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‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)
- Comunicações d’Além Túmulo -
Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier
Explicação
Dominados pelo ardente desejo de
entrar no conhecimento exato da verdade e, ao mesmo tempo, desenvolver e
aperfeiçoar as nossas faculdades como médium psicográfico, intuitivo-mecânico,
que somos, prosseguíamos, no decorrer do ano 1915, nos nossos estudos
espiríticos, quando fomos agradavelmente surpreendidos com o surto da vidência
da nossa irmã M.G., que se revelou possuidora de poderosa e brilhante faculdade
mediúnica, logrando, desde então, ver simultaneamente os mundos material e
espiritual.
A nossa irmã, criatura simples,
desprovida de todo e qualquer preparo intelectual, tendo apenas o conhecimento
das coisas triviais e comuns, concernentes à vida material e doméstica,
começou, dentro em pouco tempo, a ver não só os espíritos inferiores e
medianos, mas também os que habitavam os planos elevados, os chamados espíritos
de luz, com os quais confabulava diretamente, recebendo desses luminosos
personagens conselhos, avisos e instruções,
que a orientavam sobre a maneira pela
qual devia ela se conduzir no desempenho da tarefa decorrente da sua nova
condição de intermediária dos vivos e dos mortos.
Católica fervorosa e praticante, a
nossa vidente, conquanto não mostrasse nenhuma repugnância pelo Espiritismo,
ignorava, todavia, os princípios básicos e fundamentais desta doutrina, razão
por que não raras vezes se sentia seriamente embaraçada para compreender e
decifrar os símbolos de que se revestiam certos espíritos, que a ela se
mostravam, e os quadros, as cenas e as alegorias constantemente desenroladas
diante dos seus olhos, ainda pouco afeitos à contemplação das coisas espirituais,
da sua visão não aparelhada para devassar as belezas e os esplendores da epopeia
de luz que é o viver dos eleitos bem- aventurados.
Recorria ela frequentemente às nossas
fracas luzes, ao minguado ou quase nulo cabedal dos nossos conhecimentos,
pedindo-nos explicação acerca do que via, solicitando esclarecimentos sobre os
comoventes espetáculos, as risonhas e fagueiras perspectivas e os emocionantes
panoramas que vinham, dia a dia, se antolhando às suas vistas, deixando-a
extasiada e perplexa ante a grandeza infinita da obra do Criador.
De acordo com as limitadas noções que
possuímos sobre a mediunidade e os fenômenos espiríticos, fomos instruindo a
nossa vidente de modo que, decorridos alguns meses, achou-se ela em condições
de poder interpretar melhor o que observava e, com maior precisão e nitidez,
descrever-nos as suas encantadoras visões, as sublimes aparições dos espíritos
radiantes, os gloriosos mensageiros do Senhor.
Fomos, um dia, informados pela nossa
dedicada companheira de trabalho de que alguns espíritos manifestavam desejo de
se comunicarem com a Terra por nosso intermédio, para dar conhecimento aos
homens de um fato importante, assunto que devia interessar-nos, a nós e a toda
a humanidade. Prontificamo-nos a ouvir o que queriam dizer esses espíritos, que
tão interessados se mostravam em nos dar as suas comunicações.
Sempre auxiliados pela vidente, que ao nosso lado observava o que em
torno de nós se passava, descrevendo minuciosamente os sinais característicos
dos seres invisíveis que vinham ditar as suas mensagens, tivemos a rara
felicidade de entrar em comunicação com um espírito que declarou ter sido nosso
amigo e colega em várias encarnações que tivemos neste planeta, vivendo em
outro país, onde juntos exercemos a mesma profissão, abraçando, com grande
entusiasmo, a mesma arte. O estranho visitante entre outras coisas de que nos
fez sabedores, preveniu-nos que seríamos incumbidos de receber e divulgar um
certo número de comunicações do Além, que muito haviam de concorrer para a
vitória do Espiritismo, recomendando-nos ao mesmo temo, o simpático habitante
do espaço infinito, que não nos orgulhássemos por esse motivo e sim rendêssemos
graça a Deus, que por tal modo nos proporcionava ensejo para resgatarmos os
nosso erros e faltas cometidas em existências anteriores.
Embora crentes e convencidos da realidade do Espiritismo, é de justiça
declaramos aqui, com toda a lealdade e a franqueza que nos caracteriza, que,
não obstante termos podido comprovar a identidade do espírito portador do
interessante aviso, não demos credito às suas palavras, por não nos
considerarmos à altura de tão elevada quão honrosa tarefa, guardando, por esta
razão, durante quase dois anos, a maior sigilo sobre o que conosco se passara.
Decorridos que foram uns sessenta dias, mais ou menos, onde aquele
aviso, começamos a receber, sempre com o concurso da vidente, comunicações
firmadas pelos espíritos dos diversos papas que constam desta obra.
E, como estranhássemos o fato da presença de tantos espíritos de
pontífices romanos em nossa casa, obtivemos do Diretor Espiritual das nossas
sessões, que por ordem superior, se realizavam nos dias 1 e 15 de cada mês, a
explicação do curioso conhecimento. Disse-nos o nosso bondoso Guia que
estávamos recebendo comunicações destinadas a formar uma obra que se denominava
“Revelação dos Papas” e cujo plano
fora delineado pelos próprios espíritos interessados, em reunião efetuada no
Espaço, tendo ficando resolvido entre eles dirigirem um pedido coletivo a Deus
e a Jesus para que lhes fosse concedida a graça de virem os referidos espíritos
ao mundo para apagar os vestígios dos erros e crimes que praticaram durante a
existência na terrena na qual, do alto da cadeira chamada de S. Pedro,
governaram a cristandade. Escrevendo essas mensagens, acrescentou o nosso amado
Diretor, os papas desencarnados teriam em vista dar, publicamente, provas de
humildade e submissão à vontade de Deus e também de agradecimento pelos grandes
benefícios e extraordinárias graças por eles recebidos do Criador Supremo de
Todas as Coisas, que, solicita e carinhosamente, atendeu ao apelo a Ele
dirigido, permitindo a essas almas culpadas baixarem à Terra para destruir os
males que semearam entre os homens, falseando os sagrados princípios da
doutrina de Jesus, em cujo nome estavam agora autorizados a falar. E ainda
mais: que a confecção dessa obra — que teria por fim não só defender e afirmar
a verdade deturpada aqui na Terra, mas também restabelecer em toda a sua
pureza, os ensinamentos de Jesus, que os homens por ambição, orgulho, vaidade e
fraqueza adulteraram – seria levada a efeito por ordem superior e compor-se-ia
de dois a três volumes.
Tendo nós, com o devido acatamento, ponderado ao preclaro Guia que, sem
querermos fazer censura a quem não pode ser censurado, pedíamos, entretanto,
licença para considerar infeliz a escolha da nossa humilde e obscura pessoa
para tão nobre cometimento, que por nos faltarem os predicados e as virtudes
imprescindíveis a quem toma sobre os ombros tão digna e santa tarefa, quer pelo
fato de sermos muito pobres, lutando com grandes dificuldades para
mantermo-nos, a nós e a nossa família, não dispondo, por conseguinte, dos
recursos pecuniários suficientes para custear a impressão de uma obra que no
atual momento exigia avultada soma - ouvimos daquele eminente Espírito a
afirmação categórica de que na ocasião oportuna os recursos chegariam as nossas
mãos, não devendo, pois, preocupar-nos a questão material, por já estar tudo
previsto e dadas, nesse sentido, as providências necessárias.
No correr das sessões, que, como
ficou dito, tinham lugar de quinze em quinze dias, sendo nós, em companhia da
nossa irmã, a vidente, os únicos que nela tomavam parte, recebemos outro
esclarecimento fornecido pelo Diretor dos nossos trabalhos, o qual nos fez
saber que seriamos depositários das mensagens dos espíritos papas que no
momento pudessem se comunicar com a Terra, deixando, porém, de comparecer os
que estivessem encarnados ou no cumprimento de missões importantes das quais
não lhes fosse permitido afastar-se; e que, além das comunicações dos bispos de
Roma, receberíamos também as de muitos espíritos de luz, formando estas últimas
epístolas um novo e brilhante conjunto a que seria dado o título de “Série Luminosa”, apenso à “Revelação dos Papas”.
Instruções muito rigorosas nos foram
dadas sobre o modo pelo qual devíamos nos conduzir durante as sessões,
lembrando os espíritos a recomendação, anteriormente feita, de que fossemos os
únicos a tomar parte nos trabalhos. Achando, porém, demasiado severa a
restrição imposta, fizemos sentir ao Guia que assim procedendo, isto é,
instalando-nos completamente, poderíamos ser, mais tarde, acoimados de
falsários ou mistificadores, vindo indicar sobre nós a acusação de termos
inventado o que se contém nestes livros. Respondeu-nos o venerando Diretor
Espiritual que os trabalhos eram de natureza muito delicada, sendo, portanto,
de mister para o bom êxito da nossa tarefa, trabalharmos num ambiente
harmonioso, o mais homogêneo possível, o que se não poderia obter reunindo
muitas pessoas. E, para evitar acusações futuras, aconselhou-nos a adoção da
seguinte praxe: sempre que pessoas dignas respeitáveis e merecedoras do nosso
apreço e da nossa consideração e cuja índole e intuitos fossem por nós
conhecidos, manifestassem desejo de tomar parte nos nossos trabalhos as
admitíssemos e, quando se tornasse necessário, apelássemos para elas, invocando
o seu testemunho em favor da verdade. Foi assim que por diversas vezes
estiveram presentes às nossas reuniões algumas distintas senhoras e ilustres
cavalheiros, que nos viram receber muitas das comunicações de que se compõe a “Revelação dos Papas” e aí estão prontas
para testemunhar o que presenciaram.
Nos dias destinados às nossas
sessões, reuníamo-nos ignorando por completo quais os espíritos que se
comunicariam conosco e os assuntos de que tratariam nas suas mensagens. O nosso
Diretor, ao inaugurar os trabalhos, dizia-nos somente: “vocês vão receber três
espíritos luminosos, que lhes darão comunicações interessantes, contendo
grandes ensinamentos, cheias de luz e sabedoria, etc.”; e nada mais.
Os espíritos dos papas e bem assim os
que fazem parte da “Série Luminosa” apresentavam-se espontaneamente, sem ser
invocados. Ao aproximar-se a hora da reunião, começavam esses seres impalpáveis
a aparecer à nossa vidente, com quem trocavam ideias, ordenando-lhe que
anunciasse a sua presença entre nós. Às vezes, os estranhos visitantes iam,
dias antes, surpreender a nossa irmã na sua própria residência, nos momentos em
que se achava ela entregue aos seus afazeres de dona de casa, para avisá-la de
que na primeira sessão que efetuássemos, receberíamos as suas visitas.
Quando iniciamos a nossa humilde tarefa,
recebíamos três mensagens em cada sessão, sendo de dez minutos o intervalo
entre uma e outra comunicação.
Fomos levados a esse trabalho
extenuante por ter o nosso Guia declarado haver urgência no recebimento dessas
missivas dos papas e demais espíritos que colaboraram nesta “Revelação”. Com o
andar dos tempos, porém, a fadiga nos obrigou a não mais receber três e sim
duas epístolas em cada reunião.
Pelo que acabamos de expor, o leitor
verificará que não solicitamos a graça de ser intermediário dos espíritos
autores das luminosas comunicações constantes dos três volumes da “Revelação dos Papas” e que jamais nos
passou pela mente a ideia de combater religiões, mesmo porque, naquela época, a
nossa vida material era rude e penosa e não tínhamos tempo para pensar noutra
coisa que não fosse as responsabilidades e os compromissos que então pesavam
sobre nós.
Não procuramos a espinhosa tarefa de
que começamos agora a desobrigar-nos, ao contrário, ela veio ao nosso encontro,
fomos chamados ao cumprimento deste dever, apelaram para a nossa boa vontade,
exigiram mesmo que aceitássemos a delicada incumbência que nos foi oferecida e,
para que não nos esquivássemos sob qualquer pretexto, num dos nossos momentos
de vacilação, colocaram na nossa frente o querido espírito daquela que foi a
autora dos nossos dias na Terra, para pedir-nos que assumíssemos com prazer
esse compromisso, que cessará de todo para nós no dia em que dermos publicidade
ao último volume desta obra.
Não temos, portanto, outro escopo a
não ser dar cumprimento à ordem recebida, sentindo, ao mesmo tempo, a
satisfação que experimenta todo aquele que conclui um trabalho, levando ao
termo uma tarefa, uma empresa difícil em que estiveram empenhados a sua
palavra, a sua honra e a sua dignidade.
Bem sabemos que a incredulidade
orgulhosa e presumida, o sectarismo interessado, o fanatismo inconsciente e
impiedoso de par com a ignorância audaciosa e petulante, em suma, todos os
elementos reacionários e retrógrados e empenhados na luta inglória contra o
progresso, que, a despeito de todas as guerras e oposições, se vai realizando
no seio da humanidade, procurarão negar a pureza das nossas intenções
recebendo, colecionando e publicando estas mensagens. Acima, porém das opiniões
e juízos que possam formar os que se sentirem feridos nos seus interesses com a
publicação destes livros, está a nossa consciência, que serena e tranquila
apresentamos aqui, diante de Deus e de Jesus – os dois grandes fiadores do que
viemos afirmando no correr desta ligeira exposição que fazemos.
Crentes sinceros, que somos, e
conhecedores das leis morais que regem os nossos destinos e as nossas ações;
possuindo noção exata e segura do rigor e da inflexibilidade com que a Justiça
Divina pune os que a desrespeitam e violam, mentindo, mistificando, recorrendo
a embustes e falsidades para ludibriar as consciências dos homens - apelamos
para essa mesma Justiça, pedindo-lhe que seja impiedosa e inexorável, cruel
mesmo, para conosco, se porventura, visando interesse de qualquer ordem,
procuramos enganar os nossos irmãos.
Aqui ficamos, pois, à espera da
condenação, se fizermos jus a ela, ou da absolvição, se Deus, na sua infinita
sabedoria, nos julgar isentos de culpa.
Rio de Janeiro, 20
de junho de 1919.
Abrahão Luz
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