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Ao lado do nome ilustre de Oliver
Lodge cumpre colocar o de William Crookes, o eminente físico, a quem se deve,
entre outras valiosas descobertas, a do quarto estado da matéria, ou
"estado radiante", verdadeira precursor de Roentgen, Curie, etc., e
que, solicitado há 45 anos pelo ruído que causavam os inusitados fenômenos,
empreendeu em sua própria casa, com a jovem médium Miss Florence Cook, uma série
de experiências que o levaram a comprovar, desde a deslocação e movimentos de
objetos sem contato, até a completa materialização, tornada célebre, do espirito
de Katie King, por ele submetido a várias provas, inclusive a da fotografia.
"Há quatro anos - disse ele na publicação
que fez de tais experiências no QUARTERLY JOURNAL OF SCIENCE, de janeiro 1874 -
tive a intenção de consagrar um ou dois meses apenas ao trabalho de me certificar
se certos fatos maravilhosos, de que ouvira falar, poderiam resistir à prova de
um exame rigoroso. Mas, tendo logo chegado à mesma conclusão, como todo pesquisador
imparcial, isto é, de que "ali havia alguma coisa," não podia mais
eu, estudante das leis da natureza, me recusar a prosseguir essas pesquisas,
qualquer que fosse o ponto a que elas me pudessem conduzir.
"Foi assim que alguns meses
se tornaram em alguns anos e, se eu pudesse dispor de todo o meu tempo, é
provável que ainda continuasse tais pesquisas".
Em setembro de 1898, no discurso que
proferiu perante o Congresso da Associação Britânica, teve o ilustre sábio
ocasião de se referir às mesmas investigações nos seguintes termos, desfazendo
o boato, que adversários gratuitos do Espiritualismo propalavam, de que ele se
havia retratado de suas afirmações:
"Trinta anos se passaram, depois que
publiquei as atas das experiências tendentes a mostrar que, fora dos nossos
conhecimentos científicos, existe uma força posta em atividade por uma inteligência
diversa da inteligência comum a todos os mortais. Nada tenho que retratar
dessas experiências e mantenho as minhas verificações já publicadas, podendo
mesmo a elas acrescentar ainda muita coisa (1)."
(1) Ver 'FATOS ESPIRITAS observados por WILLIAM CROOKES e outros sábios', tradução de Oscar d' Argonnel, Livraria da
Federação Espírita Brasileira .
O grande naturalista inglês Alfredo
Russell Wallace, digno emulo de Darwin nas pesquisas da ORIGEM DAS ESPECIES, em
que chegou como este, simultaneamente, aos mesmos resultados, sem terem tido
entre si nenhuma troca de ideias, foi mais longe nas conclusões que William
Crookes.
Ao fim de muitos anos de estudo e observação,
lançou a público a obra MIRACLES AND MODERN SPIRITUALlSM (Os milagres e o
moderno Espiritualismo), em que fez intrepidamente a sua profissão de fé
espírita, confessando:
"Eu era tão convencido materialista
que não admitia absolutamente a existência espiritual, nem qualquer outro
agente do universo além da força e da matéria. Os fatos, entretanto, são coisas
pertinazes.
“A minha curiosidade foi
primeiramente excitada por alguns fenômenos ligeiros, mas inexplicáveis, que se
produziam no seio de uma família amiga; o desejo de saber e o amor à verdade me
forçaram a prosseguir as investigações.
"Os fatos se tornaram cada vez mais
positivos, mais variados, cada vez mais distanciados de tudo quanto a ciência moderna
ensina e de todas as especulações filosóficas dos nossos dias e venceram-me afinal.
Eles me forçaram a aceita-los como fatos, muito antes de eu admitir a sua
explicação espiritual; não havia a esse tempo, em meu cérebro, lugar para essa
concepção; pouco a pouco o lugar se fez, não por opiniões preconcebidas ou teóricas,
mas pela ação contínua de fatos sobre fatos, dos quais ninguém, se poderia
desembaraçar de outra maneira (1)."
(1) Ver FATOS ESPÍRITAS, tradução de Oscar
d'Argonnel.
Tendo assim terminado por aceitar os
princípios , a poder de provas documentais, é com incontestável autoridade que ele afirma em outro lugar (2):
(2) Léon Denis, No INVISÍVEL, pág.- 384.
"O Espiritismo está tão bem
demonstrado como a lei da gravitação."
É também dele esta frase, que não
tem apenas o valor de um depoimento pessoal, mas que define bem as consequências
e o alcance moral desta doutrina para todo aquele que, com sinceridade, adote
os seus príncípios:
"Desde que me tornei espírita,
sinto que meu caráter melhora dia a dia."
Poderíamos encerrar aqui esses
testemunhos de notabilidades cientificas em favor do Espiritismo. Como
homenagem, porém, à nobre sinceridade com que, a exemplo de tantos outros,
terminou por se declarar espírita convicto, ao fim de dezoito anos de
sucessivas, posto que intermitentes observações, sentimos o dever de mencionar ainda
o nome de Cesar Lombroso, o eminente criminalista, chefe da escola antropológica
italiana, que teve a fortuna de transpor os umbrais da eterna pátria, iluminado
pela certeza imortalista.
É curioso e, ao mesmo tempo,
edificante, acompanhar a evolução do seu espírito, desde a obstinada resistência
em admitir sequer a possibilidade dos fenômenos, até a aquisição daquela
certeza inabalável, prêmio e coroamento lógico de sua perseverante honestidade,
Ao publicar seu livro PAZZI ED ANOMALI,
profundamente imbuído das concepções materialistas, ele foi de extrema
severidade a respeito dos espíritas, verberando com rudeza a sua credulidade inconcebível.
Mas, já em 1891, tendo assistido
pela primeira vez, a convite de Ercole Chiaia, a experiência com o médium Eusápia
Paladino, em companhia de seus colegas Tamburini, Virgílio, Bianchi e Vizzioli,
alienistas como ele, escrevia ao amigo Ernesto Ciolf (1), em data de 25 de
junho:
(1)
Ver FATOS ESPÍRITAS, págs. 135.
"Sinto-me envergonhado e pesaroso de
ter combatido com tanta insistência a possibilidade dos fatos espíritas : digo
fatos, porque ainda fico oposto à teoria."
Nessas disposições de espírito,
publicava ele, em 12 de março 1892 (2), a narrativa de tais experiências,
acompanhada de uma explicação a que a psiquiatria e a neuropatologia emprestavam
os principais argumentos, rematando-os contudo por esta advertência:
(2) Ver LE PROFESSEUR LOMBROSO ET LE SPIRITlSME,
versão francesa de artigos publicados no REFORMADOR do mesmo ano editada em
folheto, págs. 8 a 16.
"Estudemos, pois, observemos, como na
nevrose, nas convulsões, no hipnotismo, o individuo mais que o fenômeno, e acharemos
a explicação deste mais completa e menos maravilhosa do que ao começo parecia.
Por enquanto, desconfiemos dessa presumida argúcia, que consiste em ver
simuladores por toda parte, e em nos acreditarmos os únicos sábios, ao passo
que precisamente essa pretensão nos poderia mergulhar no erro."
Cinco anos mais tarde, respondendo
ao tradutor dos FATOS ESPIRITAS, a que temos feito referência, o qual lhe pedia
a opinião sobre tais fatos, era esta a sua linguagem:
"Respondo-lhe o mesmo - dizia ele -
que tenho respondido a muitos outros: que sem duvida os fenômenos espíritas são
verdadeiros e que é impossível lhes dar uma interpretação.
"A ciência fisiológica é absolutamente
impotente para isso; mas a ciência humana tem limites bastante restritos.
"Quem se não riria, há
poucos anos, do fenômeno que hoje todos verificam: os raios Roentgen?"
Era o desmoronamento, lealmente confessado,
das suas teorias favoritas em presença desse novo e insuspeitado cIclo da
verdade eterna, para cuja investigação começava ele a sentir-se arrastado
"como a pedra que rola do alto da montanha", segundo a expressão de
que se utilizou numa publicação posterior, até que em novembro de 1906, agradecendo
ao professor Vincenzo Tummolo a oferta do livro que este recentemente
publicara, SULLE BASI POSITIVE DELLO SPIRITUALlSMO, lhe dizia:
"Apresento-vos os mais cordiais
agradecimentos por vossa estimada carta e pelo importante livro a favor elo Espiritismo,
que tivestes a coragem de publicar e no qual acumulastes tanto vigor de lógica
e tamanha variedade de fatos, que poderá convencer até os mais recalcitrantes." E mais adiante: "Eu
espero concluir a minha carreira com um estudo em que o vosso interessante e
erudito livro me será de grande, auxilio."
E cumpriu a sua promessa. Ao desencarnar,
em 19 de outubro de 1909, deixou no prelo a derradeira obra, RICERCHI SUl
FENOMENI IPNOTICI E SPIRITICI, com que encerrava a sua missão na terra, e na
qual, fazendo a sua definitiva profissão de fé espírita, referia, entre outros
interessantes fenômenos, as sucessivas aparições do espírito de sua mãe, verificadas
em sessões com o médium Eusápia Paladino.
Assim, corno uma grande, luminosa,
irresistível avalanche, a verdade espírita, ao começo embrionária, isto é, restringida
ao conceito da nossa natureza espiritual e da imortalidade do ego consciente,
numa sorte de percurso invertido, tem caminhado, através dos séculos; desde a consciência
obscurecida do homem inculto, em forma de instinto, sancionado pelas aparições intermitentes,
contemporâneas de todas as idades, até a mente esclarecida dos familiares da ciência,
mediante a comprovação de fatos sistematicamente observados. Não tardará que se
imponha universalmente a todas as mentalidades, vencendo as derradeiras
hesitações do cientificismo negativista e franqueando em todas as almas livre
curso às concepções espiritualistas em que se desdobra e que, acerca da vida,
do universo e do seu recôndito Autor, dormiram nos santuários
da antiguidade, palpitaram nos ensinamentos dos grandes Instrutores, que têm
dominado as eminências da história, fulgiram nos atos do mais doce e maior de todos
eles - Jesus Cristo - e vieram finalmente a ser derramadas, como uma grande aurora,
sobre o mundo pelas vozes anunciadoras dos Espíritos, portadores da Revelação
que tem seu nome.
Estabelecida positivamente a
realidade da vida post-mortem,
obtida, pelas manifestações dos que a desfrutam, a certeza do universo
espiritual que nos rodeia, cumpre fazer aplicação dos ensinos, que nos trazem,
à compreensão da vida e do destino humanos, desde os sucessos imediatos e ambientes
às suas mais remotas consequências no futuro, relacionando-os com os seus
antecedentes no passado.
É o que nos propomos sucessivamente
empreender nos capítulos seguintes.
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