A falência
do materialismo - parte 1
Cândido
Elesbão
Reformador (FEB) Novembro
1918
Quem quer que, sem
espírito de sistema e livre de preconceitos e vaidades, empreender a crítica da psicologia
ortodoxa, a qual os materialistas concedem foro de cidade há de sentir uma
forte decepção e confessar que esse capítulo da fisiologia que, na classificação
das ciências de H. Spencer goza os privilégios
de ciência à parte e foi a pedra de toque da crítica do filósofo inglês à seriação
de Comte, há de confessar que ela é
uma verdadeira colcha de retalhos, que não satisfaz, de modo algum às nossas tendências
porque as não explica e as nossas aspirações porque, essencial e grosseiramente
materialista, as não incentiva.
A
vaidade, milenarmente considerada a causa de todos os nossos erros, culminou
nestes dois séculos, o passado e o atual, e o homem, que não sabe de onde veio
nem para onde vai, cego de orgulho,
repudia o Evangelho que lhe não incensa a vaidade e o reduz à condição de humilde
pecador e proclama a excelência das explicações ditas positivas ou científicas,
pelas que prescinde de investigar a sua origem – e já não pode então ser coerente
negando a Criação, como na filosofia de Comte
- ou aceita a explicação evolucionista e inteiramente dominado pelas encenações
naturalísticas de Lamarck ou pelos embustes monísticos de Haekel não sente ofender-se o seu desmedido orgulho e admite que
entre o macaco e os animais há maiores diferenças que entre o macaco e o homem.
Repugna ao seu orgulho de falido rei da Criação admitir que a obra de Deus não
se s a ente humilhado ao confessar que teve por antecedente na série animal um macaco
da ordem dos primatas! E, para explicar a vida, para demonstrar a consciência, inventa
a base física do espírito, e, com Haeckel,
não vacila em descer aos bas-fonds dos laboratórios e declara que toda essa
trama de idealismos, todo esse conjunto de coisas sutis se origina de uma ação química
difundida na teoria do carbono, como Haeckel a denomina, encerando na mesma grosseira
retorta os materiais que entram na composição das almas!
Na psicologia moderna, a psicologia do sábio materialista
os absurdos pululam e nela se trás a sua preocupação de demolir o edifício que condena
o seu orgulho e contra cujos muros a sua louca vaidade esbarra fragorosamente.
Nessa psicologia, a cada passo surgem os absurdos pretendendo
explicar aquilo cuja explicação evangélica repudiam por, como afirmam, incompatível
com a dignidade humana.
Ora, ou o homem não tem direito a essa dignidade, descende
do macaco, e pois entre os termos da série animal não há tanta diferença que autorizem
privilégios, ou tem na e é obra do supremo Árbitro dos mundos. Não há como
fugir ao dilema sem arranhar a lógica. Senão, que nos venham explicar onde
começa e de que é feita essa dignidade, que ao símio superior é negada.
A Psicologia escolástica se baseia no observado e não passa
de absurdo a memória da célula
ou memória orgânica com que Th. Ribot pretendeu arquitetar uma
teoria que satisfizesse os caprichos e os defeitos dos vaidosos e dos fúteis.
Essa ciência materialista, por mais que para isso se esforce,
não consegue opor ao dogma da Criação, o dogma grosseiro da matéria incriada,
que isso é negar a própria ciência, admitindo que do nada se pode fazer alguma coisa;
para tanto, fora preciso que essa ciência e essas filosofias arrivistas já houvessem
conseguido demonstrar a possibilidade, sequer, da geração espontânea, que, segundo
Haeckel mesmo, “não é possível atualmente, mas, outrora, quem sabe?”
Não foi somente o transformismo ou monismo, como denomina
Haeckel, o único filho repudiado da
verdadeira ciência, e nem o único que sofreu golpes como os que lhe vibrou o célebre
materialista G. G. Stockes: a ciência
repelia também a superfectação que foi a teoria das localizações cerebrais de Gall, como já vai passando do ridículo a
fantasmagoria que E. Metachinikoff denominou - fagocitose - e
que, já em 1890, no Congresso médico de Berlim, recebia a condenação do
eminente Kock.
Ribot afirma
desassombradamente que o verdadeiro tipo da memória orgânica deve ser procurado
no grupo de fatos que Hortley
denominou ações automáticas secundárias, em oposição aos atos automáticos
primitivos ou inatos.
Essas ações secundárias ou movimentes adquiridos, afirma Ribot, são a base da nossa vida e, para
provoca-lo cita o exemplo da locomoção nas crianças que é um poder adquirido,
enquanto que nos irracionais é inato.
E continua asseverando que essa força da coordenação de
movimentos, que mantém o equilíbrio do corpo, tem de ser adquirida particularmente.
É aqui que o sábio cai no absurdo, porque desse modo nega o princípio de
fixação de caracteres e tendências adquiridas, que é a base da filosofia evolucionista;
nega a mesma memória orgânica ou da célula, de que é campeão, afirmando que nos
irracionais existe essa memória que torna a locomoção inata e negando-a ao
homem e mente por último à sua psicologia, porque nega a hereditariedade e o atavismo,
que são o seu fundamento. E lá onde a ciência materialista não vai e não vão os
olhos dos seus pregoeiros, porque não vê por eles o microscópio, lá mesmo vai a
nossa fé demonstrável, vai a razão por nós e onde acham eles a incógnita que
tornou o seu problema insolúvel, nós, os que cremos no Espiritismo, encontramos
Deus, que é a suprema razão que o materialismo moderno nega por vaidade mas não
consegue destruir na consciência dos seus próprios pioneiros. Fere isso a
dignidade dos sábios? Envergonha os a possibilidade de confessarem que Deus é o
criador do mundo? Como então se não vexam de sua ignorância? Qual das suas
confissões rebaixa mais o homem?
Não afirmamos uma só coisa que não provemos, enquanto essa
ciência de vaidade e de orgulho anda a tatear, de hipótese em hipótese, de absurdo
em absurdo; e quando o materialismo presente a falência dos seus dogmas, apela
para o tempo e diz que é preciso esperar, porque tal ou tal incógnita terá o
seu valor conhecido daqui a cinquenta ou daqui a cem anos; ou então, como no caso
da geração espontânea, confessa pela boca do pai do materialismo moderno que “ela não é possível agora mas, outrora, quem
sabe?” Assim é Haeckel, assim é Ribot e com eles andam embrenhados num
labirinto de dúvidas todos os campeões da mentira e do erro.
As consequências decorrentes desta anarquia moral, são, para
a humanidade, simplesmente deploráveis e é ao erro grosseiro do materialismo, que
pensa organizar a Sociedade Moral sem Deus, A pseudo moral de sanção científica,
entendendo-se por ciência tudo quanto esses fátuos arquitetam para negar a
nossa origem divina e a criação universal pela vontade de Deus, é a esse erro que
tal anarquia se deve.
E é exatamente por isso que, em plenos tempos atuais Felix, le Dantee nos afirma que
é o egoísmo a base de toda sociedade e depois de verdadeiros malabarismos de ideias
e frases nos afirma com autoridade insuspeita, porque é a confissão completa da
falência dos dogmas da sua ciência que tudo quanto os homens têm feito para banir
das consciências o domínio do sobrenatural só tem tido um efeito contraproducente,
implantando a anarquia onde deve reinar a ordem e gerando o ódio dos restos
esfrangalhados da fraternidade universal que eles golpeiam desapiedadamente.
Eis como fala le
Dantee:
“Sob o verniz artificial da civilização, a concorrência e
a rivalidade primitiva se sobrepõem ao egoísmo
necessário (?) do instinto de conservação. Geralmente, em uma sociedade em
estado pacífico, esta rivalidade não se manifesta por lutas efetivas, por
batalhas nas ruas, mas, nem por isso deixam essas rivalidades de ficar profundamente
gravadas no íntimo de cada um de nós; e como não ser assim, se somos seres
vivos? Os cidadãos de uma mesma nação não são perfeitamente irmãos senão enquanto
contra o invasor estrangeiro. Passado este período excepcional, que exalta a
fraternidade sob a influência do perigo comum, os concidadãos se separam uns
dos outros por ódios latentes, ou, pelo menos, fazem parte de agrupamentos rivais,
e verdadeiramente inimigos; as famílias se tornam agrupamentos rivais, quando
não são elas próprias divididas pelas rivalidades íntimas. “(F. le Dantee – L’Egoisme base de toute societé: 9me mille, pags. 189, 190 e seguintes.)
Pois bem, o escritor toma o efeito pela causa,
evidentemente. E sabeis qual a fórmula aconselhada por esses doutrinadores para
o aperfeiçoamento dos nossos sentimentos, muito embora concluam que a fraternidade
é uma utopia?
Lede: Egoísmo, mais egoísmo, sempre egoísmo!
Cândido
Elesbão
Reformador (FEB) 1º
Fevereiro 1919
Sendo todas as
questões religiosas do domínio da moral, é claro que todos os trabalhos, quer de
exegese quer de sistematização tem a sua base na psicologia e é pois a ela que nos
havemos de referir e é pois a ela que nos havemos com maior' frequência,
criticando o empirismo dos seus codificadores materialistas e esforçando-nos sempre
em demonstrar as nossas leis, os nossos métodos, que nos conduzem a conclusões
diversas das dos materialistas e que a nossa consciência aceita sem nenhum
esforço, porque nos apontam a verdade.
A não ser assim, cairíamos no erro dos nossos adversários,
o erro da vaidade moderna, que estabelece premissas muitas vezes verdadeiras para
chegar a conclusões sempre inteiramente falsas.
Nós consideramos, preliminarmente, com H. Spencer, que a
psicologia é uma ciência completa e não um
capítulo apenas da Biologia, como quer Comte,
porque, se é certo que há uma, muito limitada, aliás, relação entre o fenômenos
da ordem psicológica e os de ordem fisiológica, essa relação não chega a ser a
relação de causa e efeito e, o moral independe absolutamente do físico, isto é,
os fenômenos do espírito nada têm de comum com a matéria, não existindo
portanto a subordinação absoluta de um a outro, como pretendem os campeões do
materialismo em todas as suas modalidades. Spencer
foi menos materialista, talvez inconscientemente, e lançou as bases de um método
mais racional, porque, principalmente Spencer
não tinha em vista nenhuma construção religiosa que precisasse de alicerces fora
da razão, como sucedeu a Comte que,
tomado da ideia fixa de modificar a sociedade de seu tempo de modo a conseguir
gozar as delícias de uma vida sem as peias que a moral impõe, arquitetou uma
filosofia, descobriu novos métodos, traçou caminhos novos à lógica, baniu do domínio
da ciência a investigação das causas primárias e finais, substituiu Deus pela
Humanidade, Maria Santíssima por Clotilde e morreu quando já se preparava
para substituir-se a José, o modesto carpinteiro
da Galileia que nunca pensou na possibilidade de causar inveja a um filósofo do
século XIX. Eis aí a razão porque Comte
proclamava a necessidade de “libertar a ciência das hipóteses religiosas”, porque
era preciso construir uma Moral sem Deus e essa Moral reclamava uma revolução
completa da psicologia para poder explicar o que para ele era inexplicável, e a
derrocada da Moral evangélica que repelia os desvarios da sua senilidade vaidosa.
Dentro do evangelho nenhuma construção Moral se enquadra
senão a de Cristo e, como a Moral de sanção
científica é uma burla já escalpelada por J.
Grasset no seu interessante opúsculo “O
Evangelho e a Sociologia”, foi preciso demolir o Evangelho, prescrever a revelação,
negar a consciência, negar Deus, porque Deus não sancionaria jamais as libertinagens
cerebrais do fundador do positivismo.
Se Augusto Comte pois, obedecendo ao critério da “complexidade
crescente e generalidade decrescentes”, achou a Astronomia perfeitamente
libertada da Física e da Química com o só recurso da análise espectral para que
a tivesse colocado no segundo termo da sua série, isto é, logo a seguir à matemática
e precedendo àquelas duas ciências,
deveria igualmente ter visto que a Psicologia já estava suficientemente
desprendido da Biologia para poder formar um termo especial da série dos conhecimentos
humanos. Se o não viu, se o não fez, foi porque lhe não convinha ao seu caso
particular, isto é, porque a Psicologia, como a Moral, não se poderiam
estabelecer sobre o critério materialista, pois como muito judiciosamente
observa o materialista Ostwald, (Esquisse d'une Philosophie des Sciences,
pag. 174) “Nous ne savons pas quelle est
I'espéce dénérgie qui a propage dans le nerf.”
Ora, se ainda hoje se afirma isso, é porque a razão está
conosco, os que dizemos que os fenômenos da alma estão fora da apreciação pelo
critério materialista que subordina as manifestações do sentimento e da razão às
precárias contingências da substância nervosa.
E Comte mesmo, sentindo que as coisas no domínio espiritual
não se passam como as descrevem os demolidores de Deus, não hesitou em, com escândalo
dos cientistas do seu tempo, proclamar a tese do literato Vauvegnargues pela boca de Clotilde:
“Os grandes pensamentos vem do coração.”
A crítica do conhecimento e as várias teorias do
conhecimento que correm mundo, seja a de Kant,
seja a de Ostwald, nada mais são que
engenhosas construções destinadas a favorecer a mistificação a que visam
quantos não querem que o conhecimento venha de Deus. Kant mesmo não conseguiu subordinar o mundo ao seu imperativo categórico,
espécie de deus pagão que ele descobriu dentro das nossas consciências porque,
para mudar apenas o nome todos nós preferimos ficar com a denominação antiga,
que é Deus.
Para nós, portanto, os modernos dualistas que estudamos o
espiritismo, a Psicologia está perfeitamente edificada, desprendida da Biologia
no sentido da não subordinação dos fenômenos do espírito à matéria e só para nós
ela passou a ser uma ciência verdadeiramente experimental, porque foi sobre
ela, sobre as suas experiências, que se calcaram os estudos dos fenômenos espíritas,
que já preocupam o mundo inteiro sem o escândalo dos primeiros dias.
A
falência do materialismo - parte 3
Cândido
Elesbão
Reformador (FEB) 15 de
Fevereiro de 1919
A Psicologia, portanto, é para nós uma ciência, a mais
importante das ciências e não pode, como as demais, no dizer do eminente Farias
Brito ser “reduzida a sistematizações rigorosas e fórmulas precisas”.
(O mundo interior). Daí, uma nova teoria do conhecimento,
única compatível com a verdade, porque diz igualmente com a razão e com o sentimento
e não sanciona o absurdo de Ribot
quando ele proclama a independência radical entre o sentimento religioso e o Moral.
(Psychologie des sentiments).
Para nós, pois, o problema humano é um problema
religioso, eminentemente e exclusivamente religioso, porque é um problema
moral; a sua solução, portanto, residirá na filosofia que conciliar a razão e o
sentimento, e se desdobre numa religião ou filosófica prática que possa ser
chamada religião científica, isto é, que seja a mais alta manifestação da
intelectualidade dentro da mais perfeita expressão da sentimentalidade.
Não podemos admitir outras leis nem outros métodos, senão
estes que a razão nos aponta e subordinam a Deus, porque um método é um
instrumento da ação para o aproveitamento da existência no seu lado prático e
animal e o conhecimento, que faz à aridez dos métodos, será sempre a revelação
espontânea de Deus, que é um metodizável.
Nós professamos, por consequência, uma psicologia que
rejeita os métodos materialistas e não se prende ao microscópio e não reduz a vida
intelectual a vida de uma célula nervosa, por mais aperfeiçoada que ela seja. A
nossa psicologia é espiritualista porque, só pelo espírito nós vivemos e só
pelo espírito chegamos a sentir Deus em toda criação. E porque é a consciência quem
no lo mostra em tudo, foi preciso aos materialistas subordinar a consciência à
matéria, dá-la como função do grosseiro invólucro que a custo carregamos na Terra,
para que pudessem edificar uma ciência desprendida de hipóteses religiosas, como
se fosse possível desvirtuar o problema humano e fazê-lo deixar de ser um
problema religioso!
E
para chegar a esse resultado o materialismo inverteu tudo, e, para que a
solução estivesse de acordo com os dados do problema, este foi invertido também,
de maneira que, enquanto para nós, espiritualistas, o problema humano e o da felicidade
do homem após a morte, para eles, os sábios, esse problema é o da felicidade do
homem na Terra. Mas, mesmo assim, a nossa filosofia ainda é mais verdadeira e
mais útil que a deles, porque, enquanto a solução que encontraram não se
enquadra no nosso problema, isto é, não faz a felicidade do homem depois da morte,
a nossa resolve os dois, o nosso e o deles, porque, preparando o espírito para se
aproximar de Deus, prepara a sua felicidade na Terra também, plantando na sua consciência
virtudes que nos enchem de paz e igualmente nos aproximam de Deus.
Que só a nossa demonstração e só a nossa experimentação conduzem
à Verdade confessa-o o próprio Ribot,
como se pode ver na sua obra L'herédité
psychologique, 8ª edição, págs. 188 e
seguintes, em que, tratando da herança mórbida ele classifica em duas ordens os
fenômenos que se passam no cérebro humano: as desordens do espírito a que correspondem
alterações evidentes dos tecidos dos centros nervosos e aquelas em que o encéfalo
não apresenta nenhuma alteração apreciável.
Fundando-se nos fatos da segunda categoria é que muitos
alienistas, com Leuret à frente sustentam
poder a loucura ter causas puramente psicológicas, isto é, inteiramente independentes
das condições do cérebro, livres portanto da influência física e, pois, de causa
inteiramente desconhecida. O mesmo afirma Esquirol,
e quase a mesma coisa sustenta o eminente alienista português Júlio de Mattos, notadamente na sua
importante obra. “A Loucura”, que, apesar
de materialista, combate muitos erros e exageros de Legrand du Sarelle, Kraft-Ebbing
e outros; Júlio de Mattos afirma que,
de um modo geral, se pode dizer que o louco já nasceu louco, não sendo a
loucura um acidente repentino; pois, esta só esperava o momento oportuno para
se manifestar muito embora não se encontrem
nas diversas regiões cerebrais de muitos loucos, nenhum estigma da loucura.
Que as coisas se podem passar assim, nós admitimos perfeitamente:
discordamos porém das conclusões desses escritores, porque interpretamos
diversamente os fatos e lhes damos a nossa explicação espírita. Como quer que
seja, porém, nada autoriza as conclusões dos materialistas, porque tais fenômenos
não se podem subordinar à matéria, e se não dependem dela, tanto que lhe não
são subordinados, é porque ela os não gera, e só nós acertamos quando dizemos que
tudo no mundo se passa segundo a vontade de Deus.
Ribot conclui
então do seguinte modo: “Tudo concorre, em ciência, segundo Leuret, para arruinar esta tese: que a loucura
tem sempre e necessariamente o seu foco em uma alteração orgânica, concorrendo
portanto a observação científica para chegarmos a esta definição:- a loucura
consiste numa aberração do entendimento... e
as suas causas pertencem as mais das vezes a uma ordem de fenômenos completamente
estranhos às leis da matéria.” O grifo é nosso. Ribot continua: “Apesar destas afirmações categóricas, a tese de
Lauret cada vez conta menor número de adeptos, mesmo entre os filósofos. É porque, no fundo, ela repousa apenas sobre
a nossa ignorância e sobre a nossa impotência; pois, em muitos casos, não há causa
física porque nós não a vemos. Mas, para além dos limites que o poder do microscópio
não ultrapassa, produzem-se fenômenos que, embora inapreciáveis por nossos sentidos,
não menos materiais.” Ora, isto é metafísica
e está muito à vontade junto das causas primárias e finais que esse mesmo materialista
Ribot condena. Se eles condenam a
metafísica, dizendo-a incompatível com a ciência, e se expressam desse modo, é
porque apenas estão trocando os nomes às coisas, isto é, convencidos do seu
erro, apenas pretendem substituir o nome da metafísica por outro qualquer que lhes
soe melhor ao ouvido. Apenas isto. Se, pois, para além do campo do microscópio
se passam coisas que escapam aos sentidos e nem por isso deixam de ser exatas,
então não neguem Deus com o argumento de que é indemonstrável.
Mas, a ciência oficial cheia de preconceitos, inçada de
orgulho, nada vê que não seja no campo do microscópio e confessa que, mesmo o que
não pode ver, é função da matéria. Ora, essa ciência tateou anos infindáveis
num labirinto de conjecturas em relação ao soluço, ao espirro e ao sono, e ainda
em relação a este último continua na mais santa ignorância, muito embora os seus
pregadores houvessem arranjado a teoria do afastamento dos neurônios para explicar
o fenômeno, que para nós é elementar, mas, nem mesmo essa teoria chegou a ser o
seu novelo de Ariadne, porque eles, os
sábios, continuam a ignorar porque as células cerebrais se afastam, como se
afastam, quais os espaços que se originam entre os seus prolongamentos ou neurônios,
sem prejuízo da capacidade do crânio, e sem os desastres das compressões, que
eles mesmos classificam de mortais, e autorizam a trepanação dos ossos da cabeça,
quer para levantar o osso que comprime as serosas ou até a massa encefálica, quer
para esgotar os líquidos que produzem tais compressões no troubes ou na congestão cerebral.
E os mais audazes e menos conscientes, mesmo aceitando
essa explicação materialista do sono, nunca foram além da sua explicação material,
do seu mecanismo elemental e quando se lhes pergunta o que é o sonho, eles
emudecem prudentemente e só poucos apelam
para o futuro, esperando a resposta materialista, ao passo que nós outros, os
espíritas, os que eles chamam pomposamente de ignorantes, já avançamos muito mais
e dentro da nossa modéstia, armados pela fé inquebrantável, dizemos lhes:
Vinde aprender com Jesus.
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