Verdades
velhas e revelhas
– Parte 1
por Roberto Coimbra
Reformador
(FEB) Fevereiro 1947
As multiformes solicitações da vida
cotidiana embriagam e desorientam às vezes os espíritos
mais fortes. A confusão gera a confusão. O abismo atrai o abismo: "Abyssus
abyssum Invocat," Quem o ignora? O que poucos, porém, conseguem é
manter a serenidade no meio da balbúrdia, do tropel, do mare-magnum. É que esses tais ou ainda o desconhecem ou se afastam
do caminho palmilhado pelo Mestre, e os que dele se transviam desesperam.
O remédio é, pois, simples: buscar
ou retornar ao Cristo. Quem persiste nos seus métodos, quem permanece nas suas
palavras, quem lhe copia - tanto quanto podem fazê-la as criaturas do nosso
plano - a humildade, a tolerância, a fé e, sobretudo, a caridade, não se
descontrola nem se aflige ante os mais negros e tremendos reveses.
Primeiro a cruz, depois a
ressurreição,
O homem sofre por si mesmo. Rasga as
carnes do corpo com as próprias mãos. Martiriza-se de moto próprio, O Pai não é
que lhe impõe a dor. Esta é fruto, reflexo ou consequência dos seus atos de
ontem ou de hoje. É' efeito e não causa: efeito do mal praticado nesta ou
noutras vidas mas sempre efeito, Haja vista às desigualdades humanas: cegos de
nascença, aleijados natos, idiotas desde o berço; uns na abundância, inúmeros
na miséria, E sobre ser efeito, a dor é também meio, Meio que Deus nos concede
para resgatarmos a falta cometida, meio que o Pai nos faculta para repararmos o
erro, a petulância, o ousio de transgredir as suas leis eternas, justas e
sábias, não da "sabedoria" dos homens, que é vã, mas da sua
sabedoria, que é imanente.
Verdades
velhas e revelhas
– Parte 2
por Roberto Coimbra
Reformador
(FEB) Abril 1947
Fala-se em reformas sociais em meio
ao caos que nos circunda. Pelo visto não compreenderam ainda os homens,
perdidos em filosofias balofas, que antes de reformar a massa, a sociedade, é
mister se reforme o indivíduo, o cidadão. A reforma primária e urgente é
interior, é sempre íntima. Reformem-se os espíritos, abram-se as portas do
coração, façam-no penetrar do sopro revivificador do Cristianismo Redivivo, e o
mundo verá o que é a criatura sob o império do amor, de que o Nazareno é o
padrão.
Enquanto não praticarmos conscientes
o "nosce te ipsum" (conhece a ti mesmo); enquanto não corrigirmos as nossas
próprias maldades; enquanto não opormos in-petto
[GK1] (no peito) um dique dos
nossos impulsos animalizados – há de, por força, ser-nos vazia a vida.
Falta-nos fraternidade. Sobeja-nos
interesse.
Buscamos os gozos fáceis, as
gloríolas terrenas, as posições cômodas e fartas. Fugimos ao sacrifício, porque
esquecemos o Mestre, cujos ensinos nos hão de salvar o espírito do estacionamento.
Deus não precipita os
acontecimentos. Deixa, paciente, que façamos uso da razão, da inteligência e do
livre arbítrio. Quando damos contra as pedras, é que com as mãos ambas já, nós mesmos,
as lançáramos no caminho... Os pés podem sangrar nas escarpas, cá em baixo, mas
e para que o espírito fulja depois, lá em cima.
Dá-nos, em suma, o Pai, ensanchas de
evolver, de aprender, de aperfeiçoar, quando nos empenhamos, rebeldes, cegos e
surdos, em diminuir-nos, em perder-nos, em aniquilar-nos...
Olvidamos a Caridade: Pois que a Dor
nos reavive a memória e nos ajude a distribuir com os outros os bens materiais
e espirituais que possuímos.
Esquecemos o próximo? Pois que o
sofrimento nos reate a ele: “A desgraça une os homens,
a felicidade os separa”...
Verdades
velhas e revelhas
– Parte 3
por Roberto Coimbra
Reformador
(FEB) Maio 1947
Provas sem conto, árduas provas de
fogo temos de experimentar. Os fáceis meios de vida estorvam os nossos passos
evolutivos. Há-de mister a agitação e a luta construtiva. O marasmo contravém
às leis que regem os surtos espirituais do ser.
A vida mundana reflete o coração das
gentes: ela é vã, porque ele está vazio. A felicidade, que todos buscamos, só
buscamos para nós. Caímos, pois, em débito, e razão é que quem deva pague, e
pague até o último ceitil.
A justiça de Deus se exerce, não
lançando a alma do homem para arder eternamente no inferno, mas dando-lhe
outras oportunidades de reabilitação, porquanto Deus é Caridade.
Dizia o Pe., Manuel Bernardes:
"Assim como a madeira cria o bicho,
mas o bicho destrói a madeira, assim do pecado nascem as lágrimas, mas as
lágrimas destroem o pecado."
Ninguém, pois, se perde para sempre.
Não o permitem as lágrimas, que acompanham o homem desde o nascimento até a
morte, e até depois da morte... Um dia, por via delas, cada ovelha transviada
se achará a si mesma, tocada no imo pela luz do Bom Pastor, que a todas desfecha
os olhos para a vida eterna e a todas adverte com doçura, reencaminhando as
para o aprisco.
Disse Jesus que somos deuses.
Empenhemo-nos em ser deuses, mas deuses capazes de compreender que a felicidade
se atinge com "sangue, suor e lágrimas". Que a nossa guerra indefessa
seja contra os vícios e os defeitos, que nos assoberbam, para, afinal deles
despojados, ganharmos a eterna paz de espírito - bem-aventurança esta, sobre
todas, sublime.
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