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sábado, 31 de outubro de 2020

Correspondência Póstuma de Allan Kardec - 1

 

Correspondência Póstuma de Allan Kardec - 1

Reformador (FEB) 16 Agosto 1917

                 Allan Kardec a Theophilo Gautier     

             Theophilo Gautier escreveu uma obra notável: “Espírita” cujo enredo é baseado evidentemente nas doutrinas espíritas.

            Nesse livro ele se faz intérprete da teoria do Espiritismo em uma espécie de romance espírita, como ele o chama. Supõe dois seres que se amaram: um deles nunca pode confessar esse sentimento enquanto vivo; uma vez morto seu espírito, por meio de reencarnações sucessivas, manifesta sentimentos que teve de calar durante sua vida mortal.

            Allan Kardec dirigiu a Theophilo Gautier a seguinte carta:

             Paris, 1º de junho de 1857.  

            Peço-vos que aceiteis a homenagem de um exemplar do “Livro dos Espíritos”, que acabo de publicar:  

            O ponto de vista novo, eminentemente sério e moral, sob o qual a doutrina dos  Espíritos é encarada, explica o interesse que ligo a essa questão, ao mesmo tempo de futuro e de atualidade e ao qual creio que não sois estranho.

            Notareis, sem esforço, o passo imenso que esta teoria deu desde as mesas girantes; não se trata mais, com efeito, hoje, de fenômenos de simples curiosidade, mas de um ensinamento completo dado pelos próprios Espíritos sobre todas as questões que interessam a humanidade e que eu elevo à altura das ciências filosóficas.

            A aprovação de um homem como vós, ser-me-ia infinitamente preciosa, se eu tivesse a felicidade de obtê-la.

            Peço-vos que vos digneis receber a expressão de minha mais alta consideração.

 Allan Kardec

Rue des Martyrs, 8

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Carta de Jules Favre

             Tive o desgosto de ficar retido ontem, em virtude de trabalhos que não podia adiar. Tive assim o desprazer de ficar privado da sessão a que me tínheis convidado. Espero ser mais feliz de outra vez e peço-vos aceiteis a expressão dos meus mais distintos sentimentos.

                                               11 de Novembro de 1858

                                         Jules Favre

             A personalidade de Jules Favre não podia passar despercebida: pareceu-nos necessário assinala-la aqui, a fim de provar que vários homens de valor se interessaram pelos trabalhos de Allan Kardec.

            A propósito do Livro dos Espíritos, cremos dever recordar aqui as duas primeiras cartas seguintes, já insertas no primeiro número da Revue Spirite, em 1858.

                         Senhor,  

                                                           Bordeaux, 25 de Abril de 1857

             Tende posto minha paciência em bem grande prova pelo retardamento da publicação do Livro dos Espíritos, anunciado desde tanto tempo; felizmente não perdi em esperar, porque ele ultrapassou todas as ideias que imaginara pelos prospectos. Pintar-vos o efeito que ele produziu em mim seria impossível; estou como um homem que saiu da obscuridade; parece-me que uma porta fechada até hoje acaba de ser subitamente aberta; minhas ideias engrandeceram em algumas horas! Oh! Quanto a humanidade e todas as suas miseráveis preocupações me parecem mesquinhas e pueris em face desse futuro, do qual eu não duvidava, mas que estava para mim tão obscurecido pelos prejuízos que apenas podia sonha-lo.

            Graças ao ensinamento dos Espíritos, ele se apresenta sob uma forma definida, assimilável mas grande, bela e em harmonia com a majestade do Criador.  

            Quem quer que seja a ler esse livro, como eu, meditando-o, nele encontrará tesouros inesgotáveis de consolações, porque ele abrange todas as fases da existência. Sofri em minha vida perda que me afetaram vivamente: hoje elas não me oferecem nenhum desgosto e toda minha preocupação é empregar utilmente meu tempo e minhas faculdades para apressar o meu adiantamento, porque o bem tem hoje um objetivo para mim e compreendo que uma vida inútil é uma vida de egoísta que não nos pede consentir dar um passo no caminho do futuro.

            Se todos os homens que pensam como vós e eu, e ... muitos encontrareis, espero-os por honra da humanidade, pudessem entender-se, reunir-se, agir de acordo, que potência não teriam para ativar essa regeneração que nos é enumerada? Quando for a Paris terei a honra de vos procurar, e se não fosse abusar do vosso tempo, pedir-vos-ia alguns desenvolvimentos sobre certas passagens e alguns conselhos sobre a aplicação das leis morais e circunstâncias que me são pessoais.

            Recebei a expressão de todo o meu reconhecimento, porque me proporcionastes um grande bem, mostrando-me o caminho da única felicidade real neste mundo e talvez venha a vos dever, além disso, melhor lugar em outro.

            Vosso muito devotado,

                                                                       D... capitão aposentado

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Lyon, 6 de julho de 1857.

             Senhor,

             Não sei como vos exprimir meu reconhecimento pela publicação do ‘Livro dos Espíritos’, que estou relendo. Como o que ensinais é consolador para a nossa própria humanidade! Confesso-vos que, por minha parte, sinto-me mais forte e mais corajoso para suportar as penas e as decepções ligadas à minha pobre existência. Tenho feito partilhar os meus amigos das convicções que tenho haurido na leitura de vossa obra. Eles se tem mostrados muito satisfeitos com isso, compreendem agora a desigualdades das posições na sociedade e não murmuram mais contra a Providência: a esperança de um futuro mais feliz,  se procederem bem, os consola e lhes dá coragem.  

            Desejaria, senhor, ser-vos útil; não passo de um pobre filho do povo que alcançou uma pequena posição pelo trabalho mas a quem falta instrução, tendo sido obrigado ao  trabalho muito moço; entretanto, sempre amei a Deus e tenho feito tudo quanto podido por ser útil a meus semelhantes: é por isso que procuro tudo quanto pode ser útil à felicidade de meus semelhantes: Muitos adeptos que estão esparsos vamos nos reunir e faremos todos os esforços para secundar-vos: levantastes o estandarte, temos o temos p dever de seguir-vos: contamos com o vosso apoio e os vossos conselhos.

            Seu muito devotado.

                                                                                  C ...

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A. Pezzani à Allan Kardec  

 Lyon, 27 de Dezembro de 1865

 Caro e augusto mestre,

             Sustento sempre a causa espiritual, embora doente e oprimido por este tempo de nevoeiro. Espero reunir alguns irmãos espero também que A Verdade continuará a aparecer com denominação diferente: Jornal do Espiritismo Independente, título proposto pela unanimidade dos espíritos lioneses, exceto vosso dedicado servo.

            Que significaria esse título?

            Que existe um espiritismo autoritário e dependente, numa teocracia entre nós, o que não é verdadeiro: para confirma-lo apelo para todas as vossas obras que não cessam de preconizar o livre exame de consciência de cada um; preferiria: Jornal do Espiritismo e do Livre Pensamento, combateria até o fim pelo que creio ser a verdade e o bem.

            O que vos quero, porém, dizer, caro e digno mestre, é os votos ardentes que faço por vós ao renovar-se este ano, por vossa saúde tão preciosa à causa e por vossa constante prosperidade. Se não puderdes responder pessoalmente duas palavras, pedi a vosso secretário que m’as escreva para me tranquilizar nesta época em que os bons se retraem e desaparecem em um abrir e fechar d'olhos, como o testemunha M. Didier.  

            Apresenta também a vossa digna companheira os meus mais sinceros votos. Cuidai bem de vós, não saíeis nesses dias desastrosos. Vede bem que um de nós que nada é, poderia desaparecer, sem que a causa com isso sofresse, ao passo que seria isso diferente para convosco, o chefe superior. Assim, peço do fundo do coração a Deus e aos bons Espíritos que vos conservem em sua santa graça.

            Crede em meu devotamento,

                                                                                  A. Pezzani (1)  

                 (1) André Pezzani, advogado em Lyon, foi um dos mais vigorosos lutadores de que se pode orgulhar o Espiritismo; é o autor do livro “A Pluralidade das Existências da Alma”.

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 Pensamento de Victor Hugo sobre a Vida Futura

             “A borboleta é a lagarta metamorfoseada. Tanto é a lagarta, que, pela análise, vamos encontrar uma parte do ser rasteiro no alado animal; mas a metamorfose é tão completa que se julga ver uma nova criatura. Assim, em nossa existência de além túmulo, não seremos puros espíritos, porque isso é um termo vazio de sentido tanto para a razão quanto para a imaginação. Que é uma vida sem órgãos da vida? Que é uma personalidade sem a forma que a define e que a fixa? Mas teremos verosimilhantemente um outro corpo irradiante, divino e por assim dizer espiritual, que será a transformação do nosso corpo terrestre.”

            (Extraído dos ‘Anais Políticos e Literários’, Junho de 1885.)  

             Carta publicada na Revue Spirite de 1859.

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O ‘Livro dos Espíritos’ entre os selvagens

             Prezadíssimo Senhor Allan Kardec,

             Desculpa-me por não vos escrever em francês, compreendo essa língua pela leitura, mas não posso escreve-la correta e inteligentemente.  

            Frequento há muito mais de dez anos as populações aborígenes que habitam a vertente oriental dos Andes, em terras da América, nos confins do Peru. Vosso Livro dos Espíritos, que adquiri em uma viagem a Lima, acompanha-me nestas solidões; dizer-vos que o li com avidez e que o leio sem cessar, não vos de admirar; assim, não viria vos interromper por tão pouca coisa, se não tivesse o desejo de obter de vós alguns conselhos que espero da vossa bondade, não duvidando que os vossos sentimentos humanos não estejam de acordo com os sublimes princípios de vosso livro.

            Esses povos que chamamos selvagens, não o são tanto quanto o julgamos geralmente; se se quer dizer que habitam cabanas em lugar de palácios, que não conhecem nossas artes e nossas ciências, que ignoram as práticas das pessoas civilizadas, são verdadeiros selvagens; mas quanto ao que diz respeito à inteligência encontra-se entre eles ideias de uma justeza maravilhosa, grande finura de observação e sentimentos nobres e elevados. Eles compreendem com surpreendente facilidade e tem um espírito, sem comparação, menos pesado que os camponeses da Europa. Desprezam o que lhes parece inútil em relação à simplicidade suficiente ao seu gênero de vida. A tradição de sua antiga independência é sempre vivaz neles e por essa razão tem invencível aversão a seus conquistadores; mas embora odeiem a raça em geral, ligam-se aos indivíduos que lhes inspiram absoluta confiança...

            É a essa confiança que devo viver em sua intimidade e quando estou no meio deles, estou em maior segurança do que em certas grandes cidades. Quando os deixo, ficam tristes se não prometo voltar; quando volto toda tribo está em festa.

            Estas explicações eram necessárias pelo que se vai a seguir. Eu vos disse que tinha comigo “O Livro dos Espíritos’. Tive um dia a fantasia de lhes traduzir algumas passagens e fiquei muito surpreendido de ver que eles o compreendiam melhor do que eu pensava, em virtude de certas observações muito judiciosas que faziam. Eis aqui um exemplo:

            A ideia de reviver na Terra lhes parece perfeitamente normal e um deles me disse um dia: Depois que morremos, poderemos nascer entre os brancos? – Certamente, respondi-lhes. – Então tu és talvez um de meus parentes? É possível. É sem dúvida por isso que és bom para nós e que nós te amamos? É ainda possível. Então, quando encontrarmos um branco, não lhe devemos querer mal, porque talvez seja um de nossos irmãos.  

            Admirareis, sem dúvida, como eu, por essa conclusão de um selvagem e o sentimento de fraternidade que lhe fez aparecer. De mais a ideia dos Espíritos não é nova para eles: está em suas crenças, e eles estão persuadidos de que se podem entreter com os seus parentes mortos e que estes vem visitar os vivos. O ponto importante é que se pode tirar partido disso para moraliza-los e não creio que seja coisa impossível, porque não possuem eles ainda os vícios da nossa civilização. É esse o ponto em que tenho necessidade da vossa experiência. É um erro, na minha opinião, que não se pode influenciar as pessoas ignorantes senão falando-lhes aos sentidos; penso ao contrário que é entretê-los em ideias estritas e desenvolver neles a superstição.

            Creio que o raciocínio, quando se o sabe colocar ao alcance das inteligências, tem sempre influencia mui duradoura.

            À espera da resposta com a qual tereis a bondade de favorecer-me, recebei etc.

                         Don Fernando Guerrero (Da Revue Spirite)  


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