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quarta-feira, 15 de julho de 2020

"Vai, amigo, e volta quando quiseres..."



“Vai, amigo, e volta quando quiseres ...”
José Brígido (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Agosto 1957

            “Entra, amigo. Basta empurrar a porta. Ela nunca está fechada para ninguém: fica sempre aberta para o mundo de onde vens. Qualquer que seja o fim da tua visita, entra. Encontrarás aqui silêncio e tranquilidade.

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            “Não precisas dizer-me que sofres. Percebo-o pelas vibrações do teu espírito atribulado. A dor traz sempre uma auréola de luz. A intensidade dessa luz indica as gradações do sofrimento.

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            “Senta-te. Fecha os olhos por alguns instantes. Procura identificar-te com a penumbra. Em seguida, recorda as gigantescas montanhas circunvizinhas que se diluem na distância. Passeia teu pensamento pelo planalto próximo. Tenta ver o admirável panorama, através das pálpebras cerradas. Sentirás doce sensação de alívio.

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            “Reabre os olhos e aguarda sem ansiedade o crepúsculo que não tarda a chegar. Quando vier a noite redentora, dá-lhe mentalmente as boas-vindas e sorri. Mentaliza a Natureza florida, os gorjeios dos pássaros multicores anunciando a Primavera, e esquece de ti nesses momentos. Compreenderás como tudo se simplifica na noite silenciosa.

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            “As aflições começam a abandonar-te, irmão. Qual um exército vencido, em retirada, elas também se ausentam, devagarinho, bem devagarinho... Teu espírito se reequilibra na paz...

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            “O Silêncio da noite faz bem. Conforta. Educa. Instrui. Permite sereno trabalho de introspecção. O silêncio da noite disciplina e esclarece.

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            “Agora, impõe a teu espírito a meditação, para que se dissipem todos os vestígios de inquietude e experimentes o gozo inefável da tranquilidade que nos oferece a noite silenciosa. Repousa, irmão.

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            “O silêncio fecunda o espírito. Enriquece o pensamento, torna-o mais agudo, dá-lhe maior amplitude e fluidez. O homem que não procura viver mais pelo pensamento, buscando na meditação o rumo certo de sua alma, é como a folha seca, perdida no pó da estrada e sujeita aos caprichos do vento. É o pensamento que fixa a posição do homem no mundo espiritual. Através dele, pode alcançar espantosas altitudes mas pode também, pelo pensamento, rastejar na lama das ruas...

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            “Pensa profundamente no que é belo e puro, pois o que é belo e puro tem que ser necessariamente bom. Vamos! Ergue a cabeça porque não encontrarás estrelas no chão... Tudo no homem é obra do pensamento.

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            “Medita mais um pouco: Muita coisa se aprende no silêncio da noite tranquila. Tudo no homem é pensamento: ele é o pensamento em ação. Será menor a infelicidade no mundo quando as criaturas humanas conhecerem melhor o poder do pensamento e aprenderem a usá-lo com sabedoria. Medita mais um pouco, irmão.

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            “A meditação é a prece que o pensamento faz no altar do silêncio...

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            “Quando aqui chegaste, tua alma angustiada se vestia de fluidos negros e violáceos.  Tinhas a teu lado o Desespero, inimigo da Esperança. Já não mostras os dedos crispados nem congestionada a face macilenta. A tranquilidade te aquieta o corpo, porque teu espírito vai recobrando a paz. O silêncio da noite te fez bem.

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            “Quando se opera a união do espírito com a força cósmica; ele se dilata e adquire singular acuidade. Através das experiências reencarnacionistas, muitas vezes ásperas e dolorosas, se beneficia com o progresso que lhe depura e apura a personalidade. Portanto, amigo, tem fé e trabalha. Sê paciente e bravo.

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            “Amanhece. O silêncio da noite tranquila te devolveu a serenidade. Vais regressar a teu mundo de lutas. Levas, porém, a mente iluminada pelas lições da meditação. A vigília, acredito, não terá sido vã. O Desespero trouxe-te aqui; retornarás nos braços da Esperança. Não te esqueças de que convivemos com um mundo que nem todos veem, mas que todos podem pressentir ou persentir (sentir no íntimo, de maneira profunda), consoante o grau evolutivo de cada um. Luta com coragem, mas sem ódio.

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            Vai, amigo, e volta quando quiseres...”

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