Ciência,
Filosofia, Religião
por Ismael Gomes Braga
Reformador (FEB) Fevereiro
1961
Allan Kardec demonstrou que o Espiritismo estuda
fenômenos naturais, espontâneos e provocados, do mesmo modo que as ciências
naturais, e, por isso, tem muito de comum com a Ciência. Este o seu aspecto
mais terra-a-terra, satisfaz apenas à curiosidade, à sede de saber.
Em segundo lugar, busca a interpretação desses fenômenos,
descobrindo as leis que os governam e recebendo das entidades comunicantes a
revelação de outras leis mais abstratas, mas igualmente naturais, que
esclarecem a vida em suas múltiplas modalidades. Procura as causas, os
processos, as finalidades e assim invade os domínios, da filosofia, formando
uma concepção do Universo e da Vida.
Como essas indagações abrangem todos os aspectos da Vida
e do Universo, o visível e o invisível, elas constituem um corpo de filosofia
realmente grandioso e que não perde o contato com o terra-a-terra da observação
científica, mas toca os domínios da Religião, porque demonstra que os estados
da alma humana estabelecem relações de afinidade ou de desacordo com as leis
que presidem à Vida, criando respectivamente a plenitude ou o vácuo, a
felicidade ou o sofrimento. Demonstra que existem leis de afinidade que
permitem o contato do homem com as Inteligências Superiores que executam os
desígnios de Deus, ou, ao contrário, dificultam esse contato e estabelecem
afinidade com inteligências inferiores que ainda não têm consciência dos
desígnios de Deus retardam a evolução do homem.
Esse grandioso corpo de filosofia espírita, formado em
parte pela observação e em parte recebido pela revelação, é profundamente religioso,
porque demonstra a existência de Leis Divinas que regem a Natureza, Leis que
tudo planejaram inteligentemente, e às quais o homem tem de submeter-se em seu
próprio benefício para alcançar a plenitude da vida; mas tal sistema filosófico
não deixa de ser igualmente científico, porque é da observação dos fenômenos
que ele recolhe confirmação para suas teorias e para as revelações que recebe
das entidades comunicantes.
Os críticos do Espiritismo ainda se acham na primeira
fase na observação dos fenômenos, e observação até muito incompleta e
imperfeita. Terão de levar ainda muito tempo para aceitar os fenômenos e
compreendê-los, pois que estudam, ou tentam estudar, com os olhos vendados pelos
preconceitos da escola materialista. Despenham-se para o abismo das negações
inteiramente anti-científicas: procuram apenas o que possam encontrar de
negativo.
Enquanto estudam apenas para negar, em outras
inteligências mais livres a filosofia espírita vai conquistando terreno sem
levar em conta os críticos negadores.
A filosofia espírita vai lhes demonstrando que nessa
imensa oficina de Deus, que é o Universo, o homem é um produto ainda inacabado,
nos mais diferentes graus de aperfeiçoamento, mas rumando todos para perfeição
que terá de ser alcançada dentro da eternidade. Comparando o que já realizou
ele de progresso moral e intelectual neste curto tempo decorrido depois de seu
aparecimento sobre a Terra, onde ele é um recém-chegado em comparação com
outros seres vivos que existiram durante milhões de anos antes dele surge a
grande esperança de seus altos destinos nos futuros milênios.
Os negadores vão ficando insulados e pasmos de o mundo não
lhes dar a atenção que eles julgam merecer. Virá afinal o tempo em que o Espiritismo
será ideia velha e consagrada pela Humanidade. Só então os negadores de hoje, já
em novas encarnações, poderão extasiar-se diante dessa majestosa concepção da
Vida e do Universo que é exposta pela filosofia espírita.
Todos os conhecimentos científicos revelam leis sábias da
Natureza e nos levam ao respeito pela Força Misteriosa que estabeleceu essas
Leis, sendo, portanto, caminhos para a Religião.
Todas as explicações dos fenômenos sábios da vida são
dados filosóficos que nos despertam igualmente o maior respeito pela Força que
se manifesta nas Leis da Vida, conduzindo-nos, portanto, à Religião, à adoração
do Criador.
Consequentemente, os aspectos científicos e filosóficos
do Espiritismo nos descerram o seu sublime aspecto religioso.
Quem se detenha só nos fenômenos, alcança uma parte muito
pequena do todo. Quem se contente com seu majestoso sistema filosófico, conquista
um imenso tesouro intelectual, mas fica ainda na região apenas do conhecimento inoperante.
Quem se eleva ao seu aspecto religioso, incorpora o Espiritismo à vida; entra
para a vida universal, para a afinidade com a Misteriosa Força criadora do Amor
Universal que está presente em tudo e em todos; começa a sentir em si mesmo a
unidade a criatura com seu Criador e. por isso, a perceber a solidariedade de
tudo que vive.
O conhecimento científico satisfaz à curiosidade, o
filosófico contenta à razão, mas só o religioso se incorpora à vida.
No entanto, o aspecto religioso, sem os seus alicerces
científico e filosófico produziria apenas o fanático religioso, desorientado,
que agiria loucamente contra as Leis naturais, tentando submete-las ao seu
arbítrio e a seu proveito, no maior desrespeito à harmonia universal. Só conduziria
a desenganos.
Os três aspectos são inseparáveis.
Depois de haver bem compreendido esses três aspectos, o
homem se torna de um otimismo irresistível. Tudo se transforma em bem a seus olhos;
mesmo a situações e dores mais terríveis são apenas processo da evolução para
atingir um bem maior, um grau mais elevado de vida e felicidade. Em tudo Deus
se lhe manifesta através dos homens e da Natureza.
Sua perfeita Justiça tudo corrige e transforma em bem.
Começa o homem a compreender a Providência Divina que o
cerca de amparo desde antes do nascimento até depois da morte, pondo lhe no caminho
da vida somente benfeitores: uns na forma positiva de parentes e amigos que o
protegem diretamente, outros na forma indireta de inimigos que o advertem,
admoestam, corrigem defeitos punem faltas, reparam o passado, cobram dívidas cármicas,
ajudando-lhe sempre o progresso e lhe criando felicidade.
Uma calamidade universal, que aos leigos apavora, é para
ele uma bendita expiação coletiva para abreviar o progresso dos homens, conduzindo-os
mais rapidamente à felicidade.
O maior monstro da História é para ele apenas um anjo
retardado na evolução, mas que terá fatalmente de chegar à plena angelitude, porque
Deus não o desamparará nunca. Suas sábias Leis se encarregarão de conduzi-lo ao
bem supremo.
O mundo mental do espírita é absolutamente impenetrável
para o leigo, para o adversário, mas o leigo e o adversário também estão no caminho
do progresso e chegarão infalivelmente a ser espíritas perfeitos no futuro:
virão um dia a possuir todo esse sublime idealismo que a tudo ilumina e embeleza.
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