O problema do Mal
por Rodolfo Caligaris Reformador (FEB) Janeiro
1966
Desde as mais priscas eras o homem tem observado que, a
par das boas coisas que tornam a vida deleitável, outras existem ou acontecem
que são o reverso da medalha, isto é, só causam aflições, dores e prejuízos.
Foi, por isso, induzido a crer seja o governo do mundo
partilhado por duas potestades rivais: - Deus, fonte do Bem, e Satanás, agente
do Mal.
Essa crença nos dois princípios antagônicos em luta pela
hegemonia foi e contínua sendo a base das doutrinas religiosas de todos os
povos.
Entre estes, a ideia de que uns se salvam e outros se
perdem para todo o sempre é geral, havendo até quem afirme que o número dos perdidos
é muito maior do que a cifra dos bem-aventurados.
Quer isso dizer que o Mal seria mais forte que o Bem, e
que Satanás estaria conseguindo derrotar a Deus, frustrando lhe os desígnios de
salvação universal.
Em que pese à ancianidade de tais conceitos, são falsos e
insustentáveis, diríamos mesmo heréticos.
Com efeito, admitir o triunfo do Maligno, a dano da
Humanidade, é o mesmo que negar ao Pai Celestial os atributos da onisciência e
da onipotência, sem os quais não poderia ser verdadeiramente Deus.
O Espiritismo, que é o Paracleto anunciado pelo Cristo,
contrariando os ensinos da Teologia tradicional, esclarece-nos que o Bem é a
única realidade eterna e absoluta em todo o Universo, sendo o mal apenas um
estado transitório, tanto no plano físico, como no campo social e na esfera
espiritual.
Para que se compreenda isto, é preciso, entretanto,
considerar, não as consequências imediatas de tudo quanto observamos, mas sim os
seus efeitos mediatos, futuros, porque só estes, ao longo dos anos, dos séculos
ou dos milênios, é que farão ressaltar, nitidamente, a infalibilidade da
Providência Divina frente aos destinos da Criação.
Certos fenômenos geológicos, por exemplo, podem ter sido
considerados catastróficos à época em que se deram; foram eles, porém, que compuseram
os continentes e formaram os oceanos, emprestando-lhes os aspectos maravilhosos
que hoje nos extasiam, provocando-nos arroubos de admiração.
Muitas guerras internacionais e outras tantas revoluções
intestinas, embora se constituam, como de fato se constituem, dolorosos
flagelos para as gerações que nelas são envolvidas, dão ensejo, por seu turno,
à queda de tiranos e opressores, à extinção de preconceitos e privilégios
iníquos, à mudança de costumes arcaicos, ao progresso teológico e quejandos,
resultando daí, em favor dos pósteros (que seremos nós mesmos, em novas
reencarnações) a melhoria das instituições, maior liberdade de pensamento e de
expressão, uma justiça mais perfeita, maior conforto nos sistemas de transporte,
de comunicações, nos lares, etc.
Quando não, é por meio delas que os maus se castigam
reciprocamente, consoante o ensinamento: “quem com ferro fere com ferro será ferido”.
Um dia, ainda que longínquo, cansadas de sofrer o choque de retorno de suas
crueldades, ditadas pelo egoísmo, pelo orgulho e outros sentimentos que tais,
as nações aprenderão a valorizar a paz, buscando-a, então, sincera e veementemente,
através da fraternidade e do solidarismo cristão.
Assim também acontece com nossas almas.
Criadas simples e ignorantes, mas dotadas de a1ptidões
para o desenvolvimento de todas as virtudes e a aquisição de toda a sabedoria,
hão mister de, vida pós vida, neste orbe e em outros, passar por um processo de
burilamento que muito as fará sofrer.
É a Juta pela subsistência. São as enfermidades. As
insatisfações. Os conflitos emocionais. Os desenganos. As imperfeições próprias
e daqueles com os quais convivemos. Enfim, as mil e uma vicissitudes da
existência.
Nesse autêntico entrevero, usando e abusando do livre
arbítrio, cada qual vai colhendo vitórias ou amargando derrotas, segundo o grau
de experiência conquistada. Uns riem hoje, para chorarem amanhã, e outros que
agora se exaltam, serão humilhados depois.
Tudo, porém, concorre para enriquecer nossa sensibilidade,
aprimorar nosso caráter, fazer que se nos desabrochem novas faculdades, o que vale
dizer, se dilatem nossos gozos e aumente nossa felicidade.
Bendito seja, pois, o Espiritismo, pela revelação dessa
verdade, à luz da qual se nos patenteia, esplendorosamente, a Bondade infinita de
Deus!
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