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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

A noite é feita de silêncios



A noite é feita de silêncios
José Brígido (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Agosto 1952

            “Permanecei quietos, amigos, para que a paz que desce sobre vós não se retire, assustada. Permanecei calados para que a vossa personalidade se impregne de silêncio e se dissolva no êxtase da Tranquilidade. Não perturbeis a placidez da noite cheia de doces mistérios e de suaves encantamentos. Elevai o espírito e meditai sobre a sublimidade do Silêncio que fortalece a alma e estimula a ascese. Conversai com o vosso próprio Eu, fruindo o prazer místico do solilóquio. Honrai o Silêncio com a meditação que multiplica a riqueza da paz interior.

*

            Lembrai-vos da recomendação de Maomé: “Amai os pobres!” E respeitai a pobreza. Olhai os humildes com amor ou, pelo menos, com terna simpatia. Procurai compreender que somente o Sentimento situa o valor real do homem. Quem não sabe sentir, não vive superiormente. Tanto mais refinado é o espírito, quanto maior for a sua sensibilidade. Não vos esqueçais disto, quando retornardes ao tumulto da vida comum, depois de haverdes gozado as delícias da noite opulenta de encantos. Guardai a piedade para os que sofrem, o perdão para os que erram e a tolerância para os que ignoram. E amai sempre, amigos, porque o amor é o fundamento da vida universal!

*

            Permanecei quietos, a fim de que o enlevamento destes instantes não se dilua nos ruídos profanos. Conservai-vos mudos para que o Silêncio não se extinga ferido pelas asperezas da linguagem humana. Celebrai pelo espírito as bodas da vossa consciência com uma centelha do Absoluto. Silêncio, amigos. Silêncio... As dores alheias devem ser um pouco vossas. Acudi ao desesperado. Matai nele a sede de Serenidade para que a Esperança o ampare no resto da caminhada. Bem pior que a dor é o Desespero que embriaga as almas aflitas. Silêncio. Olhai o céu de veludo negro, onde rutilam os astros, joias delicadas de mágicos artífices. Vide a Lua iluminada que flutua no imenso oceano da noite imensa, vogando entre as estrelas, flores brilhantes do miraculoso Jardim de Alá!

*

            A noite é feita de silêncios. Erguei o olhar para os céus, onde tudo é paz. Voltei o olhar para a Terra, onde a Natureza repousa, adormecida. Mergulhai ainda mais a alma na meditação, a fim de que possas sentir a presença da Realidade Espiritual. Respeitai a majestade da noite que se escoa e saciai-vos no festim da prece que vos identifica com a Vontade Suprema!

            Antiquíssimos túmulos de Tell-el-Amarna, no Egito, mostram aos séculos esta inscrição: “A Terra está em silêncio, porque Aquele que a criou repousa em seu horizonte!”. É a sabedoria de Alá que se revela nos prodígios do Universo. Graças à Sua misericórdia, podem os homens esclarecidos confraternizar com os Espíritos que transpuseram a fronteira do Desconhecido, buscando os sonhos muIticores do Paraíso. Lá se encontra a luz eterna do Conhecimento. Louvai a onisciência do Criador e tentai realizar a alquimia do Sentimento, transmudando o Orgulho em simplicidade, a Indiferença em Fé, a Arrogância  em Humildade e o Egoísmo em Amor! Bendito seja Alá!

            A noite é feita de silêncio: silêncio da vida que descansa, silêncio da esperança paciente, silêncio das juras do amor inocente, silêncio dos arrependimentos perdoados, silêncio das decepções amargas e sem eco, silêncio das alegrias íntimas que enobrecem a alma, silêncio das tristezas enclausuradas no coração, silêncio das almas frágeis e incompreendidas... Silêncios curtos... Silêncios intermitentes... Silêncios longos... O silêncio dos silêncios, o grande silêncio da morte, que é o silêncio da vida que para hoje para recomeçar amanhã...

            A noite é feita de silêncios...”
                                                                                                  (Transcrição do "Capítulo Branco” de "O Livro de Galaor”.)

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