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“À Luz
da Razão”
por Fran Muniz
Pap. Venus – Henrique Velho & C. – Rua Larga, 13 -
Rio
1924
A IGREJA CATOLICA E SUA AUTORIDADE
Antes
de iniciarmos o estudo sobre o catolicismo, cumpre-nos prevenir, com
sinceridade, que o fazemos sem o intuito de visar a individualidade de quem
quer que seja, pois, além de tudo, nos consideramos irmãos e amigos dos nossos
semelhantes, sem distinção de raças nem de credos.
E
será no Evangelho que nos havemos escudar, pois nesse código de moral sublime
se encerram todas as verdades proferidas e exemplificadas pelo Enviado do Pai,
que as eternizou, veladamente, a fim de que fossem consentâneas ao passado, à
sua época e ao futuro dos séculos.
Para
interprete-las com exatidão são necessários a perspicácia e o raciocínio, por
isso mesmo, o próprio código nos previne de que: - “a letra mata e o espírito
vivifica.”
Demais,
pode-se ter a noção dessa dificuldade, quando Cristo diz a cada momento:-
“ Ouçam os que têm ouvidos para ouvi.”
E
isto falando aos discípulos, que mais claramente podiam entendê-lo.
Posto
que a relutância de sua compreensão seja necessária para aguçar a inteligência
humana, temo-la, presentemente, explicada em espírito e verdade na REVELAÇÃO
NOVA que é o CONSOLADOR prometido pelo Mestre e que a igreja chama ESPIRITO SANTO
(1). .
(1) Os Quatro Evangelhos,
explicados em espírito e verdade pelos Evangelistas e coordenados por J. B.
ROUSTAING.
Desse
modo, maus interpretadores do excelso código, não podendo dissecar o - espírito
da letra -, desprezaram-no como ainda hoje desprezam a REVELAÇÃO que tudo vem
esclarecer, e, ajuizando segundo as suas opiniões, enveredou cada qual por
atalhos divergentes.
Dever
é no entanto de todo o cristão dessedenta-se na fonte de água límpida, que é o
Evangelho.
E
se acaso essa água lhe perecer turva, desanuvie os olhos, por que o
escurecimento está na vista e não na água.
A
doutrina do Mestre tem, infalivelmente, que se adaptar à boa razão em todos os
tempos e em quaisquer circunstâncias.
Não
é, porém, o que geralmente sucede. Cada qual se escraviza ao fanatismo infrene,
aos erros e abusos de toda espécie, sem a devida observação aos chamados mistérios,
nem ao estudo dos fenômenos que surgem a cada passo.
Para
nos persuadirmos da ineficácia da fé, sem o prévio exame de consciência, basta
tomarmos para exemplo a igreja romana, cujo dogmatismo é assaz fértil nas
provas de que necessitamos.
Segundo
pretende essa igreja, “JESUS CRISTO” é o seu chefe invisível e o papa recebe
dele toda a sua autoridade.”
“Sua
igreja subsistirá eternamente e de todos os seus membros que formam um só
corpo, alguns estão no Céu, outros padecem
as penas do Purgatório e muitos vivem
ainda neste mundo; esta diferença de lugares, porém, não impede que estejam
unidos e haja entre si uma comunicação de bens espirituais que é o que eles chamam
de Comunicação dos Santos.”
“Só
a essa igreja CRISTO concedeu o poder de
perdoar e reter pecados. No fim do mundo, todos os homens ressuscitarão em
corpo e alma para receber a recompensa ou o castigo que hajam merecido,
enquanto que os membros vivos dessa igreja somente ressuscitarão em corpos
gloriosos e, gozarão a vida eterna; todos os demais ressuscitarão também em
corpo e alma para serem arremessados ao inferno,
depois do Juízo final.” (1)
(1) Goffiné. - Manual
do Cristão, pág. XXXIV.
Façamos
um esforço para reprimir um sorriso a que nos provocam semelhantes incongruências
e analisemo-las serenamente:
A
igreja começou errando logo no titulo, porque, como se sabe, “católico” quer
dizer – universal - e, sem pretendermos que as miríades de mundos do universo
sejam regidos pelos dogmas do papa, ninguém ignora que há muitas igrejas, cada
qual com o seu credo, e que há até países onde o catolicismo não é professado.
Assim,
pois, indiscutivelmente, a igreja de Roma nunca foi nem será jamais universal.
A
sua proclamada subsistência até o fim dos
séculos, não inspira a desejada confiança; vemo-la dia a dia perder aquele
vigor dos tempos idos, e, por nossa parte podemos vaticinar-lhe um fim irremediavelmente
próximo.
Não
se compreende como os membros da igreja estando disseminados em três pontos
opostos entre si estejam ao mesmo tempo unidos.
Entende-se
por pessoas unidas aqueles que partilham dos mesmos sentimentos, das mesmas simpatias,
das mesmas regalias. Ora, admitindo-se, como é natural, que os sentimentos
sejam diferentes em cada um dos pontos - terra,
céu e purgatório - resulta que, ou a igreja não diz a verdade, ou existe igualdade
de condições em qualquer desses pontos; logo, dois deles são inúteis e, ipso-facto, existem sem razão de ser.
Quanto
a essas comunicações de bens espirituais,
é mais ou menos exata e a Igreja aqui quase se descobre inteiramente alçando
uma parte do reposteiro, por traz do qual, procura ocultar-se, porque afirma uma
das leis provadas pelo Espiritismo; mas ainda assim. isso só pode dar-se entre
os membros do céu e os de terra e não com os do purgatório, porque, segundo a
Igreja, sendo o purgatório um presídio onde as almas cumprem sentenças, como
conseguem elas se libertar para comunicar-se com os vivos?
Ora,
com semelhantes regalias dispensadas aos seus prisioneiros, é evidente que esse
estabelecimento católico se torna positivamente inútil e a Igreja faria melhor
suprimindo-o (e isso lhe seria tão fácil, como fácil foi cria-lo), enviando
depois todos os seus fiéis diretamente para o céu.
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