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terça-feira, 14 de maio de 2013

1b. 'O Dogma Espírita'




1b   O dogma espírita

por Luciano dos Anjos
in Reformador (FEB) Jan-Fev 1964


            Passemos ao segundo aspecto do enorme problema, isto é, ao vocábulo dogmática. Aqui o campo filosófico já não é mais o da crítica do conhecimento, mas o da teodiceia (ou teologia), embora não nos afastemos ainda da Metafisíca. A dogmática é a parte da teologia que encerra a exposição sistemática e racional dos dogmas. Acresce, entretanto, que neste ponto já estamos tratando de matéria que margeia completamente a divisão histórica da Filosofia. A inserção e o estudo da dogmática não são absolutamente pontos pacíficos na divisão filosófica. A Igreja Católica introduziu-a indiretamente na Filosofia, pelo menos nos círculos didáticos, estritamente católicos ou nos quais a Igreja tem influência. É possível encontrarem-se autores que incluem na história da Filosofia um capítulo sobre a dogmática especificamente. Esta inclusão, Porem, há de ser sempre arbitrária. A Filosofia ignora a dogmática, que só tem existência à margem dela; ou com o socorro dela, A Igreja busca embaralha-la com a teologia, na mesma ação cavilosa em que o pensamento católico busca confundir-se com o pensamento cristão. Assim como o Cristianismo nunca tratou do catolicismo e hoje a Igreja os faz sinônimos, a teologia também nunca tratou da dogmática. É, em resumo, um vocábulo marginal...

            Portanto, com este título (toleremos, no máximo, a expressão teologia dogmática, como toleraríamos cristianismo católico) deve ser compreendida tão somente a obra dos doutores e dos escritores eclesiásticos que se aplicam a coordenar as verdades reveladas segundo o seu ponto de vista. Em sentido mais erudito, mais definido e mais moderno poder-se-ia dizer que a dogmática "é a exposição científica, isto é, em forma orgânica e com unidades sistemáticas, das verdades e dos fatos sobrenaturais, concernentes à salvação e contidos na Revelação" ("Teologia Dogmática", de Bernardo Bartmann, pág. 11 da 1ª edição brasileira). Foi Melquior Cano, desencarnado em 1560, quem primeiro escreveu formalmente uma introdução à dogmática. A obra apareceu para atender às exigências de método da teologia católica, suscitadas pelo Humanismo e particularmente pelo Protestantismo. O termo dogmática é muito novo, pois remonta somente ao século XVII. Finalmente, para definir melhor a expressão, assinalemos que a dogmática vem a ser, em última análise, a exposição sistemática e racional dos dogmas da Igreja Católica. Sua definição, muitas vezes encontrada como "o conjunto dos dogmas duma religião", é aceita puramente por extensão do vocábulo. O Espiritismo, portanto, faz questão de ignorar a dogmática como parte integrante da Filosofia e, muito mais ainda, de com ela se misturar.

-continua-



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