‘A verdadeira coragem’
Em nossos dias é muito comum
ouvir-se falar em coragem e heroísmo! Os homens, porém, em sua inconsciência
pecaminosa, mantêm--se ignorantes quanto ao verdadeiro e profundo sentido
evangélico desses vocábulos. O espírito que almeja alcandorar-se aos pés do
Mestre tem que se comportar bravamente, em todos os dias de seu viver terreno,
nesse combate, contra os infortúnios, as ingratidões, a cobiça, a inveja e a
ambição. Há, geralmente, muita coragem quando se trata de supostos pontos de
honra feridos, ou nas investidas a mão armada, infringentes sempre à lei do
amor, ao passo que a característica a predominar ainda entre os homens, no
concernente às coisas do espírito, é a da excessiva covardia moral para
confessarem seus erros, para aceitarem humilhações justas e conformarem-se com
a pobreza material.
Os autênticos heróis do Evangelho
vivem e morrem, quase sempre, ignorados de todos. Esses bravos tidos no conceito
geral como pusilânimes e desfibrados morais, são no entanto os que, aos olhos
de Jesus, se engrandecem pela firmeza de seus espíritos diante das situações
graves e difíceis a que, frequentemente, estão expostos.
É que eles sabem que os espinhos e
os pedregulhos espalhados pela estrada que percorrem são frutos exclusivos de
seus atos passados frutos que lhes compete destruir a golpes de fé, de
humildade e de renúncia. Daí o escassearem nas páginas da História os nomes dos
que se notabilizaram, em todas as épocas, pelo heroísmo espiritual, nesse
menosprezo sem tréguas às seduções terrenas e aos direitos Que, embora
reconhecidos pelas leis humanas, são todavia chocantes aberrações à luz dos
preceitos divinos!
"Amar os nossos inimigos. Fazer
bem aos que nos odeiam. Orar pelos que nos perseguem e caluniam", eis as
fontes augustas do nosso real heroísmo, na lídima expressão de Jesus, e que nos
há de dignificar perante o Pai de infinito amor, que faz mover seu Sol sobre
bons e maus, e chover sobre justos e injustos. O espírita que é, sem dúvida, o
noviço cuja aspiração ardente consiste em tornar-se merecedor do nobilitante
brasão de operário do Cristo, precisa estar vigilante, porque as tentações por
toda a parte se fazem sentir em suas mais variadas formas. E o dever cotidiano
de todo bom operário é justamente o de ser o maior inimigo da mediocridade.
Porque medíocre é todo aquele que paga o mal com o mal, enquanto que no pagar o
mal com o bem se concretiza o gênio moral e as refulgências do Evangelho. E se,
livres inteiramente dos prejuízos terrenos, almejamos usufruir um dia os
encantos e as doçuras da espiritualidade, indispensável se torna que possuamos
aquela coragem que Lamartine sentenciou como a primeira das eloquências, a eloquência
do caráter. Charles Wagner, prelecionando, disse que para alguém se tornar
herói bastava que saísse um dia da multidão obscura e realizasse um só feito
tão grande e tão belo que por si só o imortalizasse! E porventura conhecemos
alguém que por força dum único feito de inconfundível grandiosidade e beleza se
houvesse imortalizado na consciência dos homens? Conhecemos
e esse alguém foi o Cristo do Senhor! Nós, que fomos bafejados pela Doutrina Espírita,
precisamos riscar a palavra INIMIGO do nosso vocabulário, pois do contrário
jamais seremos
espiritistas na grande pátria do Cruzeiro do Sul, destinada a ser, em futuro
próximo, o berço
sagrado de uma civilização que há de implantar, pelo mundo em fora, o reino da
fraternidade cristã!
por Silvio Brito Soares
in Reformador (FEB) Setembro 1945
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