Em
reverência a um Justo
Editorial
Reformador (FEB) Outubro 1942
Simbolizando múltiplas verdades
essenciais à evolução da humanidade, a morte aparente de Jesus no Gólgota, o sepultamento
de seu corpo incorrutível e a sua ressurreição também foram símbolos do que, no
transcorrer dos séculos, aconteceria e aconteceu à Doutrina que Ele
personificava e personifica, única que faculta às criaturas de Deus a força de
quebrar os grilhões com que as tem escravizadas o “príncipe do mundo”. Após de
refulgir no seu verbo divino em seus exemplos inigualáveis de amor e de pureza
espiritual, de rebrilhar na palavra e nas obras dos que beberam da água viva de
onde ela jorra perene e cristalina, teve igualmente aquela doutrina o seu
calvário, onde sofreu eclipse, análogo ao do Sol que por três anos fulgurara
aos olhos dos homens, e, mergulhou na sombra de um túmulo, para, por fim,
ressurgir em todo o esplendor e, sem que mais se lhe possa empanar o brilho,
guiar o gênero humano à terra da promissão, como outrora a “estrela” guiou a
manjedoura de Belém os magos do Oriente.
Serviu de túmulo ao corpo etéreo do
Redentor uma gruta cavada na montanha; constituíram o da sua doutrina as
doutrinas humanas que, contrafações daquela, se lhe foram superpondo,
amalgamadas pelas interpretações com que o orgulho, o egoísmo, a cobiça, o
profissionalismo sacerdotal, a cegueira dos homens procuraram colocá-la a
serviço das suas ambições das coisas perecíveis e falazes com que o mundo lhes
acena.
Ainda mais: preciso se lhes tornou
um instrumento terreno, completamente aparelhado para trabalho de tão alta
monta, contra o qual também se levantariam as legiões dos que, através dos
tempos, haviam prestado concurso eficaz ao alteamento da montanha de erros, sob
que teve de ficar sepultada aquela doutrina.
Tal instrumento que, para o ser,
importava fosse um gigante pela grandeza espiritual, encontrou-o
o Senhor naquele que entre nós tomou o nome de Allan Kardec e a quem, transgredindo
embora a recomendação do Mestre supremo, chamamos Mestre, porque o há sido,
realmente, no ensinar aos seus irmãos em Deus como se lhe observam as leis,
como se lhe cumprem os desígnios, como se desempenham as missões recebidas
dele, por intermédio do seu Filho bem amado.
A lembrança de ter sido ele o
instrumento terreno dessa ressurreição por si só nos lembra quanto lhe devemos
e nos faz compreender de quanto devedores somos ao amor ilimitado e à misericórdia
de Jesus, o Mestre divino. Entretanto, ainda melhor o compreenderemos, se
atentarmos na situação presente do mundo.
Com efeito, qual seria essa
situação, embora apresente os caracteres de tremendo caos, se, como agente
daquela misericórdia, empunhando o facho da Verdade, que quase de todo se
extinguira na tumba onde fora encerrado o espírito da Doutrina Cristã, não
houvesse ele lançado sobre a alma humana esse imenso clarão que, projetando-se
muito além dos limites da existência na Terra, dissipou as sombras da morte e
deu à vida corpórea o seu legítimo significado, com o proclamar o grande princípio:
“Nascer, viver, morrer e renascer, progredir sempre, tal a lei”?
Seria, quiçá, a da escravidão
completa, em todo o horror das mais alucinantes aflições; seria a da treva
profunda e absoluta onde nenhum raio de esperança pudera penetrar; seria a do
abismo sem saída, em vez da perspectiva risonha de um continente sem lindes e
todo luz, onde se efetua a comunhão das almas, possuídas de um único sentimento
- o do amor universal.
Repousando sobre tão majestoso
fulcro, a obra de que ele , o Mestre, foi o principal obreiro encarnado, se
eleva cada vez mais, dia a dia mais se dilata e engrandece, a despeito da grita
e dos esforços em contrário dos que ainda não a puderam compreender, nem lhe
sentir os incomparáveis benefícios. Ela, exclusivamente ela, se ergue pujante e
inabalável, em meio das ruínas e dos escombros a que vão sendo reduzidas,
porque divorciadas de Deus, todas as construções que o homem arquitetou e de
que tanto se orgulhava, científicas, políticas, sociais e religiosas. Comprova
assim aquela obra que divinos são os seus alicerces e que, portanto, só pela
execução integral do plano a que o Supremo Arquiteto a subordinou deixará o
nosso orbe de ser a geena que é, transformada numa das ditosas moradas da Casa
do Pai celestial.
Que o seu Espírito voltará, a
prosseguir na obra encetada há menos de um século, é fora de toda dúvida.
Estará próxima a hora do seu novo advento entre os presidiários da carne? Do
dia e da hora só o Pai o sabe, disse Jesus. Afigurasse-nos, entretanto, que ela
não vem muito distante. Avizinha-se a grande transição. Anunciando-a, em
confirmação do que dizem
os mensageiros do Alto, cresce o fragor dos desmoronamentos, avultam as angústias
nas almas em prova e todas, por toda parte, como a escutar uma voz que lhes
fale no íntimo, pressentem que alguém surgirá, em meio dos desesperos da trágica
atualidade do mundo, para liberta-lo dessas angústias e desesperos, fazendo-se
ouvir com a autoridade amorosa de lídimo órgão dos que, do plano invisível,
dirigem, obedientes ao mando do Senhor do mundo, os destinos dos povos, a marcha
das nações para a realização desses destinos.
Longe, porém, ou perto que esteja a
hora de tal advento, o que se faz mister é que desde já e para sempre tenhamos
unidos os nossos corações pelos laços do verdadeiro amor fraterno, para que a
todo momento lhe seja possível a ele, segundo palavras suas, aspirar neles o
perfume de tão sublimado sentimento, pois que só esse perfume lhe revelará onde
encontrar os obreiros, humanos ou espirituais, de que necessite, para, por glória
do Senhor, trazer à Terra paz, pela humildade e pelo amor. Seja essa a homenagem
continua que lhe tributem, penitentes, os nossos espíritos.
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