‘O
Centenário
que
se aproxima’
A questão do corpo fluídico de Jesus é, sem dúvida
alguma, importante, pois esclarece, explica e desfaz mistérios que, sem ela,
permaneceriam a desafiar a razão e a lógica dos fatos e dificultariam a
conquista da verdadeira interpretação no que diz respeito a determinados
acontecimentos com o Cristo de Deus.
Entretanto,
não tem ela sido tão divulgada quanto devera sê-lo, pela falta de compreensão
de uns, ainda não amadurecidos para assimilar as verdades constantes de
"Os Quatro Evangelhos" de J. B. Roustaing, e de outros que, apegados
a preconceitos estranhos, deixam empolgar-se por uma espécie de dogmatismo,
prejudicial ao bom entendimento de assuntos tão valiosos.
Constituem
"Os Quatro Evangelhos" parte imprescindível à melhor compreensão de
várias ocorrências evangélicas, banindo a ideia absurda do
milagre e destruindo de vez a presunção de sobre naturalidade concedida a fatos
realmente espíritas, de que estão cheios os Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas
e João, assim como toda a Bíblia.
Muita
coisa relacionada com a passagem de Jesus pelo nosso planeta somente pode ser
verdadeiramente compreendida com o estudo dessa obra monumental. É preciso,
pois, que todos aqueles que já a conhecem e a assimilaram bem, continuem a
difundi-la e a levar seus altos ensinamentos a confrades que não a puderam compreender satisfatoriamente. Trata-se de
valiosíssima contribuição que os Espíritos conferiram à Humanidade, através da
mediunidade magnífica de Mme. Collignon e da dedicação invulgar de Roustaing,
homem de cultura sólida e probidade inatacável, para um entendimento maior e
mais profundo dos Evangelhos, em espírito e verdade.
Allan
Kardec, que recebera a obra com discrição, opondo-lhe certas restrições,
reconheceu, com sinceridade, que as suas observações restritivas "em nada
diminuem a importância da obra que, de par com algumas coisas duvidosas,
segundo o nosso (dele) ponto de vista, OUTRAS CONTÊM INCONTESTÁVELMENTE BOAS E
VERDADEIRAS E SERÁ CONSULTADA COM PROVEITO PELOS ESPÍRITAS CONSCIENCIOSOS."
Acreditamos
que Allan Kardec, preocupado com a unidade da sua própria obra, temia endossar
de pronto os temas mais delicados de "Os Quatro Evangelhos", daí o
seu cuidado de considerar, como "algumas coisas duvidosas",
afirmativas que de fato tinham caráter francamente revolucionário, por
desbastar ideias feitas já concretizadas no espírito do homem. Mas o
Codificador houve por bem declarar: "Esta obra compreende a explicação e a
interpretação dos Evangelhos, artigo por artigo, com o auxílio de comunicações
ditadas pelos Espíritos. É um trabalho considerável e que tem, para os
espíritas, o mérito de não estar em contradição, por qualquer de seus pontos,
com a doutrina ensinada n' “O Livro dos Espíritos" e no dos “Médiuns."
As partes correspondentes às de que tratamos no O Evangelho segundo o Espiritismo o são num sentido análogo."
Estas
palavras são, repetimos, de Allan Kardec. O seu critério de "concordância
universal" para comunicações mediúnicas de importância não deixa de ser
louvável. Todavia, basta considerar-se a natureza moral e mesmo espiritual de
"Os Quatro Evangelhos" de Roustaing, para se admitir a sua aceitação
sem o rigorismo exigido, argumento aquele de que também se poderiam valer os
nossos irmãos anglo-saxônicos, quanto à reencarnação. A só natureza da obra revela a
origem elevada daqueles que a ditaram a Mme. Collignon.
Nós
sentimos, a cada página, a grandeza do trabalho em questão e por isto, embora
respeitando mais do que nunca a opinião de Kardec, consideramos que ele, por
cauteloso, naquela época, não desejou avançar mais do que lhe permitiam as
circunstâncias. Mas reconheceu o valor da obra, a ponto de frisar: "Se a
substância de um livro constitui o principal, a forma não é de desprezar-se e
também concorre para o seu êxito."
Sua
objeção à extensão da obra rusteniana não a invalida, evidentemente. O seu
apoio está implícito e explícito, inclusive nesta frase: "... se,
limitando-se ao estritamente necessário, houvera reduzido a obra a dois ou
mesmo a um só volume, ela ganhara em popularidade." Quer dizer que Kardec
achava a obra digna de popularizar-se, bastando para isto reduzi-la para dois
ou um só volume.
Todavia,
nenhuma inconveniência há na repetição de argumentos que conduzem à
consolidação do entendimento da sua substância. Uma síntese poderia ser
bastante para determinadas pessoas, de capacidade assimilativa excepcional, mas
para a maioria, que lê mais do que estuda o critério adotado, não por J. B.
Roustaing, mas pelos Espíritos dos evangelistas que se valeram da mediunidade
de Mme. Collignon é de utilidade incomensurável.
Em
Dezembro de 1861, a médium citada recebera uma mensagem para Roustaing,
prevenindo-o de que: "Quando todos os materiais estiverem reunidos e for
chegado o momento de se tornar conhecida, de publicar-se esta obra destinada a
congregar todos os dissidentes de boa fé, ligando-os por um pensamento comum
sereis prevenido. - Dezembro de 1861. - Mateus, Marcos, Lucas, João, assistidos
pelos apóstolos."
As
revelações recebidas foram postas em ordem "a partir do mês de Dezembro de
1861 até ao de Maio de 1865". Em 1866, saiu a público a obra, em três
volumes. Impressa em Bordéus pela "Imprimerie Lavertujon, 7, rue des
Treilles", e lançada pela Librairie Centrale, 24, Boulevard des
Italiens", de Paris. Foi em Junho de 1866, págs. 190-2 da "Revue
Spirite", que Allan Kardec fez a apreciação da mesma.
Aproxima-se,
portanto, o centenário dessa obra portentosa e útil. É preciso que, desde
agora, procuremos todos reunir elementos para comemorar o importante
acontecimento sem esquecer, além do nome respeitável de J. B. Roustaing, a
médium dedicada que com ele colaborou.
Com
essa obra, a lógica substitui na interpretação dos Evangelhos, as fantasias e
suposições, os milagres e os mistérios desamparados de qualquer base sólida.
Graças a "Os Quatro Evangelhos", foi possível aos espíritas e aos
estudiosos não espíritas, mas imparciais e compreensivos, retirar o véu da
letra e iluminar-se com o espírito que vivifica.
Para
uma compreensão perfeita dos Evangelhos, preciso se torna estudar "Os
Quatro Evangelhos", de Roustaing. Tão natural e lógica é a ideia de Jesus
ter vindo à Terra, não com um corpo carnal semelhante ao nosso, mas com um
corpo espiritual, fluídico, que é de se espantar ainda haja quem se mostre
irredutível ao tema tão clara e convincentemente estudado em "A
Revelação da Revelação". Se de acordo com os ensinamentos dos Espíritos,
divulgados por Allan Kardec, o Espiritismo é progressivo, devemos manter
flexível, maleável a nossa mentalidade; para que possamos evitar venha a nossa
crença petrificar-se, mercê de uma ortodoxia incompatível com os tempos
modernos, ortodoxia que fossilizou as velhas religiões que o antecederam.
"O
Espiritismo só do livre exame pode tirar uma força real; ele é o inimigo
natural das ideias preconcebidas, da prepotência, dos sistemas preestabelecidos
e da infalibilidade" - disse Roustaing. E é verdade. Se não for assim o
Espiritismo acabará sendo afetado pela atitude dogmática dos adeptos menos
tolerantes. Sendo, como é, progressivo, o Espiritismo tem de ser liberal, fiel
ao seu caráter eminentemente evolucionista. "O Espiritismo que pretenda nivelar
todas as inteligências e ligá-las ao mesmo dogma é um espiritismo de
fantasia" - tornou Roustaing. E é verdade.
Quanta
coisa bela, revolucionária e instrutiva nos tem dado o Espírito André Luiz,
através de sua série maravilhosa! Tudo quanto se encontra de novidade
(poderemos empregar esta palavra em "Nosso Lar",
"Libertação", "Missionários da Luz", etc., revelado de
forma inteligentemente sutil, foi aceito sem esforço nem protesto por quase todos os Espíritas. No entanto, nesses
livros há coisas que não se encontravam nas obras de Kardec e talvez fossem hostilizadas
se apresentadas de outra maneira. É que os Espíritos compreendem que o homem é
muito apegado à rotina, a "ideias-clIchês", ideias feitas, revelando
uma propensão natural para dogmatizar. E mais coisas extraordinárias estarão
por vir, mas cada uma delas virá a seu tempo e de maneira a poder ser aceita e
assimilada naturalmente por todos.
Devemos
estudar "Os Quatro Evangelhos", esmiuçando com interesse crescente as
suas páginas iluminadas de ensinamentos, que nos capacitam a colocar Jesus na
sua verdadeira posição em face da vida. Governador deste planeta, ele poderia e
pode tomar uma "carne verdadeira mas relativa", tanto mais que,
conforme as palavras do apóstolo Paulo, na 1ª Epístola aos Coríntios, "nem
toda carne é a mesma carne". Um Espírito da envergadura de Jesus não precisa
submeter-se ao "processus" bio-fisiológico a que estão sujeitas as
criaturas comuns, para se manifestar de forma visível e tangível, como já o fEz.
A sua enorme autoridade espiritual, o seu altíssimo gabarito moral lhe confere
o poder de se materializar como queira e por quanto tempo o deseje.
O
corpo fluídico do Mestre é, portanto, uma ideia perfeitamente racional e por
isto mesmo lógica. O argumento de que, assim, todo o sofrimento experimentado
por Jesus em sua peregrinação pela Terra não teria passado de burla, é
absolutamente blasfema. Extraordinariamente maior do que a sensibilidade da
criatura humana mais evoluída, era a sensibilidade de Jesus. Portanto, o seu
sofrimento moral foi muito mais profundo e doloroso do que o sofrimento físico, que se
restringe à carne. Mas era preciso, dado o grau de inteligência e de
compreensão dos homens da época, que eles tivessem uma imagem física, embora
menor, do quanto sofria moralmente Jesus com a maldade, a vilania e a torpeza
humanas. E quem poderá afirmar não ter ele sofrido fisicamente, mesmo naquele corpo fluídico,
ainda grosseiro para a excelsitude do seu Espírito?
O
leitor, se ainda não o fez, deve ler "Os Quatro Evangelhos", de
Roustaing, ou iniciar-se no assunto através dos preciosos livros: "Elucidações
Evangélicas", de Antônio Luís Saião; "Jesus - Nem Deus nem Homem!, de
Guillon Ribeiro; "O Cristo de Deus", de Manuel Quintão; "A
personalidade de Jesus", de Leopoldo Círne: "Elos doutrinários",
de Ismael Gomes Braga. Passará a ter, daí em diante, uma visão mais ampla e
mais profunda da vida e da correlação permanente entre o mundo visível e o
mundo invisível.
.
Indalício Mendes
in ‘Reformador’ (FEB) Março 1964
Do Blog: Este ano, superamos os 150 anos da primeira publicação da obra coordenada por Roustaing.. E ela segue como a insuperável resposta a inúmeros questionamentos que surgem ao lermos os Evangelhos. Mas... quem lê os Evangelhos?
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