E Roustaing continua...
É necessário que nós espíritas
vigiemos muito rigorosamente nossas ações para não incidirmos nos erros que
costumamos reconhecer em elementos que professam outros credos. O espírito de
tolerância, por exemplo, foge sempre daquele que se arroga o direito de
descobrir faltas alheias, em defesa de pontos de vista próprios, considerados
sólidos e intangíveis por quem os esposa.
Todas as vezes que um espírita, ou soi-disant espírita, entra num debate
sem serenidade nem apego aos fatos, está falseando princípios indeclináveis da
Doutrina kardeciana e demonstrando não ser verdadeiramente espírita e muito
menos espírita-cristão. Não se deve opinar sem conhecimento real, na comentação
de um assunto: "O que caracteriza um
estudo sério é a continuidade que se lhe dá", disse o Codificador.
Entretanto, a maioria, senão a totalidade dos que combatem "Os Quatro
Evangelhos" ou J. B. Roustaing, não podem, em sã consciência, afirmar haja
feito "um estudo sério" da grande e valiosa obra mediúnico-mecânica
psicografada por Mme. Collignon. É preciso não confundir simples leitura com
estudo, isto é, com "estudo sério", que implica meditação e
raciocínio. Para se efetuar "um estudo sério" de determinado assunto,
é indispensável serenidade, isenção de ânimo e capacidade analítica.
Ainda que, por questão de foro
íntimo, os opositores de Roustaing não aceitem a ideia do "corpo
fluídico" de "Jesus, nem por isso deve "A Revelação da
Revelação" ("Os Quatro Evangelhos") ser condenada, uma vez que
encerra ensinamentos morais muito preciosos, perfeitamente acatáveis pelos mais
exigentes defensores da Doutrina Espírita, segundo a própria opinião de Kardec.
Lamentavelmente, porém, formou-se,
dentro do Espiritismo, uma corrente de negadores sistemáticos de Roustaing, que
foi o coordenador de "Os Quatro Evangelhos", corrente essa que, à
simples referência do nome ilustre do bastonário de Lião, se inflama, se
irrita, se descontrola e se empolga por estranho ódio, esquecendo os preceitos
de tolerância, amor e caridade constantes da Doutrina, como se, no Espiritismo,
fora possível conciliar esses puros sentimentos cristãos com sentimentos que
lhes são antagônicos.
“O
que, porém, não podemos admitir é a pretensão de alguns incrédulos, a de terem
o monopólio do bom senso e que, sem guardarem conveniências e respeitarem o
valor moral de seus adversários,
tachem, com desplante, de ineptos, os que não lhes seguem o parecer. Aos olhos
de qualquer pessoa judiciosa, a opinião dos que, esclarecidos, observaram
durante muito tempo, estudaram e meditaram uma coisa, constituirá sempre,
quando não uma prova, uma presunção, no mínimo, a seu favor, visto ter logrado
prender a atenção de homens respeitáveis, que não tinham interesse algum em
propagar erros nem tempo a perder com futilidades."
Estas palavras de Allan Kardec podem ser
aplicáveis ao caso...
Túlio Tupinambá (Indalício
Mendes)
Reformador (FEB)
Novembro 1947
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