Nuvem
por Juno
por Vinícius (Pedro de
Camargo)
Reformador (FEB) 15
Fevereiro 1919
Frequentemente ouvimos pessoas que não tem aprofundado o
assunto, emitir este conceito: Toda religião é boa uma vez que haja sinceridade
entre seus adeptos.
Este parecer não traduz, em verdade, o pensamento
daqueles que assim se exprimem. O mérito que eles atribuem a todas as
religiões, mérito que faz jus ao qualificativo “boa”, não pertence às religiões
mas à sinceridade.
A sinceridade é uma virtude e, como tal, é sempre boa uma
vez onde quer que se manifeste, onde quer que esteja. A sinceridade tem o mesmo
valor, assume o mesmo característico de virtude, quer a verifiquemos no
católico romano, no protestante, no espírita, no positivista e no ateu. Isso é
que faz supor que qualquer credo seja bom desde que se constate sinceridade em
seus adeptos.
Ora, sendo a virtude aquilo que é bom em toda a parte,
segue-se naturalmente que a verdadeira religião deve ser a religião da virtude;
não só daquela virtude denominada - sinceridade - mas da virtude em geral, debaixo
das múltiplas modalidades em que se desdobra.
O amor é a virtude por excelência. Do amor derivam todas as
virtudes, conforme ensinou magistralmente o Apóstolo dos Gentios quando disse:
“O amor é longânimo,
é benigno, é paciente, não inveja, não se jacta, não se ensoberbece, não busca
interesses próprios, não se irrita, não suspeita mal. O amor
regozija-se com a verdade e com a justiça: tudo
suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre.”
A religião do amor, aquela que prescreve o culto desse
sentimento como base, tal como Jesus o ilustrou na Parábola do Bom Samaritano,
essa é, de fato, a única religião capaz de regenerar e aperfeiçoar o homem, conduzindo-o
à realização dos elevados destinos da vida, porque o amor encerra o dever, encerra,
finalmente, todas as fórmulas múltiplas da virtude.
Tal
é a religião encarnada e difundida por Jesus Cristo. O Evangelho todo é, em
substância, a mais alta e elevada consagração do amor e o mais formidável
libelo contra o egoísmo que, como se sabe, é o grande inimigo daquela virtude.
O
Espiritismo não se apresenta no mundo e como uma nova fé, como um novo credo, como
uma nova religião, o Espiritismo aponta a religião do amor personificada em
Jesus Cristo como a única fé que regenera e salva.
Não se diga, pois, que toda religião é boa: diga-se que a
virtude é sempre digna, onde quer que se manifeste, se ostente. Diga-se que a
religião verdadeira é aquela que, fundando-se exclusivamente no culto da
virtude, renuncia ao mundo com suas ambições, não age sobre os sentidos por
meio de cerimônias e de aparatos, mas atua sobre a razão e o coração, educando os
poderes do Espírito e aprimorando os sentimentos.
Não é ao sectarismo, que divide a família humana, que devemos
reverência: é a virtude. A virtude faz jus ao respeito, mesmo por parte daqueles
que dela vivem divorciados, o que justifica a sabedoria deste conceito: “A hipocrisia é o preito de homenagem que o vício
rende à virtude.”
Basta, portanto, de ilusão, não tomemos mais a nuvem por
Juno (1).
(1) iludir-se;
tomar os desejos por realidade.
Expressão idiomática greco-romana. É explicada pela
Wikipédia como se segue:
“Após apiedar-se de
uma punição aplicada ao vilão Íxion, criador de cavalos, Zeus convidou-o para
um banquete no Olimpo. Tendo-se embriagado pelo néctar, Íxion passou a assediar
Hera (Juno, na mitologia romana), a própria mulher de seu anfitrião. Ao
perceber as intenções do visitante, Hera alertou o esposo a respeito das
intenções de seu convidado. Zeus, em lugar de irritar-se, achou divertida a
situação, e para testar seu hóspede, moldou uma nuvem na forma de sua própria
esposa e deixou-a a sós com Íxion, que a possuiu. Desse conúbio nasceu a raça
dos Centauros, metade homens, metade cavalos. Como Íxion divulgou aos mortais
que havia possuído a esposa de Zeus, este o fulminou com um raio e o lançou ao
Tártaro, onde foi preso a uma roda em chamas e condenado a nela girar pela
eternidade.”
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