“Alunos”
rebeldes
Túlio Tupinambá (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Agosto
1958
Entre os benefícios que o Espiritismo vem prestando à
Humanidade, há também os que contribuem para ajudar religiões anestesiadas por
absurdos dogmas ou entorpecidas por tradições ronceiras (que se negam a evoluir), sempre nocivas aos povos por lhes impor a fé naquilo que não compreendem,
mas que aceitam em virtude de não lhes permitirem a liberdade de discernir. O
Espiritismo e os espíritas têm sido vítimas de implacável perseguição do
Catolicismo que, apresentando sempre a imagem do Cristo, nem sempre se lembra
de apresentar, concomitantemente, o sentimento de tolerância inseparável da
verdadeira doutrina de Jesus. Não obstante isso, os espíritas continuam ajudando
o Catolicismo a se repor nas andas que lhe dão a sensação de invulgar prestígio
no mundo de hoje.
Sempre os espíritas demonstraram a inconveniência das missas
em latim, porque os adeptos do Catolicismo acompanhavam o terço sem saber
porquê. Um belo dia, surgiu a notícia de que as missas seriam, salvo um ou outro
caso, em português, isto é, na língua vernácula. Em junho último, segundo lemos
no vespertino carioca ‘O Globo’, do dia 23, frei Hildebrando P. Martins, O.S.B.,
nesta frase que deve ter causado inveja ao pendor sensacionalista de muito
apurado técnico de publicidade – “a mais recente novidade para o Brasil, no
domínio espiritual” – anunciou que, de acordo com o novo ritual bilíngue, serão
ditos em português, daqui por diante, os sacramentos do batismo, da
extrema-unção (exceto a oração) e do matrimônio (exceto o “Ego Conjugo” e a
bênção das alianças). E isto, acrescentou, para
maior compreensão e aumento de piedade do nosso povo.
Como se vê, nós, os “demônios”, continuamos a ser úteis à
igreja, abrindo-lhe os olhos. Há pouco tempo, ela decidiu que, em vez de “Padre
Nosso”, seja dito nas igrejas e nos ambientes católicos, “Pai Nosso”, consoante
antiquíssima prática espírita. Portanto, como já dissera Pangloss, “tudo vai
bem, como nos melhores mundos possíveis”. O Espiritismo vai realizando, sem
alarde, sem pretensão, sua obra de reforma, educação e esclarecimento do mundo.
E o Catolicismo tem-se beneficiado dessa obra, procurando também reformar-se...
Uma outra notícia de “0 Globo” de 20 de Março, telegrama
dessa data, da U.P. apresenta título curioso: “O alto clero cubano não consegue
harmonizar seus pontos de vista.”
E no corpo do telegrama lê-se o seguinte: A Igreja Católica,
única força que ainda pode apresentar uma fórmula que evite a continuação da luta
fratricida, não definiu sua atitude
depois de pedir um Governo de unidade nacional e após ter fracassado a gestão de sua missão conciliadora. A Igreja Católica, o
episcopado cubano, toma suas decisões por acordo unânime de cinco bispos e o
cardeal Manuel Arteaga. O certo é que alguns
bispos tendem a identificar-se com a oposição,
outros com o Governo e alguns preferem que a Igreja mantenha uma atitude de neutralidade.
Assim, não existe acordo.” Todos os grifos são nossos.
Ninguém se entende no alto clero cubano. Isso é velho. Naturalmente, consoante uma praxe
tradicional da Igreja, seu clero se divide de caso pensado, porque, assim,
estará sempre com o grupo vencedor. O essencial é poder ficar de mãos dadas com
o poder dominante. Sempre foi assim e naturalmente continuará sendo assim . Basta
correr os olhos pela História e recordar um pouco o passado.
Evidentemente, essa atitude não se coaduna com as lições
do Cristo e também não está de acordo com o que ensina o Espiritismo, que é o
Cristianismo redivivo. Acontece, porém, que no mesmo mês de Março deste ano publicou
ainda “0 Globo”, do Rio, um telegrama de São Paulo, datado do dia 20, com este
título saborosamente cinematográfico, que honra o “sense of humour” do redator
respectivo: “Padre e prefeito entraram em luta com C. Camilo Peppone”. Como a
nota anteriormente mencionada, essa também em três colunas. Como não temos
muito espaço, transcreveremos somente o seguinte: “Por interferência do Juiz de
Direito da Comarca, Sr. Renato Torres, estabeleceu-se uma trégua na luta, pela
imprensa e através do púlpito, que vinham travando, há tempos, o Prefeito Jaime
Regalo Pereira e o Padre José Canônico, da cidade de Descalvado, no interior do
Estado. Como noticiamos, a população local dividiu-se, acompanhando vivamente
interessada o desenrolar dos debates, quando ataques cerrados e, por vezes, contundentes
foram feitos pelo prefeito ao pároco, principalmente depois do tríduo carnavalesco,
durante o qual, com autorização do Vigário, foram realizados bailes na Casa Paroquial.”
Os grifos continuam sendo nossos.
A confusão vem de longe e irá longe. Como se poderia
esperar que um padre, principalmente sendo “canônico”, mandasse realizar bailes
carnavalescos na Casa, Paroquial? Se isso não fosse publicado por um jornal
autorizado e respeitável, como “O Globo”, francamente, não acreditaríamos. Enfim,
s padres precisam ler mais um pouco do que publica o Espiritismo. É para seu
bem que o dizemos...
Tenhamos esperança, porém. As coisas já estiveram piores.
Nem todos os alunos apresentam o mesmo índice
de elevado aproveitamento do que se lhe ensina. É preciso, porém, ter paciência
e, sobretudo, pertinácia. E da edificante comunicação que o luminoso Espírito de
Emmanuel transmitiu Francisco Cândido Xavier, sob o título “Educação”,
recordemos aqui esta frase: “O Espiritismo, sobretudo, é obra de educação.”
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