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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Verdades velhas e revelhas



Verdades velhas e revelhas – Parte 1
por Roberto Coimbra
Reformador (FEB) Fevereiro 1947

            As multiformes solicitações da vida cotidiana embriagam e desorientam às vezes os espíritos mais fortes. A confusão gera a confusão. O abismo atrai o abismo: "Abyssus abyssum Invocat," Quem o ignora? O que poucos, porém, conseguem é manter a serenidade no meio da balbúrdia, do tropel, do mare-magnum. É que esses tais ou ainda o desconhecem ou se afastam do caminho palmilhado pelo Mestre, e os que dele se transviam desesperam.

            O remédio é, pois, simples: buscar ou retornar ao Cristo. Quem persiste nos seus métodos, quem permanece nas suas palavras, quem lhe copia - tanto quanto podem fazê-la as criaturas do nosso plano - a humildade, a tolerância, a fé e, sobretudo, a caridade, não se descontrola nem se aflige ante os mais negros e tremendos reveses.

            Primeiro a cruz, depois a ressurreição,

            O homem sofre por si mesmo. Rasga as carnes do corpo com as próprias mãos. Martiriza-se de moto próprio, O Pai não é que lhe impõe a dor. Esta é fruto, reflexo ou consequência dos seus atos de ontem ou de hoje. É' efeito e não causa: efeito do mal praticado nesta ou noutras vidas mas sempre efeito, Haja vista às desigualdades humanas: cegos de nascença, aleijados natos, idiotas desde o berço; uns na abundância, inúmeros na miséria, E sobre ser efeito, a dor é também meio, Meio que Deus nos concede para resgatarmos a falta cometida, meio que o Pai nos faculta para repararmos o erro, a petulância, o ousio de transgredir as suas leis eternas, justas e sábias, não da "sabedoria" dos homens, que é vã, mas da sua sabedoria, que é imanente.

Verdades velhas e revelhas – Parte 2
por Roberto Coimbra
Reformador (FEB) Abril 1947

            Fala-se em reformas sociais em meio ao caos que nos circunda. Pelo visto não compreenderam ainda os homens, perdidos em filosofias balofas, que antes de reformar a massa, a sociedade, é mister se reforme o indivíduo, o cidadão. A reforma primária e urgente é interior, é sempre íntima. Reformem-se os espíritos, abram-se as portas do coração, façam-no penetrar do sopro revivificador do Cristianismo Redivivo, e o mundo verá o que é a criatura sob o império do amor, de que o Nazareno é o padrão.

            Enquanto não praticarmos conscientes o "nosce te ipsum" (conhece a ti mesmo); enquanto não corrigirmos as nossas próprias maldades; enquanto não opormos in-petto [GK1] (no peito) um dique dos nossos impulsos animalizados – há de, por força, ser-nos vazia a vida.

            Falta-nos fraternidade. Sobeja-nos interesse.

            Buscamos os gozos fáceis, as gloríolas terrenas, as posições cômodas e fartas. Fugimos ao sacrifício, porque esquecemos o Mestre, cujos ensinos nos hão de salvar o espírito do estacionamento.

            Deus não precipita os acontecimentos. Deixa, paciente, que façamos uso da razão, da inteligência e do livre arbítrio. Quando damos contra as pedras, é que com as mãos ambas já, nós mesmos, as lançáramos no caminho... Os pés podem sangrar nas escarpas, cá em baixo, mas e para que o espírito fulja depois, lá em cima.

            Dá-nos, em suma, o Pai, ensanchas de evolver, de aprender, de aperfeiçoar, quando nos empenhamos, rebeldes, cegos e surdos, em diminuir-nos, em perder-nos, em aniquilar-nos...

            Olvidamos a Caridade: Pois que a Dor nos reavive a memória e nos ajude a distribuir com os outros os bens materiais e espirituais que possuímos.

            Esquecemos o próximo? Pois que o sofrimento nos reate a ele: “A desgraça une os homens, a felicidade os separa”...

Verdades velhas e revelhas – Parte 3
por Roberto Coimbra
Reformador (FEB) Maio 1947

            Provas sem conto, árduas provas de fogo temos de experimentar. Os fáceis meios de vida estorvam os nossos passos evolutivos. Há-de mister a agitação e a luta construtiva. O marasmo contravém às leis que regem os surtos espirituais do ser.

            A vida mundana reflete o coração das gentes: ela é vã, porque ele está vazio. A felicidade, que todos buscamos, só buscamos para nós. Caímos, pois, em débito, e razão é que quem deva pague, e pague até o último ceitil.

            A justiça de Deus se exerce, não lançando a alma do homem para arder eternamente no inferno, mas dando-lhe outras oportunidades de reabilitação, porquanto Deus é Caridade.

            Dizia o Pe., Manuel Bernardes: "Assim como a madeira cria o bicho, mas o bicho destrói a madeira, assim do pecado nascem as lágrimas, mas as lágrimas destroem o pecado."

            Ninguém, pois, se perde para sempre. Não o permitem as lágrimas, que acompanham o homem desde o nascimento até a morte, e até depois da morte... Um dia, por via delas, cada ovelha transviada se achará a si mesma, tocada no imo pela luz do Bom Pastor, que a todas desfecha os olhos para a vida eterna e a todas adverte com doçura, reencaminhando as para o aprisco.

            Disse Jesus que somos deuses. Empenhemo-nos em ser deuses, mas deuses capazes de compreender que a felicidade se atinge com "sangue, suor e lágrimas". Que a nossa guerra indefessa seja contra os vícios e os defeitos, que nos assoberbam, para, afinal deles despojados, ganharmos a eterna paz de espírito - bem-aventurança esta, sobre todas, sublime.

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