Evangelho
– Roteiro do Mundo
José Brígido (Indalício Mendes)
Reformador
(FEB) Setembro 1952
O aperfeiçoamento progressivo do
espírito tem de ser fruto da auto-educação. Sem esforço próprio será impossível
a conquista de uma posição moral que dignifique o espírito. É para esse esforço
que devemos conclamar a juventude, mostrando-lhe as consequências perniciosas
da falta de educação espiritual, sintetizadas nos desvios materialistas que,
iludindo os sentidos do homem, corrompem lhe a moral e transformam-no num ser
dominado por baixas ambições, acicatado pela insatisfação permanente.
Os nossos bons e tradicionais costumes
familiares vão sendo rapidamente dissolvidos pela influência de hábitos
estranhos ao nosso ambiente. Devemos reconhecer corajosamente a grande
responsabilidade do poder público nessa obra de desagregação moral e espiritual
da família brasilista. A ausência de um serviço superiormente orientado de
fiscalização no cinema no rádio, no teatro e na imprensa, tem facilitado a
expansão de
concertos imoralistas, fortalecido a aquisição de vícios ditos elegantes e
estabelecido conceitos incompatíveis com os princípios da moral cristã. A
mulher acha naturalíssimo entregar-se ao fumo e ao álcool, ao jogo e às
reuniões em que prevalecem as palestras pecaminosas. Dizer mal de outrem, atassalhar
a reputação alheia, chafurdar-se em conversações lascivas, é elegante em nossos
dias e todas as mulheres que se deixam cegar
pelas aparências, procuram esmerar-se nessa pretensa demonstração de traquejo
social...
De maior responsabilidade ainda é o
papel que o homem representa neste "mare-magnum" de incompreensões e
desejos insatisfeitos. Ele fomenta a deserção do lar e cada vez possui menos
autoridade para impor respeito no recesso da família, porque ajuda e estimula
as perversões do gosto e dos sentidos, sem revelar a mais mínima compreensão
dos deveres paternais e conjugais. Cede e anima a prática de ações que ferem
fundamentalmente a organização familial, embora lhe outorgue a ilusória
sensação de estar perfeitamente
bem com a sua consciência de homem de sociedade. E assim, a pouco e pouco, a
família se destrói, porque os pais e as mães não mais possuem o fascínio do lar,
da vida proibida e dedicada à educação moral dos filhos. Desta forma, estes se
sentem desamparados, sujeitos à influência de pessoas que nenhum interesse
podem ter em sujeitá-los à disciplina tradicional da família brasilista.
Adquirem hábitos maus e formam sua mentalidade com as mossas inevitáveis em
ambientes dessa espécie. Desde cedo são uns "deslocados", porque não
sabem como orientar-se, não têm quem os encaminhe, não
tardando a apresentar na vida de relação os resultados das deformações morais
adquiridas.
Falta sentimento cristão na sociedade
contemporânea. O egoísmo imediatista domina os homens e as mulheres, fazendo que as
gerações surjam maculadas pelos vícios tolerados ou incrementados pelos pais.
Não há reação contra o mal, porém submissão ao mal. Não há luta contra os
vícios, mas concordância com eles. Por tudo isso, a humanidade sofre e seus
sofrimentos crescerão cada vez mais, porque, está no Evangelho do Cristo, "a árvore que produz maus frutos não é
boa e a árvore que produz bons frutos não é má; portanto, cada árvore se
conhece pelo seu próprio fruto. Não se colhem figos nos espinheiros, nem cachos
de uvas nas sarças. O homem de bem tira boas coisas do bom tesouro do seu
coração e o mau tira-as más do mau tesouro do seu coração; portanto a boca fala
do que está cheio o coração", (Lucas VI, 43-45.)
Quantas noites inutilmente perdidas
na sordidez das casas de jogo clandestino, nos “night-clubs" ou boates,
onde, entre goles multiplicados de álcool, os piores pensamentos dominam os
cérebros de homens e mulheres, que bem poderiam estar beneficiando o próprio
espírito na obra humanitária de socorro aos que sofrem, destinando um pouco do
dinheiro assim malbaratado e algumas de suas horas de Jazer à imensa maioria
dos que lutam contra as enfermidades, contra o frio e a fome, abandonados em
tugúrios infectos ou nas calçadas das ruas.
Ó humanidade imprevidente! Ó pais e
mães sem consciência! Preferis os prazeres fáceis da vida, às lutas sacrificiais
que nobilitam o espírito humano! Negais amparo aos que sofrem para entregardes
aos exploradores de vícios o dinheiro, nem sempre bem ganho, a saúde do corpo
que Deus vos deu e a alma que devíeis purificar no labor quotidiano! Viveis
empolgados pelas atrações do Umbral, desprezando a luz que vos faríeis descortinar
panoramas espirituais nunca sonhados. Perseguis a falsa felicidade dos prazeres
impuros, quando a verdadeira felicidade se encontra nos prazeres altruísticos
do espírito! Esquecei-vos
da palavra de Jesus, de “que o Céu e a
Terra não passarão sem que tudo o que se acha na lei esteja perfeitamente cumprido,
enquanto reste um único iota e um único ponto”. (Mateus V. 17-18).
Todos aqueles que têm qualquer
parcela de responsabilidade familiar devem meditar um pouco acerca do futuro
das gerações que mal começam a ter contato com o mundo terreno. Pensai nas
agruras que as esperam, se não houver empenho, luta e sacrifício para orientá-las
superiormente. Não se pretende fazer com que os homens de amanhã sejam
indivíduos carolas ou sectários mas que aceitem a iluminação do Evangelho para
que possam melhormente transpor os obstáculos tremendos que os esperam no
segundo milênio,
porquanto todas as forças das trevas se congregam para lançar ainda maior confusão
no seio da humanidade. O materialismo corrói os sentimentos mais puros do homem
e somente há um antídoto contra esse veneno terrível que o século XIX nos legou
como herança maldita: o Evangelho do Cristo, roteiro de paz e harmonia, de
compreensão e amor, de trabalho fecundo e solidariedade feliz! Só assim será possível
exaltar a glória de Deus nas alturas e alcançar a desejada paz entre os homens
de boa vontade!
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