Inquietude
Se existe o centro para o qual
gravita a pedra solta no espaço -
Se existe o sol que a planta
adivinha em plena escuridão -
Se existem zonas banhadas de luz e
calor que de veementes saudades enchem as aves migratórias -
- por que não existiria o invisível
centro que sem cessar atrai o meu espírito? ...
- por que não existiria algures esse
grande astro por que minh'alma suspira? ...
- por que não cantaria, para além desses
mares visíveis, o invisível país da minha grande nostalgia? ...
Por que não? ...
Seria o homem, rei e coroa da
criação, a única desarmonia no meio dessa universal sinfonia da Natureza?
Um caos de desordem em pleno cosmos
de ordem?
Não atingiria ele jamais a meta das
suas saudades?
Seria ele mais infeliz que a pedra,
a planta, o animal?
Seria ele um eterno Tântalo
ludibriado pela miragem duma felicidade quimérica?
Seriam as mais nobres aspirações de
minh'alma eternamente burladas por um gênio perverso e cruel?
E teria esse tirano o nome de Deus?
Quem poderia crer coisa tão
incrível?
Que inteligência abraçar tamanho
absurdo?
Creio, Senhor, na imortalidade,
porque creio no teu amor!
Creio na vida eterna, porque creio
na ordem da tua Natureza!
Creio no mundo futuro, porque creio
na harmonia do teu Universo!
Para além de todos os enigmas e
paradoxos da vida presente existe uma solução e uma verdade eterna.
Após a noite deste mundo que nos
desorienta, despontará a alvorada dum dia que iluminará os nossos
caminhos.
***
Continua, pois, Centro eterno, a
atrair o meu coração, que inquieto está até que em ti descanse ...
Continua, ó Sol divino, a encher-me
de veemente heliotropismo o espírito, para que no meio das trevas procure a tua
grande claridade ...
Continua, ó tépida Primavera, a
chamar das regiões polares a avezinha nostálgica de minh'alma, que
só na zona
tropical do teu amor encontra paz e vida eterna ...
Só em ti, meu Centro, meu Sol, minha
Primavera, sucederá à dolorosa inquietude do meu espírito a inefável quietude
de todo o meu ser ...
Huberto
Rohden
in “De Alma para
Alma”
(Ed. União
Cultural Editora 1956)
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