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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O Testamento de Fred Fígner



O Meu Testamento
por Fred Figner
Reformador (FEB) Setembro 1946

            Ninguém mais do que eu foi bafejado pela Divina Misericórdia, e, devido às inúmeras graças que recebi do Senhor, às vezes, meditando sobre o futuro, fico em dúvida se as minhas ações durante esta trajetória, de 80 anos, têm correspondido às graças recebidas. Conheço os meus defeitos e fraquezas e tenho procurado dar-lhes combate. De uma coisa me convenci: se algo fiz de bom ou que preste, durante os 46 anos de conversão espírita, nunca foi resultante do meu valor, mas, sim, tão somente da Misericórdia do Alto que jamais me faltou. Cheguei, pois, à conclusão de que nada valemos e nada temos de nosso. Tudo nos vem como Jesus disse: de acréscimo e por misericórdia.

            Lembro-me de que um dia, durante os 28 anos que dei passes diariamente na Federação - e não o digo para me vangloriar disso - eu não me sentia indisposto a comparecer lá, parecia-me não estar passando bem; então pedi ao Quintão, que trabalhava comigo, perguntasse ao Dr. Bezerra se podia deixar de comparecer e dele veio a seguinte resposta: "Tu nada tens de teu para dar, pede a quem tudo pode e ser-te-á dado de acréscimo. Vai cumprir com o teu dever." Eu fui, e voltei outro. Foi esta explicação simples do Dr. Bezerra que me convenceu de que eu não passava de inútil instrumento a quem Jesus concedeu a esmola de em Seu Santo nome algo fazer aqui.

            Assim também comecei a dedicar-me à cura de obsedados, formando um grupo na Federação, além de um outro já existente em minha casa. Apareciam, entre os que iam tomar passes, tantos franciscanos que achei do meu dever procurar curá-los, o que, aliás, aprendi com Pedro Richard no Grupo de Assistência da Federação. Os doentes foram aparecendo em tal quantidade, que comecei a duplicar as sessões e, assim, cheguei a presidir 6 sessões por semana, em quase todas elas com outros médiuns. Acabei esgotando-me e os meus guias me aconselharam a descansar. 

            Presentemente, no decorrer deste ano, pouco tenho ido, devido às ameaças de angina e edema pulmonar.

            As curas, a meu ver, constituem excelente propaganda da Doutrina.
           
            A conselho de um amigo, no fim do ano de 1944, comecei a guardar os papéis em que tomo nota dos nomes e endereços dos doentes obsidiados e bêbedos, pelos quais me pedem trabalhos. São de doentes residentes desde o Acre até o Rio Grande do Sul. Só no ano passado, tratei de 302 casos e, destes, tenho a correspondência guardada, como prova de terem sido curados uns 80%. O restante, não sei, porque não responderam às minhas cartas nem reclamaram de novo.

            Escrevo isto como paradigma de fé e perseverança, para que outros façam o mesmo, no campo fértil da Doutrina, o que é possível.

            Quase todos os bêbedos são influenciados por espíritos viciados na bebida, os quais se encostam nos médiuns e agem como vampiros, sugando o álcool através da sua vítima. Outras vezes é um ato de vingança, como se verificou com um senhor que foi Secretário de Legação em Haia. Logo que deflagrou a guerra, ele voltou ao Rio. Um dia, uma velhinha, sua mãe, me procurou na loja, dizendo: "Sr. Fígner, o senhor, lá em S. Paulo, tem fama de curar. O meu filho, há três anos e meio, vem se embriagando todos os dias. Atualmente ele está comigo em S. Paulo, com 6 meses de licença, a qual esta prestes a terminar. Se ele voltar neste estado, estará desgraçado," "Minha senhora - respondi - quem cura é Deus, e, se Deus quiser, o seu filho ficará curado .. " Na mesma noite pedi ao Guia se era possível a cura, e ele respondeu: "Vamos trabalhar por ele". Manifestou-se um Espírito que se vingava por um ato praticado pela sua atual vitima, em anterior encarnação. Doutrinado o obsessor, estabeleceu-se prontamente a cura e nunca mais o hoje Ministro A. G. B. ingeriu uma gota de álcool. E ele mesmo confessa a sua cura, graças a Deus.

            Assim, centenas de casos tenho tratado com grande êxito. É  preciso, porém, muita paciência com os Espíritos, porque em muitos casos eles até ignoram o seu estado no mundo espiritual. Muitas vezes parecem ter sido doutrinados, mas voltam, com saudade, à procura dos comparsas e amigos que lhes oferecem o ensejo de saciar lhes a sede de álcool. Porém, com paciência, humildade e oração, finalmente se encaminham na senda do progresso. Contudo, para melhor êxito dos trabalhos de doutrinação, é aconselhável a formação de pequenos grupos, compostos de um médium ou dois, um diretor--doutrinador e mais um ou dois companheiros para ajudarem na concentração, todos sem curiosidade, mas com o desejo único de servir a Jesus. Ficando bem homogêneo o grupo, o resultado será bem satisfatório. O trabalho maior é sempre produzido pelos Espíritos amigos que melhor do que nós sabem como tocar o coração dos obsessores ou sofredores. Nunca me fiei em mim e, quando uma vez me esqueci do Alto, uma senhora possessa me ferrou os dentes, fazendo sangrar-me o braço, através da manga do paletó e da camisa. lsto não foi em sessão, mas na própria casa da doente. Nunca deixei que os obsidiados viessem às minhas sessões.

            Estou fazendo o meu testamento e quero que os novos espíritas façam o mesmo. Esqueçam-se de si e dos seus, quando isso for preciso, certos de que Jesus suprirá o necessário quando nos dedicarmos com amor ao seu serviço.

            O crente deve demonstrar com atos a sua fé. Não basta só crer para si, é preciso demonstrá-lo ao mundo. Nunca me esqueci da advertência do meu amigo Dr. Bittencourt Sampaio, feita à minha pessoa por intermédio do médium Frederico Pereira da Silva Júnior: "Fígner, não vás a parte alguma sem deixares Iá o rastro da tua passagem." Tenho com coragem seguido este conselho do amigo que mais de uma vez me deu a prova da sua amizade. Façam o mesmo todos os espíritas. É preciso confessemos o Cristo com os nossos atos.       

            Que me perdoem, se excedi-me em conselhos, que todos devem estar fartos de conhecer e praticar. 




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