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segunda-feira, 27 de abril de 2020

Espiritismo e Mediunidade



Espiritismo e Mediunidade
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Março 1958

            Nas relações do mundo visível com o invisível, torna-se imperioso não perder de vista o papel importantíssimo da mediunidade, elo que liga os dois mundos, permitindo se estabeleça valioso intercâmbio para o desenvolvimento moral e espiritual de encarnados e desencarnados.

            Doutrinas espiritualistas e pseudo-espiritualistas não faltam ao homem da Terra. O Espiritismo, porém, não fantasia nem se engrandece à custa de liturgias misteriosas e enigmáticas, como também não se oculta por detrás de dogmas absurdos. Irracionais e intolerantes. Nossa Doutrina está natural e perfeitamente integrada no pensamento do Cristo. Não sugestiona o homem com afirmativas confusas e paradoxais. Não ensina que homem foi redimido por Jesus, porque todos sabemos que os fatos demonstram ainda se encontrar a Humanidade a caminho da redenção, e que Jesus, tal como está no Evangelho, deixou claros os meios de que o homem precisa para alcançar essa redenção, reeducando-se, aprimorando suas qualidades morais, purificando seus sentimentos, combatendo primeiro suas próprias inferioridades, antes de pretender fazê-lo às de seus semelhantes. Limitemo-nos ao “Sermão da Montanha” e veremos que ali está um admirável código de moral capaz de disciplinar o homem, preparando-o para a salvação, através do trabalho, que não é castigo, mas que é bênção. O Espiritismo ensina que se torna necessário o progresso moral do indivíduo, para que este possa influir na coletividade a que pertence, estimulando-a, levando-a a progredir incessantemente. As dores do mundo irão diminuindo à medida que a Humanidade for evolvendo moralmente. Não ensina o  Espiritismo fique o homem inativo, à espera de milagres que o absolvam dos erros cometidos. Assim, como não há penas eternas, assim também todos estamos subordinados à lei do progresso.

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            O único milagre admissível está na reforma individual. O homem terá que derrotar seus instintos inferiores e dominá-los. Não precisa temer as consequências de seus atos, se buscar por suas próprias mãos o aperfeiçoamento moral de que necessita. Sujeito que está a vidas sucessivas, que são imposição do progresso, que a lei de causa e efeito acoroçoa, colherá sempre o que semear. O Espiritismo ensina-lhe o caminho da redenção pelo disciplinamento de sua conduta perante seus companheiros de jornada terrena. Para auxiliar esse esforço gigantesco, a mediunidade desempenha função essencial. Por isto, os médiuns precisam dar muita atenção a essa faculdade, que permite o contato com o Além. Se um homem prevenido vale por dois, segundo o anexim popular, um médium preparado vale muito mais que vários médiuns sem base doutrinária e evangélica, sem recursos morais para precatar-se de perigos previstos e perfeitamente esclarecidos, por exemplo, em “O Livro dos Médiuns”, do nosso insigne Allan Kardec, assim como em “Os Quatro Evangelhos”, de J. B. Roustaing, que nos deu magníficas lições complementares da obra do Codificador, que permitem clara compreensão do Espiritismo Cristão.

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            O Espiritismo é objetivo em seus ensinamentos. Instrui, orienta, encaminha, ampara,  fortalece a posição do homem em face da vida, porque lhe diz porque se nasce, para que se nasce, razão do sofrimento, a razão da morte física e a necessidade da reencarnação. Mostra como pode a criatura humana atenuar os encargos espirituais, preparando-se hoje para um amanhã melhor, que lhe permita alcançar alegrias puras, que não sejam apenas festas para os olhos, mas, sobretudo, festas para a alma. O Espiritismo tem elevada função psicológica, é igualmente didática. Mostra-nos a razão da vida humana, o destino que destino que podemos ter, consoante a lei cármica de causa e efeito. Não ilude: esclarece; não persegue: auxilia; não condena: educa; não abandona: ampara; não repele: acarinha; não deturpa a personalidade: aprimora-a: não estimula o egoísmo: substituí-o pelo altruísmo consciente.

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            As ferramentas do médium capacitado de sua responsabilidade são a Doutrina Espírita e o ‘Evangelho segundo o Espiritismo’. Estudá-los, reestudá-los todos os dias, exercitando-se sempre na exemplificação de seus princípios, eis o que melhor se poderá oferecer à dignificação da mediunidade. Veja o médium quantas belezas derivam do trabalho mediúnico metódico, feito com dedicação e amor: Não vá o médium inexperiente lançar-se a cometimentos prematuros e inadequados ao seu grau de desenvolvimento. Dedique-se ao estudo e ao trabalho, com menos pressa e mais devotamento e assiduidade. Dentro de pouco tempo colherá os frutos da semeadura inteligente. Em “O Livro dos Médiuns” está o roteiro completo, que permite avançar com segurança. A preocupação deve ser sempre esta: SERVIR e nunca pretender maravilhar. Nada deve ser forçado; tudo deve obedecer a um plano metódico de trabalho, sob a  supervisão de experimentado diretor de serviços mediúnicos, em dia com a Doutrina e familiarizado com o Evangelho.

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            Sem dúvida, há e pode continuar havendo médiuns sem preparação evangélica, para as quais surpresas desagradáveis podem estar reservadas, se sua linha de conduta não coincidir com aquelas determinadas na Doutrina Espírita e no Evangelho. Muitas vezes o médium sem orientação nem apoio doutrinário e evangélico acaba por ceder a injunções das trevas e acabará por ao ver arrastado a complicações difíceis de destruir, arrastando na desventura os que se entregarem cegamente ao seu arbítrio. O médium consciente de seus deveres morais não anda separado da Doutrina e do Evangelho. Reaprende todos os dias as lições que a vida nos dá, buscando condicioná-las aos imperativos doutrinários e transmitir a outrem os frutos da experiência cotidiana. Precisamos tanto da Doutrina Espírita e do Evangelho segundo o Espiritismo, como do ar que respiramos. Este é imprescindível à nossa sobrevivência moral.

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            Para combater os erros, temos os recursos da Doutrina e do Evangelho, que nos permitem corrigi-lo sem ódios nem prevenções. Preguemos e propaguemos mais do que nunca, em todos os lugares e de todas as formas, principalmente pela exemplificação leal e diária, o Espiritismo de acordo com as determinações doutrinárias e evangélicas, sem jamais esquecermos de que “fora da Caridade não há salvação”. E a caridade não se resume apenas no óbolo entregue ao mendigo que sofre a sua provação, pois se estende a todo os pensamentos e atos. Tanto pode estar representada na palavra falada e escrita, como nas atitudes de todos momentos. Tolerância não quer dizer conivência, assim como bondade não significa passividade ante o mal. A tolerância tem de ser ativa: ao exercê-la, devemos apontar ao que dela se beneficia o caminho da reabilitação. A bondade não nos manda fechar os olhos ao mal. Diz-nos que abramos mais para podermos vencer o mal e seus efeitos com a assistência moral, os conselhos oportunos, a energia temperada de amor, mas não debilitada pela incompreensão. Jamais a violência deve tisnar o pensamento ou o ato do verdadeiro espirita . Para demonstrar nossa caridade pelos que nos atacam ou perseguem, também pelo que se prevalecem da nossa tolerância para incursões sorrateiras e lamentáveis à nossa seara, temos que proceder evangelicamente. Como temos fé, oramos; como temos esperança de que os desviados e transviados de hoje um dia estarão conosco, oramos; como temos caridade para quantos tentam trair--nos a confiança ou ferir-nos desapiedadamente, oramos. E, orando cumpriremos também dever doutrinário e, sobretudo, um dever evangélico.

            Em tão grande obra de expansão do Espiritismo, a tarefa dos médiuns sobreleva de  importância, e eles, como vanguardeiros do trabalho de ligação entre o mundo visível e o mundo invisível, estão sempre convocados para as experiências mais sérias e de maiores consequências.

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