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“Amor
à Verdade”
por Alpheu
Gomes O. Campos
Marques Araújo & C. – R. S. Pedro, 216
1927
Variada é a maneira como procedem os
Espíritos inferiores na realização das terrenas provas.
Deles procuram a princípio
insinuar-se amigos: filtram pensamentos para bons negócios e prazeres; mas o
fim real é ganharem ascendência sobre sua futura vítima. Com efeito, após, por
assim dizer, paciente preparação, sabendo-a fácil de patroar, flexível à sua
ingerência, habituada a receber e cumprir, mercê da afinidade estabelecida, as
suas mais leves
inspirações, eis lhe incute à pobre vítima os mais desarrazoados expedientes,
desastrados negócios e nocivas paixões. Dessedenta-se então.
Deles propelem ao jogo, proporcionam
ensejo de ganho, dão o palpite, assanham a ganância, para em seguida fazerem
perder os lucros e o mais. Em solo movediço, como se vê, levantam uma torre
para mais fragorosa queda.
Tomando-nos pois o pulso aos
encarnados; perscrutando-nos as tendências; sondando-nos o íntimo, que de
séculos; às vezes, já conhecem - abeiram-se de nós os inimigos e, alicerçados
precisamente em nossas fraquezas e imperfeições, conduzem-nos a sofrimentos
quer morais como físicos.
Quando os psiquiatras houverem
estudado tais assuntos, grandemente reformarão seus conceitos, pois não tem conta
as moléstias nervosas chamadas e cuja verdadeira causa é a ação de um vingador
oculto.
Este nunca age só, procura
companheiros com quem pactua recíproco socorro. Exemplifiquemos. Um infeliz
intenta assassinar quem quer que seja... Subjugado que o apanhe, trata de
descobrir o instrumento capaz de pôr por obra o seu plano - que para tanto também
precisa de um braço a jeito.
Depara o primeiro que, por prova
certamente, vai receber-lhe os pensamentos. Mas, ainda que relativo, todos
dispomos do livre arbítrio; o receptor pode, portanto, recusar-se.
Não desanima o obsessor: qual
perdigueiro subtil fareja outra mão, outra, até encontrar que sirva.
Em seguimento disso, arma entre os
dois relações, se já não as há; bafeja de parte a parte simpatia, amizade,
confiança; e depois, por meio de qualquer transação ou desonesto arrastamento,
promove o desfecho fatal.
- Mas, dirá o leitor, podem os espíritos
fazê-lo? Neste caso, estamos todos sujeitos a um irresistível domínio!
Não. Pelo cuidado de melhorarmo-nos,
lembrando sempre que os humildes serão exaltados
e os orgulhosos humílhados, poderemos, se não evitar, ao menos atenuar
certos males.
Em toda a sua simplicidade, é
curiosa a observação de um médium que conhecemos, de mui ampla vidência, sim,
porém, aquele tempo, de exíguos ou nenhum conhecimentos da doutrina.
Via ele os Espíritos a que chamamos
protetores, vestidos de túnica branca, e os obscuros com a roupa que traziam na
terra; e para distingui-los, quando queria narrar qualquer fato observado,
nomeava aqueles “os homens de branco”, e estes “os camaradas.”
Certo dia, em palestra, disse-nos: “Seu
doutor, esses homens de branco, não tem o que fazer.”
- Como assim? - perguntamos.
- Um grupo de camaradas, advertiu
ele, agia sobre algumas pessoas, perturbando-as consideravelmente no que
faziam; os homens de branco estavam ali nem se mexiam.
“Ora, não achei aquilo direito e
disse-lhes para que afastassem os camaradas. Pois eles, sorrindo, mandaram-me
que deixasse, que não me incomodasse, que era assim mesmo. Então, calei-me.
“Sabe o que aconteceu? Depois de os
camaradas terem estragado tudo, eles num instante vieram e acomodaram as coisas.
Não tem o que fazer! deixam agir os camaradas para poder haver serviço.”
Isto assaz elucida quanto à nossa
proteção. De feito, para que não soframos além do necessário, somos sempre
vigiados e até inspirados pelos nossos Maiores, a quem, com tudo, é comum
deixarmos de ouvir.
“Quando,
- fala aqui um dedicado e luminoso Espírito - quando em tuas preces elevas o pensamento ao Pai, por uma lei natural
de afinidade ela chega primeiro a mim e daí segue de acordo com o teu e o meu
desejo.
“O
Guia tem sobre o seu tutelado a maior ascendência e inteira responsabilidade
por tudo o que a ele lhe sobrevier.
“Devo dizer-te que não praticas ato
algum na vida, por menor que seja, que não repercuta em mim, graças à ininterrupta
corrente lançada entre protegido e protetor.
“O
conhecimento de todos os atos do primeiro tem grande valor para o segundo, pois
o desenrolar, por assim, das provas e expiações daquele não partem
imediatamente do Pai, senão do Anjo Guardião, que assumiu o compromisso de
aprimorar tal alma, faze-la pura, cheia de virtudes e sabedoria.
“Assim,
o compromisso dá plena liberdade de ação ao Guia, para conduzir seu afilhado
pelos passos que julgar conveniente, até cabal educação.”
Do exposto conclui-se que o Pai vela
de contínuo por todos os filhos e os seus mensageiros, com dedicação e carinho
que a Terra desconhece, nos assistem na provação, incutindo-nos sempre força e
boas resoluções.
Repassando fados ocorridos em nossa
existência, patenteia-se que, na ocasião, dois pensamentos nos acudiram à
mente: um açulando à má conduta, evocando o decantado amor próprio, que não
passa de orgulho estimulado pelos Infelizes; o outro, a voz da razão, da
verdade, do amor, do Anjo Guardião. De resistir aquele e obedecer a este, o
nosso mérito.
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