A
imanência cristã do Espiritismo
por Indalício Mendes
Reformador (FEB) Junho
1966
Evidentemente, o Espiritismo kardequiano é e sempre foi
cristão, o que é fácil verificar, porquanto, já em “O Livro dos Espíritos”, aparecido em 1857, 1ª edição, lia-se, na: “'Introdução”':
“A moral dos Espíritos superiores se
resume, como a do Cristo, nesta máxima evangélica: Fazer aos outros o que
quereríamos que os outros nos fizessem, isto é, fazer o bem e não o mal.”
Ora, só o ato de mencionar o Cristo e a máxima evangélica seria suficiente para
identificar a natureza lidimamente cristã do Espiritismo.
Todavia, nele há comunicações subscritas por eminentes
Espíritos que, na Terra, foram expoentes do Cristianismo, como se poderá ler no
final de "Prolegômenos", no capítulo que trata “Das penas e gozos futuros”, terminando desta maneira essa obra
magistral: “Por bem largo tempo os homens têm estraçalhado e anatematizado mutuamente
em nome de um Deus de paz e misericórdia ofendendo-o com semelhante sacrilégio.
O Espiritismo é o laço que um dia os unirá, porque lhes mostrará onde está a verdade,
onde o erro. Durante muito tempo, porém, ainda
haverá escribas e fariseus que o negarão, como negaram o Cristo. Quereis
saber sob a Influência de que Espíritos estão as diversas seitas que entre si
fizeram partilha do mundo? Julgai-o pelas suas obras e pelos seus princípios. Jamais
os bons Espíritos foram os instigadores do mal; jamais aconselharam ou
legitimaram os ódios dos partidos nem a sede das riquezas e das honras, nem a
avidez dos bens da Terra. Os que são bons, humanitários e benevolentes para com
todos, esses os seus prediletos e prediletos de Jesus, porque seguem a estrada
que este lhes indicou para chegarem até ele.”
Sabem quem deu tão preciosos conselhos? O Espírito daquele
que, na Terra, foi chamado “Santo Agostinho”. Uma vez liberto dos liames da
carne, conheceu a verdade integral na Espiritualidade e veio dar testemunho
valioso da importância do Espiritismo.
Mas as obras codificadas por Allan Kardec continuaram a
afirmar a imanência cristã do Espiritismo. Em “O Livro dos Médiuns” o espírito verdadeiramente cristão está presente
em suas páginas, inclusive também no capítulo das “Dissertações Espíritas”. Isto,
desde a primeira edição dessa obra, em 1861. Corroborando a sua natureza
eminentemente cristã, surgiu, em 1864, “O Evangelho segundo o Espiritismo”,
todo ele dedicado à interpretação dos textos evangélicos, desprezando fantasias
e alegorias inúteis, afastando o véu da letra e pondo a descoberto o espírito
oculto nas palavras do Cristo.
Nem precisaria mais nada para comprovar que o Espiritismo
é cristão, muito mal cristão que certos credos que cada vez mais se afastam de
Jesus, apesar de se inculcarem seus intérpretes, dizendo-se seus fiéis
seguidores. Dizem, mas não sentem o que dizem. São cristãos dos lábios para
fora e seus atos geralmente negam as palavras que proferem. Não estamos fazendo
acusações, porque a História e os fatos mais corriqueiros da vida diária ai
estão para confirmar nossas afirmativas.
Sendo o Espiritismo realmente do Cristo, claro que tudo
quanto promana de suas fontes puras é cristão. Prova-o outro livro – “O Céu e o
Inferno”, também subscrito por Allan Kardec, aparecido pela primeira vez em
1865, no qual estuda a questão das penas e recompensas futuras, explica o que é
céu e inferno, sem a encenação terrível que durante séculos, trouxe a Humanidade
sob o látego do terror e a lançou nas garras da superstição e da intolerância.
Esse livro tem como subtítulo “A justiça divina segundo o Espiritismo”. Nele se
revela que a justiça de Deus não é esse amontoado de iniquidades e incoerências
que religiões ditas tradicionais impingiram à Humanidade, dominando-a pelo
medo, pela ignorância e pela força, em vez de a atrair e instruir pela
explanação simples e clara das leis divinas e pelo amor que deve ser o ponto de
partida e o fim de tudo quanto se relaciona com o homem e a vida humana.
Todavia, não estava ainda finda a exemplificação dos
Espíritos através de Allan Kardec, quanto à realidade cristã do Espiritismo.
Por isso, em 1868, era dada à luz da publicidade a primeira edição de “A Gênese – os milagres a as predições
segundo o Espiritismo”. O trigo dourado da verdade foi também debulhado
cuidadosamente nesse livro, que derrubou definitivamente ideias absurdas e
errôneas, predominantes no mundo religioso. O capítulo referente ao “Caráter da
revelação espírita” está este magnífico trecho: “o que caracteriza a revelação espírita é o ser divina a sua origem e da
iniciativa dos Espíritos, sendo a sua elaboração fruto do trabalho do homem.”
É obra interessantíssima e de inavaliáveI utilidade, principalmente para quem
deseja ampliar seus conhecimentos a a respeito da religião. O
mesmo valor tem o livro “Obras Póstumas”,
aparecido em 1890, assim como a “Revue Spirite”
que Kardec fundou e onde desenvolvia comentários pertinentes ao Espiritismo,
fixando pontos antes duvidosos de religiões e seitas pseudo-cristãs, mostrando
a simplicidade e a grandeza doutrinária do Espiritismo, iríamos longe, muito
longe, sem pormos de lado as obras e os artigos que Kardec subscreveu. Citaríamos
ainda, se indispensável, a vastíssima fileira de obras espíritas, de Emmanuel, André
Luiz, etc., etc., etc.
Podemos, ainda, ressaltar o papel desta Revista no
ingente trabalho de propaganda, pregação evangélica e difusão doutrinária, e que
tem como lema esta trilogia da Federação Espírita Brasileira; “Deus Cristo e
Caridade”, sendo apresentada como órgão religioso "de Espiritismo
Cristão".
Demonstramos, parece-nos, a origem e a imanência cristã
do Espiritismo, através das obras da codificação kardequiana. O assunto,
pormenorizado, daria grosso volume, porque, então, poderíamos juntar exemplos
sobre exemplos, citações inúmeras, salientar o trabalho de assistência
espiritual e material realizado por espíritas e instituições espíritas,
trabalho todo ele orientado segundo as diretrizes evangélicas. O mestre Allan
Kardec se referiu com firmeza a “espírita
cristão” e a “Espiritismo Cristão”, mas coube justamente ao seu
insigne seguidor - J. B. Roustaing - apresentar, na monumental obra "Os Quatro Evangelhos", que está
fazendo agora cem anos, a expressão “Cristão
Espírita”.
Não se trata, porém de criação humana, conforme se poderá
verificar do trecho que vamos transcrever abaixo, com a comunicação subscrita
por “Isabel”, na qual é evidente ter vindo
de Jesus tal expressão, recentemente lançada no Brasil.
No segundo tomo de “Os
Quatro Evangelhos”, edição de 1954 da Federação Espírita Brasileira, às páginas 69
e 70, comentar sobre os Cap. VII, v. 21-29, de Mateus, e Cap. VI, v. 46-49, de Lucas – “Deus julga pelas obras”, lemos:
“Nem todos os que
dizem: Senhor, Senhor, entrarão no reino de Deus. As palavras morrem no espaço
sem chegar ao Senhor quando não têm por apoio os atos. Portanto, praticai
sempre o que ensinais, o que admirais, o que louvais. Não bastará que admireis
a lei de Jesus, que digais: ela é perfeita, se nada fizerdes por cumpri-la e
por vos aperfeiçoardes. Não vos bastará dizer: somos cristãos, se obrardes
contra a vontade do Cristo. Não vos bastará declarar: somos espíritas, se continuardes
a ser o que éreis antes. Não bastará declareis:
somos médiuns e usamos das nossas diversas faculdades mediúnicas, se não praticardes
os ensinamentos recebidos, se não puserdes cordial e intencionalmente essas
faculdades ao serviço da casa de Deus, do melhoramento moral dos vossos irmãos,
dando-lhes o exemplo dos esforços constantes e porfiados que empregais por vos
melhorardes pessoalmente, se não vos utilizardes com humildade e desinteresse dessas mesmas faculdades para o fim exclusivo
de fazer propaganda séria, útil, eficaz, da lei de Jesus e da sublime doutrina
dos Espíritos do Senhor que, despojando da letra o Espírito, vem explicar essa
lei, fazê-la compreensível, amada, praticada, preparando o cumprimento das
promessas do Mestre.
“Hoje, e sobretudo
a vós, espíritas, a prática é necessária.
“Quem quer que haja
enveredado por esse caminho fique certo de que não mais pode deter-se, de que
não mais deve desviar-se, porquanto muito lhe tendo sido dado, muito lhe será
pedido. Não terá desculpa. Não o protege mais o véu da ignorância, pois que a
luz o rasgou. Tão pouco lhe servirá de escusa a sua fria indiferença. Dele se
aproximou a caridade para aquecê-lo. Se o coração se lhe conserva enregelado é
porque o quer.
“Ao espírita muito
será reclamado. Que ele, portanto, se prepare para prestar contas exatas do que
lhe foi confiado.
“No momento em que
estas palavras acabavam de ser escritas, o médium, colocado espontaneamente sob
nova influência medianímica, escreveu, com uma grafia diferente e magistral, o
seguinte:
“Não basta se diga
que certa moral é sublime; cumpre seja posta em prática. Não basta ser-se cristão e mesmo cristão-espírita, se se não
pratica a moral por mim ensinada (1), Assim, pois, que os que querem entrar no
reino de meu pai sejam seus filhos pelo coração e não pelos lábios, obedeçam
com submissão, zelo e confiança às instruções que recebem e recebam hoje dos
Espíritos enviados, de acordo com as minhas promessas, para ensinarem progressivamente
aos homens todas as coisas, para conduzi-los à verdade e lembrar-lhes o que eu
lhes disse.
“Que digam: Senhor,
Senhor! mas que o digam do fundo de seus corações; que seus atos correspondam às suas palavras e o reino dos céus lhes
pertencerá.
Por aquele cuja mão
protetora sustenta os humildes e os fracos e humilha os orgulhosos e poderosos.
ISABEL.”
Depois,
também de modo espontâneo, o médium escreveu mediunicamente, e em caracteres
idênticos aos com que fora traçado o ensinamento que acabava de ser recebido,
esta última comunicação:
“Bendizei ao Senhor a graça que vos fez e pedi-lhe, de coração, o apoio daquele que se manifestou hoje
por intermédio do seu enviado. Perseverai no caminho que trilhais, tende
confiança e fé, mas fé séria, e o Senhor estenderá suas mãos por sobre vós,
para afastar os obstáculos que vos pudessem deter.” João, Mateus e Lucas.
Nada devemos dizer depois do que acabamos de reproduzir.
Os que tiverem coração de sentir, sentirão no recesso da sua alma as repercussões
singulares de tão belas, profundas e significativas comunicações vindas de MAIS
ALTO.
(1 ) Ver J. B. Roustaing – “Révelation de la Révelation”
Les Quatre Evangiles – 1er vol. - 1866 - Page 386: "...il ne suffit pas de
dire qu'une morale est sublime, il faut la mettre pratique; il ne suffit pas
d'être Chrétien et même christo-spirite, si l’on ne pratique pas le morale
enseigné par moi.”
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