Pierre-Gaëtan Leymarie
Pierre-Gaetan Leymarie - 75º ano de desencarnação
por J. Malgras (tradução: Zêus Wantuil)
Reformador (FEB) Fevereiro 1976
Recordando-nos de
Leymarie é justo e meritório que rendamos a
nossa homenagem àquela que lhe foi
a companheira devotada em todos os momentos.
nossa homenagem àquela que lhe foi
a companheira devotada em todos os momentos.
Vinte anos mais
moça que o marido, a cujo lado colaborava ativamente,
empregou todas as
suas energias na defesa do bom nome do esposo,
quando ele foi
processado, tendo escrito a admirável memória
- Procès des
Spirites -, que se tornou precioso documento
para a história do
Espiritismo, e cujo centenário foi lembrado
em “Reformador” de
dezembro de 1975. Essa mulher admirável,
cheia de
estoicismo, bondade e inquebrantável energia, née
Marina Duclos,
sucedeu Leymarie na direção da Livraria Espírita
e da Revue
Spirite, e nesse trabalho esteve durante 3 anos e pouco,
ou seja até a sua
desencarnação, em 29 de setembro de 1904.
Paul Leymarie
continuou essa árdua e belíssima obra
com o mesmo
devotamento e desinteresse dos progenitores,
dos quais recebera
desde a infância a melhor educação espírita.
Píerre-Gaetan Leymarie nasceu em Tulle, França, a 2 de
maio de 1821, filho de distinta família. Cedo, para não sobrecarregar as
despesas da família, então numerosa, interrompeu seus estudos, e se dirigiu
para Paris, a fim de colocar-se, contando exclusivamente com o seu trabalho e
com os seus próprios esforços.
Interessado vivamente por todas as ideias generosas,
tomou-se ardente republicano e foi, por ocasião do golpe de Estado de 1851,
arrolado entre os adversários irredutíveis do Cesarismo e forçado a exilar-se.
O destino colocou-o em contato com a elite do partido proscrito o que, de algum
modo, não deixou de contribuir para o desenvolvimento de seu espírito de
combatividade e ao mesmo tempo de proselitismo.
Proclamada a anistia, voltou à França, casou-se e tomou a
direção de uma casa comercial até 1871. Uma voz autorizada (1)
disse, referindo-se a ele, que se os negócios dele não prosperaram, pelo menos
sua probidade foi escrupulosa e nenhuma acusação jamais o pode atingir.
(1) Gustave Macé, comissário de polícia
da cidade de Paris. (Nota do tradutor)
Amante dos livros, quer tratassem de questões
políticas, sociais, científicas, religiosas ou literárias, quantos lhe caíssem
às mãos eram lidos e assimilados.
Não poderiam os
fenômenos e a doutrina do Espiritismo encontrá-lo indiferente. Foi um dos
primeiros a entusiasmar-se com essas inquietantes questões, e, quando Allan
Kardec inicia a publicação da Revue
Spirite e de suas obras, e dá começo às suas sessões de estudos e
experimentações, não tardou ele de contar Leymarie entre seus mais ardentes
discípulos (2). Sob a direção do
mestre, médiuns se desenvolvem e, em dada ocasião, pode-se ver (acontecimento
que a história do Espiritismo assinalará e dele conservará orgulhosa memória)
três jovens, ainda obscuros e desconhecidos, três médiuns sentados à mesma
mesa, a se voltarem - fato estranho e novo que dera motivo a zombarias - para
essas experiências, tão antigas entretanto, da telegrafia misteriosa entre os
dois mundos: o dos Espíritos e o nosso. Esses três experimentadores, cujos
destinos seriam dessemelhantes, mas iguais permaneceriam no devotamento, na
fidelidade e nos serviços prestados à Doutrina, eram: Camille Flammarion,
Victorien Sardou e Pierre - Gaetan Leymarie.
(2)
Frequentava Leymarie as sessões que Kardec realizava à rua Santana, em Paris,
às sextas-feiras (N. do T.)
Antes do seu
decesso, Allan Kardec organizou uma Sociedade anônima, de capital variável, à
qual legaria os seus bens, e isto com a finalidade de assegurar o desenvolvimento
regular e continuo do Espiritismo. Leymarie, um dos primeiros a tomar parte na
Sociedade, dois anos depois da desencarnação do mestre foi nomeado administrador
dela, passando, ao mesmo tempo, a redator-chefe e diretor da Revue Spirite.
Durante trinta anos, isto é, durante o largo e difícil
período em que o Espiritismo era quase continuamente alvo de toda espécie de
zombarias e ataques, Leymarie teve em luta constante, batalhando ininterruptamente
através da palavra verbal ou escrita, oferecendo na Revue terreno livre aos lutadores de todas as correntes, com a
condição de que defendessem causas espiritualistas ou de ordem essencialmente
humanitária e moral, expondo-se assim às criticas acirradas de uns, às
acusações ou ao descontentamento de outros; todavia, Leymarie jamais se afastou
da divisa do mestre: "Fora da
caridade não há salvação", e procurou subtrair de todas as discussões os
atritos pessoais e todas as questões Irritantes
*
Vejamos-lhes a
obra. Inicialmente, ele justifica que para a difusão desta luz, o Espiritismo,
é necessário preparar os espíritas. instruí-los e esclarece-los, e quando o seu
amigo Jean Macé, lhe expõe o projeto de fundar a Liga do Ensino, ele se oferece
com entusiasmo para auxiliá-lo, e, com a Senhora Leymarie, sua dedicada
colaboradora, contribui para essa criação, não só com seu concurso ativo e
pessoal, senão que também com a sua residência à rua Vivienne, de sorte que mui
justamente se pode dizer que a casa de Leymarie foi o berço da Liga do Ensino, da
qual Emanuel Vauchez se tornaria secretário-geral.
As questões de ensino, sucedem-se, nas preocupações de Leymarie,
as questões sociais; assim, seja nas páginas da Revue, seja em numerosas e eloquentes conferências, ele propaga a
existência do estabelecimento conhecido no estrangeiro, mas quase ignorado em
França - o Familistério de Guise, no qual
são praticados pelo seu fundador J.-B. Sodin, de maneira feliz e ampla, os
princípios da associação do Capital e do Trabalho. Leymarie se une a Godin, e,
enquanto lhe propaga os escritos não se descuida dos interesses propriamente
ditos da Doutrina. Noticia as experiências de William Crookes e registra os
primeiros ensaios de fotografia espírita. Ele próprio faz experiências com um
médium fotógrafo e obtém uma série de manifestações reais, que ele publicou na Revue. Mas chegou o dia em que a sua
boa-fé foi iludida. Os inimigos do Espiritismo, à espreita de tudo quanto
pudesse entravar o movimento crescente da Doutrina, aproveitaram-se com empenho
de um processo para lhe dar, ao Espiritismo, um grande golpe e exterminá-lo
através da poderosa arma do ridículo. Com efeito, foi mais um processo movido
contra os espíritas, do que propriamente um processo relativo a fotografias.
Leymarie, como bode expiatório, foi acusado dê todos os delitos, escarnecido e condenado.
Esclarecemos que tal condenação foi anulada, alguns meses depois, com a
reabilitação completa dele, e que o Espiritismo saiu dessa prova mais forte que
nunca, ao mesmo tempo que Leymarie teve aumentada a estima, a confiança e a
simpatia geral dos amigos sinceros da causa. (3)
(3) Para melhor
conhecimento dos leitores, relataremos, num breve resumo, esses acontecimentos
que a Sra. Leymarie houve por bem registrar, quase que tudo, na sua obra - “Procès
des Spirites”.
Aos 16 de
junho de 1875, o Ministério Público moveu processo contra os Srs. Leymarie, Buguet
e Firman. O fotógrafo Buguet, usando de manobras fraudulentas na obtenção de
fotografias de Espíritas, foi preso. Em virtude das relações amistosas que
entretinha com Leymarie, que, confiante, dele se serviu como médium e fotógrafo
em inúmeras ocasiões, o gerente da Revue Spirite foi também preso e julgado
como conivente. Aliás, sua excessiva confiança constituiu, em parte, a causa de
sua pouca sorte no comércio.
Em
consequência de depoimentos falsos, entre os quais o do próprio acusado
principal, o fotógrafo Buguet, foram todos condenados pela Justiça humana, o
que os fez recorrer par instâncias superiores.
Buguet
conseguiu sua liberdade passando para a Bélgica, onde se localizou; Firman, outro
envolvido no caso, obteve sua libertação graças a altas influências, mas Leymarie,
não fugindo à justiça, embora humana e falível fosse, dirigiu uma Memória a
Corte Suprema da França, protestando, perante sua consciência e seus filhos,
sua inocência, e afirmando sua confiança nas decisões daquele órgão supremo.
Buguet,
de Bruxelas, remordido de remorsos, escreve ao Sr. Dufaure, então ministro da
Justiça, asseverando, de uma maneira clara, sincera e positiva, a ignorância de
Leymarie em todos os processos por ele (Buguet) empregados nas fraudes fotográficas
e, consequentemente, a inocência dele. Não podia haver, pois, solidariedade
entre Leymarie enganado por Buguet e Buguet enganando Leymarie.
Que
Buguet era médium e fotografias mediúnicas verdadeiras foram obtidas por ele,
não há dúvida, como o atestaram muitas dezenas de pessoas, de diferentes países
europeus. Mas o médium, desconhecedor dos princípios da Doutrina Espírita, e, ainda
por cima, ganancioso, serviu-se várias vezes, quando nada conseguiu com a sua
mediunidade, da fraude, como ele próprio confessa.
Na carta mencionada, dirigida ao
ministro da Justiça, declarava Buguet, num certo ponto: “Lastimo, pois, haver
dito, na minha fraqueza, o contrário da pura verdade, renunciando eu a minha
mediunidade, e peço perdão a Deus por este ato que deploro, pois que ele serviu
para incriminar um homem estimável, e cuja boa-fé se tornou suspeita com as minhas
afirmações.”
De
várias partes do mundo, cartas e mais cartes chegaram às mãos de Leymarie,
confortando-o no doloroso transe por que passava e o oferecendo todos os préstimos
que a ele se tornassem necessários. Até mesmo do Brasil não lhe faltou o amparo
fraternal. Casimiro Lieutaud, em nome dos espíritas do Rio de Janeiro, endereça
aos membros da Sociedade para a continuação das obras espíritas de Allan Kardec,
em 1876, uma carta, reafirmando a admiração e o respeito que por Leymarie tinham,
e a certeza de sua inocência, em apoio da qual se prontificavam a colaborar
(Revue Spirite, 1876, pág. 10). Do próprio além-túmulo, vozes amigas, servindo-se
da mediunidade psicográfica de Leymarie, transmitem a ele mesmo doces páginas consoladoras.
Não
obstante as declarações abonadoras da integridade e inculpabilidade do acusado,
não obstante as afirmações reiteradas e sinceras dele mesmo, a Corte Suprema
confirmou o veredito das duas primeiras Cortes e Leymarie foi condenado a um ano
de prisão celular. Sobre isso a Revue Spirite de 1876, p. 167, informou os
leitares, esclarecendo que ele dera entrada na chamada Prisão de la Santé, em
22 de abril de 1876, e que, por singular coincidência, nesse mesmo dia e na
mesma hora, um ano antes, ele, Leymarie, era detido na prisão parisiense de Mazas.
Serena
e respeitosamente foi recebida a decisão da Justiça humana, confiando-se Leymaríe
à Justiça do Alto. Certamente, naqueles momentos aflitivos, perpassou-lhe pelo
espírito o julgamento de Jesus: e as palavras deste: Bem-aventurados os que têm
fome e sede de justiça, porque serão saciados.”
Conhecedores
do caráter irrepreensível do caro companheiro, caráter que se evidenciava nas
suas palavras e nos seus atos, não se arrefeceu a confiança que os espíritas
nele depositavam.
Em
1877, o gerente da Revue Spirite, H. Jolliy, comunicava a páginas 72 que
Leymarie, cumprida a pena de reclusão de um ano, estava entre os amigos desde
22 de janeiro, tendo logo voltado aos seus afazeres habituais.
(O
Sr. Paul Puvis - vide Revue Spirite de 1901, pág. 264 -, discursando no Père Lachaise,
em 12-4-1901, durante os funerais de Leymarie, reportou-se ao “Procès des Spirites”
dizendo que a condenação só alguns anos mais tarde se apagaria com uma reabilitação
completa.)
Agora,
satisfeita a justiça dos homens, o incansável discípulo de Kardec retomava a
administração e direção da “Sociedade para a continuação das obras espíritas de
Allan Kardec” e da Revue Spirite pelas quais proficientemente trabalharia até a
sua desencarnação.
As
Trevas, por instantes, desejaram empanar o Espiritismo, mas em vão!
Conhecendo
ou não toda a verdade desses fatos, alguns irmãos de batina, ao fazerem em seus
livros referência ao movimentado caso, com ardilosa síntese insinuam no espírito
do leitor a conivência de Leymarie no crime de Buguet, conquanto afirmem que
ele, Leymarie, “se indignou contra os médiuns mistificadores” e “flagelou os fraudadores
do Espiritismo”.
Nós,
os espíritas, temos o dever de defender e honrar sempre a memória daquele que
foi - pode dizer-se - um mártir da Terceira Revelação. (Nota do Tradutor)
...............................
Em 1878, ao lado da “Sociedade
para a continuação das obras espíritas de Allan Kardec”, Leymarie organiza
a Sociedade Científica de Estudos
Psicológicos. Congrega, em torno desta obra, os homens mais eminentes, como
Charles Fauvety, Eugène Nus, René Caillé, Camille Chaigneau, Trèmeschini,
Charles Lomon, Dr. Chazarain, etc.
Em seus trabalhos, esta Sociedade se dedicava igualmente
ao estudo das teorias e das experiências do magnetismo animal e da mediunidade,
estudando-se ainda as obras originais de Cahagnet e de Roustaing, a doutrina de
Swedenborg, o grande precursor do Espiritismo, bem como o atomismo, a teosofia,
o budismo, o transformismo e, por fim, o ocultismo.
Com Leymarie, prossegue a tradução das obras de Allan
Kardec em todas as línguas do mundo civilizado, ao mesmo tempo que se inicia,
para continuar com êxito por vários anos, o trabalho de conferências.
O diretor da Revue
Spirite coloca-se à frente daqueles que vão espalhar por toda parte a nossa
salutar e reconfortante Doutrina. É ele visto sucessivamente pela França, em
todos os centros importantes (4), indo,
depois, à Bélgica, Itália e Espanha.
(4) Além de
outras, em maio/junho de 1882 realizou pelo oeste da Franca uma tournée de conferências
que durou dezesseis dias. (N. do T.)
Em 1889, Leymarie organiza o 19º Congresso Espírita na França
(5), mas se esquiva de posições e se
limita a aceitar a vice-presidência de uma seção.
(5) Foi
realizado em Paris com a denominação de “Congresso Espírita e Espiritualista
Internacional”. (N. do T.)
A administração da
Sociedade dia a dia lhe absorve o tempo pois que, elevando-se os recursos dela
com a liberalidade de um dos seus membros, o Sr. Jean Guérin, as dificuldades
de gerência surgiam e cresciam continuamente.
Tal como procedeu Alia Kardec, Guérin, antes do seu
passamento, tomou todas as providências para assegurar o benefício de seus bens
à Sociedade Cientifica de Espiritismo
mas surdas hostilidades surgem e encontram, na lei, artigos para inutilizar a vontade
do extinto.
A luta começa quase
que no dia imediato ao do falecimento de Guérin. Processos e mais processos e, quando
se supõe haver chegado ao fim, quando se crê ter adquirido ao menos a tranquilidade,
eis o processo dos herdeiros de Kardec, a apoiar-se nos herdeiros de Guérin e
tudo recomeça e continua, até que, por fim, apesar de uma resistência vigorosa
e perseverante, a Sociedade, representada e administrada por Leymarie, sucumbe.
Todavia, tantas
provas não foram suficientes para prostrá-lo ou afastá-lo do dever. Em meio dos
maiores aborrecimentos e inquietações, ele prossegue valorosamente em sua
tarefa e torna conhecidos os trabalhos e as principais obras de escritores
espiritualistas, com os quais, em sua maior parte, ele se acha em contato, tais
como: em França, E. Nus, l.éon Denis, Emest Bosc, Encausse (Papus), Gibier,
Baraduc, Sras. Noeggerath e Annie Besant, Comandante Cournes, Gabriel Delanne,
Strada, etc., na Inglaterra. R. Wallace, Lodge, Stainton Moses; na Rússia,
Aksakof; na Améríca, Van der Naillen; na Itália, Chiaia e o professor Falcomer.
Em 1896, ele enviou ao Congresso Internacional do
Espiritualismo, em Londres, um trabalho particular sobre a Evolução e a Revelação.
Na Revue,
repetidamente deu publicidade a questões relativas ao estabelecimento da paz
pela arbitragem, à emancipação da mulher, à obra dos liberados de S. Lázaro e
até ao estudo de Inteligência entre os animais, ao qual consagrou interessantes
páginas.
*
Leymarie foi filho
de suas próprias obras. Pela perseverança no estudo, pela energia e constância
no trabalho, assim como pala seu espírito conciliador e tolerante, ganhou a
confiança de Allan Kardec e conquistou a simpatia da maior parte dos pensadores
espiritualistas do seu tempo. Sua fé profunda fez dele um conferencista e
escritor espírita. Improvisava suas conferências, e a palavra lhe saía ardente,
vibrante, cheia igualmente de convicção e do desejo de convencer. Seus escritos
eram obra do primeiro jato, a forma era neles sacrificada, em benefício do
pensamento. Foi, como ele próprio se considerava, um publicista, mas publicista
sério, propagandista ardoroso, de boa-fé, um profundo erudito pensador.
Ao lado do pensador, nele havia ainda o homem dedicado e sensível,
desinteressado e caridoso, que esquecia as injúrias, que amava profundamente
sua família e os amigos, que não repelia ofensas, aceitando os sofrimentos físicos
morais como provas salutares, e informando-se das angústias do próximo para
partilhá-las e amenizá-las.
Desencarnou em 10 de abril de 1901, após longa e dolorosa
enfermidade que lhe abateu a robusta constituição, deixando-lhe, porém, intacta,
até ao fim, sua alma enérgica e varonil. (6)
De acordo com as suas últimas vontades, seu corpo foi
incinerado. As cinzas repousam no Père Lachaise, sob um dólmen, em cuja pedra
se lê a seguinte inscrição: “Morrer é deixar
a sombra para entrar na claridade.”
(Biografia traduzlda de Les Pionniers
du Spiritisme en France, J. Malgras, 1906, por Zêus Wantuil.)
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(6) “Reformador”
de 1º de Junho 1901 registrava em suas colunas, sob o título – “Os Libertados”, a notícia da desencarnação
do fiel trabalhador da seara espírita, enaltecendo lhe as qualidades morais e
os relevantes serviços prestados ao Espiritismo mundial. (N. do T.)
É o que o blog publica a seguir:
“Os Libertados - P.-G. Leymarie
Reformador (FEB) 1º Junho
1901
O Espiritismo na França e, particularmente, a Revue Spirite, de Paris, acabam de
sofrer um rude golpe com a desencarnação do eminente confrade cujo nome ilustre
ilustra esta notícia e que, contemporâneo do nosso mestre Allan Kardec, a cujo
lado e sob cuja direção trabalhou, como auxiliar e médium que era, vinha desde
então prestando à nossa doutrina os mais preciosos serviços, cuja enumeração
não cabe na exiguidade do espaço que dispomos.
Como prova do seu prestígio e da sua esclarecida
capacidade, a um tempo voluntariosa e tolerante, na mais ampla acepção deste
termo, basta dizer que, suspensa por ocasião da desencarnação do mestre, em
1869, e tendo sobrevindo, no ano seguinte os graves sucessos de que Paris foi o
teatro, a Revue Spirite só voltou à
publicidade quando ele resolveu a assumir esse dificílimo encargo, arrostando a
tradição luminosa ali deixada por Allan Kardec.
E, desde então, e até quase esse 10 de abril que assinala
seus últimos instantes de vida neste mundo, não teve ele outra preocupação mais
absorvente do que manter a sua querida revista à altura do movimento neo espiritualista
de seu tempo, ele próprio imprimindo-lhe a sua orientação filosófica e
superintendendo a sua parte financeira.
Trabalhador infatigável, não dava ele tréguas às exigências
do dever, senão para preencher esse outro dever, mais alto e mais nobre do que
todos – o do exercício da caridade, que ele praticava indistintamente, segundo
os preceitos da moral que professamos, numa abundância de coração, que não foi
o menor merecimento de seu apostolado.
E foi ainda um motivo de coração o que abreviou o
desfecho da sua existência laboriosa, a dor de ver ganha pelos seus adversários
a ação, menos contra ele que contra a nossa doutrina, intentada pelos herdeiros
remotos do nosso mestre Allan Kardec, a propósito da propriedade das obras e da
legitimidade de doações feitas em benefício do Instituto de propaganda assim
mantido, e contra cuja existência maquinam há alguns anos aqueles espíritos
reacionários.
Certo que não será isso motivo que impeça a marcha da
nossa doutrina naquele canto do planeta.
Mas... (pequeno trecho ilegível)
Cônscio
da proximidade do fim que atingia sua tarefa neste mundo, conservou ele,
entretanto, suficiente lucidez para escrever as suas últimas determinações, entre
as quais assinalaremos, como nora curiosa, o desejo de que fosse o seu corpo
incinerado, cerimônia que efetivamente teve lugar, no dia 12 de abril, no
cemitério do Père Lachaise.
Ali lhe foram igualmente dirigidas, em eloquentes
orações, afetuosas palavras de despedida, por alguns dos mais ilustres
representantes da propaganda espírita na França, como os Srs. Beaudelet, Paul Puvis,
J. Camille Chaigneau, comandante D.A. Courmes e A. Auzanneau.
Restituído agora às alegrias da vida espiritual, possa o
venerando confrade continuar a sua gloriosa tarefa ao lado do nosso mestre,
como aqui na Terra, para maior felicidade do seu espírito.
Tais são os nossos afetuosos votos.”
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