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“Amor
à Verdade”
por
Alpheu Gomes O. Campos
Marques Araújo & C. – R. S. Pedro, 216
1927
Ocupações
da multidão infeliz
As almas que faliram, que nada
fizeram para merecer tranquilo despertar no Além, essas almas, consoante ficou
dito acima, permanecem com os mesmos sentimentos da Terra, as mesmas ideias e
preconceitos, sendo-lhes forçoso buscar ocupações que lhes façam
esquecer, quanto possível, o passado, cuja torturante lembrança aliás só se
apaga da consciência mediante sincero arrependimento e sempre abençoada
reparação.
Em meio a nós outros vivem e
tumultuam elas. Tomam parte ativa em nossos afazeres, em nossos ofícios, artes
e misteres, no desenrolar enfim de toda a nossa vida de relação. Por modo se
identificam conosco, graças à afinidade das tendências, que chegam
a julgar-se os próprios encarnados, aforçurando-se (apressar-se,
afadigar-se) no
cumprimento das nossas cotidianas obrigações.
Na luta continua da nossa evolução,
papel saliente representam as almas atrasadas. Revendo o passado,
providencialmente velado pela carne, reconhecem algozes antigos, e, ignorantes
da lei, esforçam-se, finam-se por uma vindita, regozijando-se quando a conseguem.
Aos amigos, entretanto, procuram auxiliar, seja com intuições para o triunfo na
vida material, ou elevando-os a posições de brilho social.
Orgulhosas também e cheias de
vaidade, querendo governar, sentir o vão prazer das reverencias, a tudo se
apegam retardando acontecimentos e mais o seu próprio progresso. De tal modo se
obstinam e perseveram, que adquirem hábitos dos seus afeiçoados a troco dos
muitos que não lhes deixam de transmitir, apertando cada vez mais os laços de
atração.
Tais almas, dirá o leitor, são boas
e nos fazem felizes. Não. Além de nos tornarem felizes apenas no sentido vulgar
da palavra, - cegueira da Terra! - para o fazerem, prejudicam outros, acendem o
egoísmo, bafejam-no, esquecem o sublime preceito: Não faças
a outrem o que não queres que te façam.
Em companhia de médiuns videntes,
,estudando e observando, aqui e no Rio de Janeiro, em teatros, casas de comércio,
repartições publicas, etc., temo-nos inteirado da atenção, do interesse com
que, em toda sorte de atividade, assediam os encarnados, na faina de
auxiliá-los ou prejudicá-los.
Achando interessante a ação desses
infelizes irmãos, pedimos a nosso Guia espiritual a comunicação de alguns
deles, segundo fosse permitido, para melhor nos orientarmos.
Foi a primeira a de um satélite de
certo comerciante, no Rio de Janeiro. Mostrava-se contrariado ; dizia achar-se
preocupado com negócios importantes e não nos poder conversar. Fazendo-lhe ver
que desejávamos orientá-lo, declarou serem tudo histórias, que vivia no comércio,
onde ajudava o seu amigo (o chefe da casa), inspirando-o na solução dos
problemas financeiros.
Após alguma relutância, consentiu em
ouvir-nos. Senão quando, puxa pelo relógio do médium e, vendo a hora: “Bem -
nos diz - tenho de almoçar, e por isso não posso mais atendê-los”. Com um pouco
de esforço e auxílio acabamos de o convencer. Caiu em si que, de fato, as almas
não precisam comer. Contudo, objetou: “Sim, não como; mas tenho de levar meu
amigo, sem o que nem se lembrará.”
Doutra feita, fomos ao teatro Carlos
Gomes, no Rio, estando conosco o médium vidente habitual.
Grande número de infelizes -
informou-nos - se distribuíam pela orquestra, entre os espectadores e, no
palco, junto aos artistas. Um destes estava sendo atacado. Um obsessor
procurava, às mãos ambas, empecê-lo (estorvar, prejudicar). O ator, que, no
gênero, não era o pior, desagradava plenamente aquela noite. Em certa altura,
notando que o vidente se ria, interrogámo-lo. Era que a influência oculta
aplicava todos os meios e energias para derribar o artista, empenho que não
resultou baldado.
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