Causa de Ismael
Alberto
Nogueira Gama
3
Assistência
aos Necessitados
A
exemplo do "Grupo Ismael", a Assistência aos Necessitados, fundada em
20 de Abril de 1890 pelo Dr. Polydoro Olavo de S. Thiago, é outra baliza
demarcatória no campo das realizações da Casa Máter do Espiritismo no Brasil.
Se
"o Grupo Ismael constitui o seu santuário de
ligação com os trabalhadores do Infinito, a Assistência aos Necessitados a
vincula, na Terra, a todos os corações infortunados e sofredores e representa,
de fato, até hoje, a sua âncora de conservação no mesmo programa evangélico, no
seio das ideologias novas e das perigosas ilusões do campo social e
político".
Sede
própria
Só
depois de 27 anos de existência é que a Federação Espírita Brasileira teve a
sua sede própria. Exercia então a Presidência da Casa Leopoldo Cirne, "a
grande cabeça planejadora e orientadora de tudo, vontade enérgica e inabalável,
síntese de fé e trabalho construtivo". Com a doação do prédio à rua S.
José, nº 60, em Junho de 1905, feita por D. Mary Henrieth Holffmann à Federação
Espírita Brasileira, e com a aquisição de dois pardieiros da rua do Sacramento,
"depois Avenida Passos, nº s 28 e 30", cuja demolição foi logo
consumada, tornaram-se possíveis as obras de construção do
edifício em que, desde 10 de Dezembro de 1911, se encontra sediada a Oficina do
Anjo do Senhor.
O
acontecimento teve grande repercussão pública, pois, a essa altura, a
respeitável Instituição já era bastante conhecida pela sua larga folha de
serviços prestados à coletividade carioca, junto a quem desfrutava de bem
merecido prestígio.
Constâncio
Alves, brilhante jornalista da época, membro da Academia Brasileira de Letras,
dono de um estilo simplesmente encantador, regista o fato na seção - "A
Semana - Dia a Dia" do "Jornal do Commercio" do Rio de Janeiro,
na edição de 14 de Dezembro, isto é, quatro dias após o ato da inauguração.
Findava-se
aí um ciclo de martírios, verdadeira via
crucis, em que nada menos de oito vezes a Federação teve que mudar de
endereço, sempre mal acomodada em toda parte, mas nunca deixando de observar à
risca seu programa de estudo e trabalho, de assistência e orientação,
sinceramente empenhada em bem servir a todos.
Organização
Federativa - Conselho Federativo
Iniciada
em 1904, com o título "Bases de Organização Espírita", quando das
solenidades comemorativas do centenário de nascimento de Allan Kardec, sofreu a
Organização Federativa sua primeira remodelação em 1924, configuração com a
qual é impressa, figurando, em 1934, já na terceira edição.
Desse
esforço de organização e disciplina de trabalho; de coordenação e uniformidade
de métodos de estudo evangélico-doutrinário, participa galhardamente a própria
Assistência aos Necessitados, dando à publicidade "Grupos Espíritas",
em 1933.
Guillon
Ribeiro é o grande e incansável baluarte desse exaustivo trabalho de sistematização
das coisas. Deu o melhor dos seus esforços e sentimentos, de suas energias e
reservas orgânico-espirituais, deu tudo de sua excepcional capacidade de
serviço a prol de uma solução honrosa, pacífica, producente e produtiva do
complexo problema. E tudo indica não ter sido em vão que trabalhou tanto, demais
mesmo, neste sentido, durante longos e longos anos.
Assim
o dizem e proclamam os trabalhos do Conselho Federativo, composto de delegados
das Associações Espíritas Federadas, em sua primeira reunião, na sede da
Federação Espírita Brasileira, de 3 a 8 de Outubro de 1926.
Naquele
certame que, entre outros Estados, reuniu representações de Minas Gerais, São
Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia, Espírito Santo, foram ventiladas e resolvidas
questões de relevante importância e de indiscutível interesse para a aplicação
e desenvolvimento do Espiritismo no Brasil, mediante a justa compreensão dos
seus imperativos e criteriosa prática dos seus postulados por parte das
Sociedades Espíritas organizadas.
Assuntos
como a adoção da Música, a multiplicidade de jornais e revistas, o controle
intelectual das publicações espíritas, as manifestações de caboclos e
africanos, homenagens a encarnados, e outros (e foram muitos e todos de capital
relevância), sofreram ampla apreciação por parte dos conselheiros, que foram
felicíssimos nas deliberações tomadas, e, tanto quanto eles, felicíssima foi a
Federação Espírita Brasileira que teve, então, oportunidade de se mostrar na
plenitude de sua real grandeza, impondo-se por atitudes declaradamente
sábias, justas e condescendentes.
Todavia,
o trabalho de coroamento da Organização Federativa do Espiritismo estava
reservado para anos mais tarde, quando outros acontecimentos sobreviessem,
determinando mudanças e modificações no cenário espirítico nacional, a bem da
aplicação de medidas mais avançadas e progressistas. Isto se deu em 5 de Outubro de 1949, quando da
celebração do Pacto Áureo, resultando na instituição do Conselho Federativo
Nacional e, pouco depois, na criação do Departamento de Infância e Juventude, a
13 de Novembro daquele mesmo ano.
Do Conselho Federativo Nacional, cuja atuação se
acha assinalada por resoluções de grande alcance, nos veio a joia de orientação
social-administrativa, através do livrete "PRECEITOS GERAIS Pró-Unificação
do Espiritismo e Norma de Estatutos", mais conhecido comumente pela
simples designação de "PRECEITOS GERAIS".
Este
órgão referendava, na oportunidade de sua criação, a validade da Organização
Federativa então existente e em vigor e prescrevia, nos dois primeiros dos 18
Itens da Grande Conferência Espírita realizada no Rio de Janeiro, o seguinte:
"1º) Cabe aos Espíritas do
Brasil porem em prática a exposição contida no livro "Brasil, Coração do
Mundo, Pátria do Evangelho", de maneira a acelerar a marcha evolutiva do
Espiritismo. – 2º) A FEB criará um Conselho Federativo Nacional, permanente,
com a finalidade de executar, desenvolver e ampliar os planos da sua atual
Organização Federativa."
Do
Departamento de Infância e Juventude nos vieram, como duas verdadeiras prendas
dos Céus, em 18 de Abril de 1950, BRASIL-ESPIRITA, órgão orientador, noticioso
e doutrinário do citado Departamento Infanto-Juvenil, e JUVENTUDE EM MARCHA,
trabalho de orientação, organização e funcionamento das Escolas de Evangelho e
das Mocidades ou Juventudes Espíritas.
Com
essas realizações, que representam autênticas vitórias da Causa de Ismael,
estava completo o fecundo e abnegado trabalho de Guillon, que, segundo
pensamos, deve ter sentido um extraordinário descanso de espírito e podido
respirar desafogadamente quando isto aconteceu, porque só ele sabe quanto
sofreu, quanto penou, para fazer sentir e tornar realidade a presença da
Federação Espírita no âmbito nacional, nos mais ermos rincões, nas mais longínquas paragens, em toda e qualquer
parte deste nosso imenso e amado Brasil.
Infância
e Juventude
Embora
o assunto já esteja bem esclarecido diante do muito que se tem dito e escrito a
respeito, e seja, na situação atual, objeto de desvelos, de todo o carinho e
dedicação, não fica fora de propósito uma notícia histórica a respeito de
infância e juventude.
Alusivos
à criança, encontramos na coleção de "Reformador" de 1904 dois grupos
de trabalhos, em que a Federação Espírita Brasileira, já naquela época,
cogitava dos problemas infantis à luz do Espiritismo.
Os
escritos do primeiro grupo encontram-se insertos numa seção denominada
DIÁLOGOS, sob o título Evangelho das Crianças, formando uma sequência de
historietas. Os do segundo - EDUCAÇÃO DA INFÂNCIA sob o ponto de vista espírita
- dizem respeito à publicação de uma conferência, cuja parte final figura no
primeiro número de "Reformador" de 1905.
Tanto
os trabalhos de uma quanto os da outra série são da lavra do culto e inspirado
confrade Antônio Lima, à época Administrador da Livraria Editora da Federação
Espírita Brasileira.
Depois
disso,.. Bem, o caso foi situado em 1926. Nós vamos situá-lo em 1914. É dai que
devemos partir, porque foi nesse ano que começou, aqui na Federação, o ensino
da Doutrina Espírita-Cristã, inaugurado a 14 de Junho, num domingo, sob a
direção de D. Ilka Mass, auxiliada pela sua filha, cujo nome não consta no
registo do acontecimento.
Com
absoluta regularidade funcionou, durante um ano, a então chamada "Escola
Dominical de Doutrina Cristã". À D. Ilka Mass, que enfermara e se afastara
da Capital a bem de saúde, sucedeu lhe D. Maria Eugênia de Lima,
"professora jubilada, que aos seus conhecimentos e métodos pedagógicos
aliava em elevado grau os mais sólidos conhecimentos doutrinários e muita
grandeza de coração".
Essa
consóror, também, três meses depois de se encontrar à testa do trabalho de
evangelização da infância, adoecera, retirando-se para Vassouras, em busca de
melhoras.
"Substituiu-a
nesse nobre cargo D. Ritília Moreira de Sá, distinta professora catedrática da
Escola Normal e valorosa servidora da Doutrina.
"Em
pouco tempo, o movimento iniciado pela Federação Espírita Brasileira, olhado
com funda simpatia, se expandiu por todo o País, no seio da Família espírita, e
a Casa de Ismael teve a ventura de ver criados novos núcleos de evangelização
para a infância.
"Em
meados de 1932, cerca de 50 Grupos, Asilos e' Federações, todos ligados ao
Espiritismo, mantinham para as crianças, ou somente aulas de educação moral, ou
estas e cursos de instrução primária.
"O
dia 14 de Junho - de 1914 ficará indelevelmente em nossa memória e principalmente
em nossos corações, pois foi nesta data que se inaugurou, com as bênçãos de
Ismael, o mencionado curso infantil de Doutrina Cristã."
Aí
está como e quando teve início, entre nós, espíritas brasileiros, esta
modalidade de trabalho junto à criança.
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