sob a proteção divina e, caracterizando a função do Espírito, cujas aptidões se ampliam, aparelhado para novos surtos, desvenda o prisma da imaterialidade em que culmina pelo exercício da moral perfeita exemplificada pelo Cristo.

             Desse raciocínio, por conseguinte, logicamente se conclui, que a vida pertence a seu Criador e Pai espiritual, constituindo-se, por isso, o sopro divino, dentro do qual nos havemos de agitar por toda a eternidade.

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário