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sábado, 18 de agosto de 2012

10. 'Amor à Verdade'



           
10
“Amor à Verdade”
por Alpheu Gomes O. Campos
Marques Araújo & C. – R. S. Pedro, 216
1927


Ocupações da multidão infeliz

            As almas que faliram, que nada fizeram para merecer tranquilo despertar no Além, essas almas, consoante ficou dito acima, permanecem com os mesmos sentimentos da Terra, as mesmas ideias e preconceitos, sendo-lhes forçoso buscar ocupações que lhes façam esquecer, quanto possível, o passado, cuja torturante lembrança aliás só se apaga da consciência mediante sincero arrependimento e sempre abençoada reparação.

            Em meio a nós outros vivem e tumultuam elas. Tomam parte ativa em nossos afazeres, em nossos ofícios, artes e misteres, no desenrolar enfim de toda a nossa vida de relação. Por modo se identificam conosco, graças à afinidade das tendências, que chegam a julgar-se os próprios encarnados, aforçurando-se (apressar-se, afadigar-se) no cumprimento das nossas cotidianas obrigações.

            Na luta continua da nossa evolução, papel saliente representam as almas atrasadas. Revendo o passado, providencialmente velado pela carne, reconhecem algozes antigos, e, ignorantes da lei, esforçam-se, finam-se por uma vindita, regozijando-se quando a conseguem. Aos amigos, entretanto, procuram auxiliar, seja com intuições para o triunfo na vida material, ou elevando-os a posições de brilho social.

            Orgulhosas também e cheias de vaidade, querendo governar, sentir o vão prazer das reverencias, a tudo se apegam retardando acontecimentos e mais o seu próprio progresso. De tal modo se obstinam e perseveram, que adquirem hábitos dos seus afeiçoados a troco dos muitos que não lhes deixam de transmitir, apertando cada vez mais os laços de atração.

            Tais almas, dirá o leitor, são boas e nos fazem felizes. Não. Além de nos tornarem felizes apenas no sentido vulgar da palavra, - cegueira da Terra! - para o fazerem, prejudicam outros, acendem o egoísmo, bafejam-no, esquecem o sublime preceito: Não faças a outrem o que não queres que te façam.

            Em companhia de médiuns videntes, ,estudando e observando, aqui e no Rio de Janeiro, em teatros, casas de comércio, repartições publicas, etc., temo-nos inteirado da atenção, do interesse com que, em toda sorte de atividade, assediam os encarnados, na faina de auxiliá-los ou prejudicá-los.

            Achando interessante a ação desses infelizes irmãos, pedimos a nosso Guia espiritual a comunicação de alguns deles, segundo fosse permitido, para melhor nos orientarmos.

            Foi a primeira a de um satélite de certo comerciante, no Rio de Janeiro. Mostrava-se contrariado ; dizia achar-se preocupado com negócios importantes e não nos poder conversar. Fazendo-lhe ver que desejávamos orientá-lo, declarou serem tudo histórias, que vivia no comércio, onde ajudava o seu amigo (o chefe da casa), inspirando-o na solução dos problemas financeiros.

            Após alguma relutância, consentiu em ouvir-nos. Senão quando, puxa pelo relógio do médium e, vendo a hora: “Bem - nos diz - tenho de almoçar, e por isso não posso mais atendê-los”. Com um pouco de esforço e auxílio acabamos de o convencer. Caiu em si que, de fato, as almas não precisam comer. Contudo, objetou: “Sim, não como; mas tenho de levar meu amigo, sem o que nem se lembrará.”

            Doutra feita, fomos ao teatro Carlos Gomes, no Rio, estando conosco o médium vidente habitual.

            Grande número de infelizes - informou-nos - se distribuíam pela orquestra, entre os espectadores e, no palco, junto aos artistas. Um destes estava sendo atacado. Um obsessor procurava, às mãos ambas, empecê-lo (estorvar, prejudicar). O ator, que, no gênero, não era o pior, desagradava plenamente aquela noite. Em certa altura, notando que o vidente se ria, interrogámo-lo. Era que a influência oculta aplicava todos os meios e energias para derribar o artista, empenho que não resultou baldado.



            



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