Correspondência Póstuma de Allan Kardec - 1
Reformador (FEB) 16 Agosto 1917
Allan Kardec a Theophilo Gautier
Nesse livro ele se faz intérprete da teoria do Espiritismo
em uma espécie de romance espírita, como ele o chama. Supõe dois seres que se amaram:
um deles nunca pode confessar esse sentimento enquanto vivo; uma vez morto seu
espírito, por meio de reencarnações sucessivas, manifesta sentimentos que teve
de calar durante sua vida mortal.
Allan Kardec dirigiu a Theophilo Gautier a seguinte carta:
Peço-vos
que aceiteis a homenagem de um exemplar do “Livro
dos Espíritos”, que acabo de publicar:
O ponto de vista novo, eminentemente sério e moral, sob o qual a doutrina dos Espíritos é encarada, explica o interesse que ligo a essa questão, ao mesmo tempo de futuro e de atualidade e ao qual creio que não sois estranho.
Notareis, sem esforço, o passo imenso que esta teoria deu
desde as mesas girantes; não se trata mais, com efeito, hoje, de fenômenos de simples
curiosidade, mas de um ensinamento completo dado pelos próprios Espíritos sobre
todas as questões que interessam a humanidade e que eu elevo à altura das ciências
filosóficas.
A aprovação de um homem como vós, ser-me-ia infinitamente
preciosa, se eu tivesse a felicidade de obtê-la.
Peço-vos que vos digneis receber a expressão de minha
mais alta consideração.
Rue des Martyrs, 8
..................................................
Carta de
Jules Favre
11 de Novembro de 1858
Jules Favre
A personalidade de Jules Favre não podia passar despercebida: pareceu-nos necessário assinala-la aqui, a fim de provar que vários homens de valor se interessaram pelos trabalhos de Allan Kardec.
A propósito do Livro
dos Espíritos, cremos dever recordar aqui as duas primeiras cartas
seguintes, já insertas no primeiro número da Revue Spirite, em 1858.
Bordeaux,
25 de Abril de 1857
Graças ao ensinamento dos Espíritos, ele se apresenta sob
uma forma definida, assimilável mas grande, bela e em harmonia com a majestade
do Criador.
Quem quer que seja a ler esse livro, como eu, meditando-o,
nele encontrará tesouros inesgotáveis de consolações, porque ele abrange todas
as fases da existência. Sofri em minha vida perda que me afetaram vivamente:
hoje elas não me oferecem nenhum desgosto e toda minha preocupação é empregar
utilmente meu tempo e minhas faculdades para apressar o meu adiantamento,
porque o bem tem hoje um objetivo para mim e compreendo que uma vida inútil é
uma vida de egoísta que não nos pede consentir dar um passo no caminho do futuro.
Se todos os homens que pensam como vós e eu, e ... muitos
encontrareis, espero-os por honra da humanidade, pudessem entender-se,
reunir-se, agir de acordo, que potência não teriam para ativar essa regeneração
que nos é enumerada? Quando for a Paris terei a honra de vos procurar, e se não
fosse abusar do vosso tempo, pedir-vos-ia alguns desenvolvimentos sobre certas passagens
e alguns conselhos sobre a aplicação das leis morais e circunstâncias que me são
pessoais.
Recebei a expressão de todo o meu reconhecimento, porque
me proporcionastes um grande bem, mostrando-me o caminho da única felicidade real
neste mundo e talvez venha a vos dever, além disso, melhor lugar em outro.
Vosso muito devotado,
D... capitão aposentado
Lyon, 6 de julho de 1857.
Desejaria, senhor, ser-vos útil; não passo de um pobre
filho do povo que alcançou uma pequena posição pelo trabalho mas a quem falta
instrução, tendo sido obrigado ao trabalho
muito moço; entretanto, sempre amei a Deus e tenho feito tudo quanto podido por
ser útil a meus semelhantes: é por isso que procuro tudo quanto pode ser útil à
felicidade de meus semelhantes: Muitos adeptos que estão esparsos vamos nos
reunir e faremos todos os esforços para secundar-vos: levantastes o estandarte,
temos o temos p dever de seguir-vos: contamos com o vosso apoio e os vossos
conselhos.
Seu muito devotado.
C
...
A. Pezzani à Allan Kardec
Sustento sempre a causa espiritual, embora doente e oprimido por este tempo de nevoeiro. Espero reunir alguns irmãos espero também que A Verdade continuará a aparecer com denominação diferente: Jornal do Espiritismo Independente, título proposto pela unanimidade dos espíritos lioneses, exceto vosso dedicado servo.
Que significaria esse título?
Que existe um espiritismo autoritário e dependente, numa
teocracia entre nós, o que não é verdadeiro: para confirma-lo apelo para todas as
vossas obras que não cessam de preconizar o livre exame de consciência de cada um;
preferiria: Jornal do Espiritismo e do Livre Pensamento, combateria até o fim
pelo que creio ser a verdade e o bem.
O
que vos quero, porém, dizer, caro e digno mestre, é os votos ardentes que faço
por vós ao renovar-se este ano, por vossa saúde tão preciosa à causa e por vossa
constante prosperidade. Se não puderdes responder pessoalmente duas palavras,
pedi a vosso secretário que m’as escreva para me tranquilizar nesta época em que
os bons se retraem e desaparecem em um abrir e fechar d'olhos, como o testemunha
M. Didier.
Apresenta também a vossa digna companheira os meus mais
sinceros votos. Cuidai bem de vós, não saíeis nesses dias desastrosos. Vede bem
que um de nós que nada é, poderia desaparecer, sem que a causa com isso
sofresse, ao passo que seria isso diferente para convosco, o chefe superior.
Assim, peço do fundo do coração a Deus e aos bons Espíritos que vos conservem
em sua santa graça.
Crede em meu devotamento,
A. Pezzani (1)
(Extraído dos ‘Anais
Políticos e Literários’, Junho de 1885.)
O ‘Livro dos Espíritos’
entre os selvagens
Prezadíssimo Senhor Allan Kardec,
Frequento há muito mais de dez anos as populações
aborígenes que habitam a vertente oriental dos Andes, em terras da América, nos
confins do Peru. Vosso Livro dos Espíritos, que adquiri em uma viagem a Lima,
acompanha-me nestas solidões; dizer-vos que o li com avidez e que o leio sem
cessar, não vos de admirar; assim, não viria vos interromper por tão pouca
coisa, se não tivesse o desejo de obter de vós alguns conselhos que espero da
vossa bondade, não duvidando que os vossos sentimentos humanos não estejam de
acordo com os sublimes princípios de vosso livro.
Esses povos que chamamos selvagens, não o são tanto
quanto o julgamos geralmente; se se quer dizer que habitam cabanas em lugar de
palácios, que não conhecem nossas artes e nossas ciências, que ignoram as
práticas das pessoas civilizadas, são verdadeiros selvagens; mas quanto ao que
diz respeito à inteligência encontra-se entre eles ideias de uma justeza
maravilhosa, grande finura de observação e sentimentos nobres e elevados. Eles
compreendem com surpreendente facilidade e tem um espírito, sem comparação,
menos pesado que os camponeses da Europa. Desprezam o que lhes parece inútil em
relação à simplicidade suficiente ao seu gênero de vida. A tradição de sua
antiga independência é sempre vivaz neles e por essa razão tem invencível
aversão a seus conquistadores; mas embora odeiem a raça em geral, ligam-se aos
indivíduos que lhes inspiram absoluta confiança...
É a essa confiança que devo viver em sua intimidade e
quando estou no meio deles, estou em maior segurança do que em certas grandes
cidades. Quando os deixo, ficam tristes se não prometo voltar; quando volto
toda tribo está em festa.
Estas explicações eram necessárias pelo que se vai a
seguir. Eu vos disse que tinha comigo “O Livro dos Espíritos’. Tive um dia a
fantasia de lhes traduzir algumas passagens e fiquei muito surpreendido de ver
que eles o compreendiam melhor do que eu pensava, em virtude de certas
observações muito judiciosas que faziam. Eis aqui um exemplo:
A ideia de reviver na Terra lhes parece perfeitamente
normal e um deles me disse um dia: Depois que morremos, poderemos nascer entre
os brancos? – Certamente, respondi-lhes. – Então tu és talvez um de meus parentes?
É possível. É sem dúvida por isso que és bom para nós e que nós te amamos? É ainda
possível. Então, quando encontrarmos um branco, não lhe devemos querer mal, porque
talvez seja um de nossos irmãos.
Admirareis, sem dúvida, como eu, por essa conclusão de um
selvagem e o sentimento de fraternidade que lhe fez aparecer. De mais a ideia
dos Espíritos não é nova para eles: está em suas crenças, e eles estão
persuadidos de que se podem entreter com os seus parentes mortos e que estes
vem visitar os vivos. O ponto importante é que se pode tirar partido disso para
moraliza-los e não creio que seja coisa impossível, porque não possuem eles ainda
os vícios da nossa civilização. É esse o ponto em que tenho necessidade da
vossa experiência. É um erro, na minha opinião, que não se pode influenciar as pessoas
ignorantes senão falando-lhes aos sentidos; penso ao contrário que é
entretê-los em ideias estritas e desenvolver neles a superstição.
Creio que o raciocínio, quando se o sabe colocar ao
alcance das inteligências, tem sempre influencia mui duradoura.
À espera da resposta com a qual tereis a bondade de
favorecer-me, recebei etc.
Don Fernando Guerrero (Da Revue Spirite)
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