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Antônio
Wantuil de Freitas
in ‘Reformador’ (FEB)
Abril 1974
Na
presidência da FEB
Muitos fenômenos de indiscutível
força comprobatória, alguns, inclusive, observados no seu próprio lar,
confirmaram lhe a teoria haurida nos livros, fortalecendo lhe as novas
convicções.
Em 2 de abril de 1932, ingressava ele
no quadro de sócios remidos da Federação Espírita Brasileira, pondo-se em
contato Com líderes espíritas do Brasil. Em 1933, já tomava parte nas reuniões
do Conselho Federativo ("Reformador" de 1933, pág. 537). A 24 de maio
de 1933, foi eleito para membro efetivo da então
Assembleia Deliberativa.
Em pouco tempo formou vasto cabedal
de conhecimentos doutrinários, o que levou o engenheiro Guillon Ribeiro, então Presidente da Federação Espírita Brasileira,
a convidá-lo para diretor da Casa. Nas eleições de 9 de agosto de 1936, Antônio
Wantuil de Freitas era eleito e empossado no cargo de gerente do "Reformador",
cargo que ocupou até 7 de novembro de 1943, quando, por desencarnação do seu
"pai espiritual", Guillon
Ribeiro, ascendeu à presidência da Federação (seria apenas por um ano,
diziam), nesse posto permanecendo, sempre reeleito anualmente, até 22 de agosto
de 1970, data a em que, por motivo de saúde, não
mais aceitou a sua reeleição.
Outras
Atividades
Foi Antônio Wantuil de Freitas 1º secretário do Centro dos Droguistas e
Industriais do Rio de Janeiro, 1º vice-presidente do Sindicato dos
Laboratórios, Drogarias e Farmácias do Rio de Janeiro, aí presidindo à seção
referente à Indústria. Era membro da Associação Brasileira de Farmacêuticos e,
desde 1931, da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro. Um dos
sócios mais antigos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), ao museu da qual
ofertou, em 1936, a mesa de trabalho de Quintino Bocaiúva, mesa em que esse
grande brasileiro havia escrito o seu famoso testamento político. Sócio efetivo
da Sociedade de Homens do Letras do Brasil, fundada por Olavo Bilac, em 1914,
Sócio da Liga Brasileira de Esperanto, tendo sido eleito membro do Conselho
Deliberativo do "Brazila Klubo Esperanto". Aliás, ele sempre deu
irrestrito apoio à divulgação da Língua Internacional, tendo até custeado, em
parte, a publicação de obras espíritas em Esperanto.
Antes de ser espírita, esteve ligado
à Maçonaria, onde alcançou os mais altos graus, tendo pertencido, em 1924, à
Soberana Assembleia do Grande Oriente do Brasil. Sócio de muitas associações
recreativas e de assistência social, muitas vezes deu para estas últimas
vultosos donativos, exigindo, porém, total sigilo.
Como jornalista, fundou, em janeiro
de 1928, e o dirigiu por cerca de doze anos, um jornal de formato grande e
largamente difundido por todo o Brasil. Intitulava-se "A Verdade",
com os mais variados assuntos, não faltando pequenas seções de caráter
espírita, depois de 1932, uma das quais, muito apreciada dos leitores e escrita
por ele, era assinada com o pseudônimo "Vovó Virgínia".
Debate
com a Classe Médica
As realizações de Antônio Wantuil de Freitas dentro do
Espiritismo, nos últimos trinta anos de sua direção na FEB, são qualquer coisa
de extraordinário. Sua enorme capacidade de trabalho, aliada a invejável
descortino intelectual, fê-lo uma das figuras mais proeminentes no movimento
espírita nacional da época
presente. Quer na tribuna, onde durante muitos anos dissertou sobre temas
evangélicos e pronunciou conferências eruditas, algumas publicadas no
"Roformador", quer nos escorreitos e bem argumentados escritos que
estampou com seu nome e sob pseudônimos, como G. Mirim, Mínimus, I. Pequeno, R. G., Jorge Castelini, O
Repórter, etc., quer ainda nas resoluções de alta responsabilidade e de
significativa importância para o Espiritismo no Brasil, em todas essas
oportunidades ele sempre se revelou uma personalidade forte, intransigente na
defesa da verdade, conscientemente tolerante, dotado de grande discernimento e
de um raciocínio rápido e decisivo.
Em 13 de junho de 1939, ele,
sozinho, defendeu o Espiritismo na Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de
Janeiro, que na ocasião se achava empenhada numa acirrada campanha
antíespírita, com moções dirigidas até ao Presidente da República e ao Ministro
da Justiça, inspiradas pelo Dr. CarIos Fernandes. Ficou memorável nos anais do
Espiritismo a longa e brilhante defesa que Wantuil
de Freitas fez do Espiritismo, rebatendo, com argumentos decisivos, a saraivada
de apartes com que o assediavam ilustres membros daquela Sociedade, como os
Drs. Rolando Monteiro, Pitanga Santos, Pinto da Rocha, Carlos Fernandes, Rafael
Pardelas e outros. Esses debates atraíram a imprensa. O "Diário da
Noite", a "Vanguarda" e outros jornais da época
estamparam fotografias e elogiaram a atitude desassombrada daquele desconhecido
que ousara levantar a voz contra eminentes médicos patrícios, no seio de uma
sociedade científica. O "Reformador" de 1939, páginas 172, 179 e 204,
fez minucioso relato dos acontecimentos, salientando os argumentos tortuosos
de que se valera o autor das moções contra o Espiritismo, completamente
arrasados por Wantuil, principalmente quando invocou Charles Richet para
insinuar ser a Doutrina Espírita "qualificada pelo grande pesquisador
como inimiga da ciência". O fato provocou, na época, violento impacto, dado que os componentes do grupo
encabeçado pelo Dr. Carlos Fernandes se constituíam de figuras de prol no
ambiente médico de então.
O debate foi tumultuado, mas a voz
serena e a argumentação segura de Wantuil
abalaram e desbarataram os detratores do Espiritismo, conforme se pode ler no
número de junho do "Reformador" daquele ano, do qual destacamos o
seguinte interessante parágrafo:
"Dando fiel notícia do acontecimento
verificado na Sociedade de Medicina e Cirurgia no dia em que se comemorava a
desencarnação do grande e excepcional médium que foi Antônio de Pádua, o
Reformador quis apenas registrar o primeiro caso, realmente inédito, de defesa
do Espiritismo, no seio mesmo de uma Sociedade médica empenhada em guerreá-lo
com todas as armas de que possa lançar mão" (pág. 181).
Com o
Presidente da República
Outro fato digno de menção passou-se
no governo de Getúlio Vargas, em 1945. Pressões daqui e dali originaram um
clima de perseguição às Sociedades espíritas, criando-se até um cadastro
policial para o fichamento dos adeptos. Graças, porém, aos esforços do
Presidente da Federação Espírita Brasileira, que manteve
conversações diretas com o próprio Presidente da República e com o então Chefe
de Polícia, Ministro João Alberto, foram sanadas as incompreensões surgidas,
reconhecendo-se às instituições espíritas o direito de se organizarem e
funcionarem livremente.
Vários outros episódios relevantes,
em que ele tomou parte saliente, e que assinalaram datas ou passagens
importantes na história do Espiritismo no Brasil, alguns já tornados públicos e
outros só conhecidos de reduzido número de companheiros mais íntimos, poderiam
ser aqui relatados, se não fora alongar demasiado esta biografia, na qual
queremos deixar fixado, ainda que discretamente, o perfil desse grande
espírita.
O Departamento
Editorial,
Os Selos
e o Pacto Áureo
Antônio
Wantuil de Freitas
foi diretor, por muitos anos, do centenário Grupo Ismael, posto de atalaia da
Federação Espírita Brasileira, e dirigiu o "Reformador" durante os 27
anos de sua presidência.
Em virtude dos seus amplos
conhecimentos da língua portuguesa, empenhou-se em rever todas as edições e reedições
das obras publicadas pela FEB, podendo-se afirmar que mais de duzentos livros
sofreram a sua competente revisão. Trabalhava ativamente, de doze a quatorze
horas diárias, inclusive sábados e domingos, e
por várias vezes adoeceu em consequência de estafa total.
Efetivando a criação, em 1946, do
Departamento Editorial da FEB, no bairro de São Cristóvão, ele o desenvolveu
com o correr dos anos, dando gigantesco impulso à divulgação da Doutrina Espírita pelo
livro e pela imprensa. Só esse empreendimento seria suficiente para consagrar a
sua memória ao respeito geral dos espíritas.
Presidiu, com dedicação e sabedoria,
com firmeza. e lealdade, ao Conselho Federativo Nacional desde que este foi
instalado, em 5 de outubro de 1949, tendo sido o autor dos dezoito itens com foi
lavrada a "Ata do Pacto Áureo". A última reunião mensal a que compareceu,
como presidente dos trabalhos, realizou-se no dia 1.° de agosto de 1970.
Visitou oficialmente, cm diferentes
anos, várias organizações espíritas estaduais, entre elas as de Minas Gerais,
Rio Grande do Sul, São Paulo e Paraná, numa obra de fortalecimento dos laços
federativos.
São de sua autoria folhetos,
opúsculos e livros acerca de vários assuntos. Sua primeira publicação saiu
quando ele era ainda bem jovem, e se intitulava "Vocabulário Seleto",
no qual estavam registradas, com seus significados, centenas de palavras pouco
conhecidas do público. Nessa brochura, usou o pseudônimo Kênio Filho. Afora
outras mais, podemos citar as seguintes obras de caráter espírita, apresentadas
também sob pseudônimo: "Ciência, Religião e Fanatismo". "Os
Milagres de Jesus" e "Síntese de O Novo Testamento", todas com
várias edições.
Aos seus denodados esforços,
conjugados a uma atuação inteligente junto às autoridades públicas, se devem os
quatro selos postais espíritas, que contribuíram para dar ao Espiritismo no
Brasil uma projeção ainda maior, inclusive no exterior, criando em torno de
seus ideais respeito e admiração crescentes.
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