O homem
constrói seu destino
Boanerges da Rocha (Indalício Mendes) Reformador (FEB) Abril 1963
Ninguém pode viver segregado de seus semelhantes sem animalizar-se.
O homem é animal gregário por excelência e tem de solidarizar-se com os outros
homens, se pretender sobreviver.
O Espiritismo ensina-nos a procurar a convívio social,
ensina-nos a participar dos problemas cotidianos da vida humana, relacionados
também com a existência dos outros seres. O homem tem de ser solidário com tudo
quanto o cerca, seja o seu semelhante, sejam os animais, sejam os componentes
do reino vegetal. Seu destino é viver num ambiente de absoluta solidariedade,
de maneira a poder encarar e resolver, sempre que possa, os problemas que
defrontar.
Quando o Espiritismo aconselha a humildade, não está
pretendendo seja o homem servil instrumento de outros homens. A humildade é digna,
discreta, mas vigilante . É a atitude de quem não se enfeita com os ouropéis do
orgulho tolo. O servilismo, pelo contrário, é uma falsa humildade e representa
a renúncia do homem à sua própria dignidade. Ele desmerece a pessoa humana, por
identificá-la com a ausência do mínimo de respeito a nós mesmos, respeito que devemos
preservar.
Ao pregar a resignação, o Espiritismo tem em mira
fortalecer o espirito humano, não o deixando escravizar-se ao desespero e ao
desalento. Mas, assim mesmo, só recomenda a resignação em face do irremediável,
porque o homem deve sempre usar da sua vontade para sobrepujar o desânimo. O
Espiritismo é uma religião dinâmica, nunca, porém, uma religião de vencidos, de
mortos em vida. Receba em seu seio os vencidos para que eles, seguindo sua
Doutrina, possam, um dia, tornar-se vencedores. Mas, para isto, todos têm de
vencer primeiramente a si mesmos. Ninguém pode vencer espiriticamente, na vida
terrena, sem primeiro vencer-se a si mesmo.
Para muitos, triunfar na vida é enriquecer, alcançar
destacada e folgada posição social e econômica, ser, enfim, criatura abastada.
Para o Espiritismo o vencer na vida terrena é, fundamentalmente, adquirir
pureza de sentimentos, fortaleza de coração, profundo e prático espírito de
solidariedade, exercendo a filantropia sem arrogância nem vaidade, fazendo da
legítima modéstia a pauta do comportamento diário.
O Espiritismo jamais ensinou ou ensinará, a quem quer que
seja o tomar-se inútil, servil e apático diante do insucesso e do infortúnio. O
espírita tem de ser uma criatura de coragem, de ânimo forte, sempre pronta a
lutar com denodo contra as surpresas desagradáveis que às vezes a vida
apresenta, Ceder diante de qualquer acontecimento decepcionante, quando ainda há
possibilidade de superá-lo, não é ser espírita, mas covarde.
Qualquer um de nós deve reagir e lutar corajosamente, com
elevação, contra o que quer que seja suscetível de afetar a nossa segurança, a
nossa sobrevivência e bem-estar, desde que não lesemos os interesses de ninguém
nem causarmos mal a quem nos obstaculize o caminho.
Ninguém deve ferir direitos alheios, mas todos têm
obrigação normal de defender os seus, com lisura, sem perder de vista,
portanto, os deveres de lealdade, indulgência, caridade e amor ao próximo. Há
ocasiões em que seremos mais felizes renunciando a direitos líquidos do que, para
defendê-los, termos de tripudiar sobre alguém. Antes de todos os deveres,
porém, estão os de salvaguardar o lar e a família, a subsistência dos filhos e
a garantia de que eles precisam, para poderem usufruir uma vida decente, escrupulosa.
e calma, subordinada a regras convenientes.
Não é tão fácil ser espírita, como muitos supõem. As
responsabilidades são maiores, bem maiores. O espírita tem de ser bem-humorado sem
se tornar ridiculamente apalhaçado; jovial, confiante, corajoso, dotado de
iniciativa, prestativo, pertinaz e, sobretudo, discreto. A esperança e a
confiança devem ser seus escudos para que suporte galhardamente os entrechoques
da existência terrena. Desde que conheça a razão de ser da sua presença no mundo
terráqueo; se sabe porque nele se encontra e o que o aguarda na vida de
Além-Túmulo, tem já o suficiente para confiar em si mesmo, para encorajar-se e encorajar
os seus semelhantes. Não se apavora com a morte, que é uma destinação biológica
de que não se livrará nenhum ser vivente.
Diante de tudo isso, não desconhece que o seu futuro
espiritual depende principalmente do que pensar e fizer. O homem é quase sempre
o obreiro do seu próprio destino. Constrói, hoje, a vida de amanhã.
Se não somos felizes nesta encarnação, podemos atribuir o
fato à herança do passado e também, muitas vezes, ao procedimento que adotamos
na vida presente. Ninguém sofre por erros alheios, mas todos respondem pelas
próprias faltas na encarnação atual ou em futuras encarnações, conforme a
espessura e o volume do seu carma.
Em vez de, após a morte, termos como prêmio certo o
suposto Paraíso, só por nos confessarmos a sacerdotes ou fazermos parte de irmandades,
ou, ainda, por haver adquirido a bom preço certas “indulgências”, espécie de
salvo--conduto para a bem-aventurança eterna, de entrada numerada para o
Paraíso, - em vez disso, teremos de lutar pelo nosso próprio destino. Em nós
estará ter um futuro espiritual elevado ou inferior, de luzes ou de trevas,
pois a misericórdia e a onisciência da Inteligência Suprema nos oferece a possibilidade
de realizarmos itinerário compatível com o nosso mérito ou demérito. Estamos,
como tudo no Universo, sujeitos a um determinismo evolucionista. Nada de
prêmios e castigos eternos.
O Espírito encarnado ou não, é senhor da sua própria
sorte. Ninguém pode, normalmente, alterar o seu rumo, porque este depende da
sua própria conduta. Como ninguém pode fugir à lei do progresso, que é
imperativa e fatal, conclui-se que tudo quanto somos devemos exclusivamente a
nós mesmos. As encarnações se encarregam de quebrar teimosias e resistências maléficas,
para que se colime o ideal de perfeição que coroa todas as obras da Suprema Inteligência.
Excelente!
ResponderExcluirSem dúvida que o Indalício Mendes foi um dos mais inspirados escritores espíritas de todos os tempos. A equipe já conseguiu juntar mais de 400 de seus textos aqui no blog. Temos uns 150 a caminho. Fique com Deus.
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