Grandes
Mensagens
‘Sua
Voz’ por
Pietro Ubaldi
MENSAGEM DE NATAL
Natal de 1911
No silêncio da noite santa,
escuta-me. Põe de lado todo o saber e tuas recordações; põe-te de parte e
esquece tudo. Abandona-te à minha voz, inerte, vazio, no nada, no mais completo
silêncio do espaço e
do tempo. Neste vazio, ouve minha voz que te diz - ergue-te e fala: Sou eu.
Exulta pela minha presença: grande
bem ela é para ti, grande prêmio que duramente mereceste; é aquele sinal que
tanto invocaste deste mundo maior em que eu vivo e em que tu creste. Não perguntes
meu nome, não procures individuar-me. Não poderias, ninguém o poderia; não
tentes uma inútil hipótese. Sabes que sou sempre o mesmo.
Minha voz que, para teus ouvidos, é
terna, como é amiga para todos os pequeninos que sofrem na sombra, sabe também
ser vibrante e tonante, como jamais a sentiste. Não te preocupes; escreve.
Minha palavra se dirige às profundezas da consciência e toca, no mais íntimo, a
alma de quem a
escuta. Será somente ouvida por quem se tornou capaz de ouvi-la. Para os
outros, perder-se-á
no vozear imenso da vida. Não importa, porém: ela deve ser dita.
Falo hoje a todos os justos da terra
e os chamo de todas as partes do mundo, a fim de unificarem suas aspirações e
preces numa oblata que se eleve ao céu. Que nenhuma barreira de religião, de
nacionalidade ou de raça os divida, porque não está longe o dia em que somente
uma será a divisão entre os homens: justos e injustos.
A divisão está no íntimo da
consciência e não no vosso aspecto exterior, visível. Todos os que sinceramente
querem compreender o compreendem. Cada um, intimamente, se conhece, sem que o próprio
vizinho possa percebê-lo.
Minha palavra é universal, mas
também é um apelo íntimo, pessoal, a cada um. Muitos a reconhecerão.
Uma grande transformação se aproxima
para a vida do mundo. Minha voz é singular, porém, outras se
elevarão, muito breve, sempre mais fortes, fixando-se em todas as partes do
mundo, para que o
conselho a ninguém falte.
Não temas; escreve e olha. Contempla
a trajetória dos acontecimentos humanos: ela se estende pelo
futuro. Quem não está preso nas vossas férreas jaulas de espaço e de tempo, vê, naturalmente,
o futuro. Isso, que te exponho à vista, é também coerente segundo vossa lógica
humana e, portanto, vos é compreensível.
Os povos, tanto quanto os
indivíduos, têm uma responsabilidade nas transformações históricas, que seguem
um curso lógico; existe um encadeamento de causas, que, se são livres nas
premissas, são necessárias nas consequências.
A lei de justiça, aspecto do
equilíbrio universal, sob cujo governo tudo se realiza, inclusive no vosso mundo,
quer que o equilíbrio seja restaurado e que as culpas e os erros sejam
corrigidos pela dor. O
que chamais de mal, de injustiça, é a natural e justa reação que neutraliza os
efeitos de vossos
atos. Tudo é desejado, tudo é merecido, embora não estejais preparados para
recordar o "como"
e o "quando". De dor, está cheio o vosso mundo, porque é um mundo
selvagem, lugar de sofrimento e
de provas; mas não temais a dor, que é a única coisa verdadeiramente grande que possuís.
É o instrumento que tendes para a conquista de vossa redenção e de vossa
liberação. Bem-aventurados
os que sofrem, Cristo vos disse.
O progresso científico, principal
fruto da vossa época, ainda avançará no campo material. Está,
entretanto, acumulando energias, riquezas, instrumentos para uma nova e grande
explosão. Imaginai a
que ponto chegará o progresso mecânico, ampliado ainda mais, se tanto já conseguiu
em poucos anos! Não mais existirão, na verdade, distâncias; os diferentes povos
de tal modo se comunicarão, que haverá uma sociedade única.
A mente humana, porém, troca de
direção de quando em quando, vive ciclos e períodos, e nessas várias
fases deve defrontar diferentes problemas. O futuro contém não só continuações, mas
transformações, consequências de um processo natural de saturação. O vosso
progresso cientí fico tende a
tornar-se e tornar-se-á tão hipertrófico, porque não contrabalançado por um
paralelo progresso
moral, que o equilíbrio não poderá ser mantido nos acontecimentos históricos.
Tem crescido e
crescerá cada vez mais, sem precedentes na História, o domínio humano sobre as
forças da natureza. Um imenso poder terá o homem, mas ele para isso não está
preparado moralmente, porque a
vossa psicologia é, em substância, infelizmente, a mesma da tenebrosa Idade
Média. É um poder
demasiadamente grande e novo para vossas mãos inexperientes.
O homem será dominado por uma tão
alargada sensação de orgulho e de força, que se trairá. A
desproporção entre o vosso poder e a altura ética de vossa vida far-se-á cada
dia mais acentuada,
porque cada dia que passa é, irresistivelmente, para vós, que vos lançastes
nessa direção, um dia de progresso material.
As ideias são lançadas no tempo, com
massa que lhes é própria, como os bólidos no espaço. Eu percebo um
aumentar de tensão, lento, porém constante, que preludia o inevitável explodir
do raio. Essa
explosão é a última consequência, mesmo de acordo com a vossa lógica, de todo
movimento. Desproporção e desequilíbrio não podem durar; a Lei quer que se
resolvam num novo equilíbrio.
Assim como a última molécula de gelo faz desmoronar o iceberg gigantesco, assim também de uma
centelha qualquer surgirá o incêndio. Antigamente os cataclismos históricos, por
viverem isolados os povos, podiam manter-se circunscritos; agora, não. Muitos,
que estão nascendo, ve-lo-ão.
A destruição, porém, é necessária.
Haverá destruição somente do que é forma, incrustação, cristalização,
de tudo o que deve desaparecer, para que permaneça apenas a ideia, que
sintetiza o valor das
coisas. Um grande batismo de dor é necessário, a fim de que a humanidade
recupere o equilíbrio,
livremente violado: grande mal, condição de um bem maior.
Depois disso, a humanidade,
purificada, mais leve, mais selecionada por haver perdido seus piores
elementos, reunir-se-á em torno dos desconhecidos que hoje sofrem e semeiam em
silêncio; e retomará,
renovada, o caminho da ascensão. Uma nova era começará: o espírito terá o
domínio e não mais a
matéria, que será reduzida ao cativeiro. Então, aprendereis a ver-nos e
escutar-nos; desceremos em multidão e conhecereis a Verdade.
Basta, por agora; vai e repousa.
Voltarei, porém recorda que minha palavra é feita de bondade e somente um
objetivo de bondade poderá atrair-me. Onde existir apenas curiosidade, desejo
de emoção, leviandade ou ainda cética pesquisa científica, aí não estarei.
Somente a bondade, o amor, a dor me atraem.
Eu presido ao progresso espiritual
do vosso planeta e para o progresso espiritual um ato de bondade tem
mais valor que uma descoberta científica. Não invoqueis a prova do prodígio,
quando podeis possuir a da razão e da fé. É vossa baixeza que vos leva a
admirar, como sinal de verdade e poder, a exceção que viola a ordem divina. Se
isso pode assombrar-vos e convencer-vos, a vós, anarquistas e rebeldes, para
nós, no Alto, ela constitui a mais estridente e ofensiva dissonância, é a mais
repugnante violação da ordem suprema em que repousamos e em cuja harmonia
vibramos, felizes. Não procureis semelhante prova; reconhecei-a, antes, na
qualidade da minha palavra.
A todos digo: "PazI"
in “Grandes Mensagens”
tradução e apresentação de
Clóvis Tavares (Ed. ‘LAKE’ - 1952)
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