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Em sua obra LES VIES SUCCESSlVES, de
que mais de uma vez nos temos socorrido, o Sr. de Rochas, com efeito,
registrando o depoimento do sensitivo Mireílle, com quem obteve as mais surpreendentes
manifestações, numa serie de experiências que intitulou, como já aludimos no
capitulo IV, O CASO DE MIREILLE (1), a propósito da "camada elétrica que
limitaria a nossa atmosfera," observou em nota:
(1) Ver ob. cit., cap , II pág, 404 e segs .
"Encontro no ENSAIO SOBrE OS PHENOMENOS ELECTRICOS
DOS SERES VIVOS, publicado em 1894 pelo Dr. Fugairon, a seguinte passagem de
que nem Mireille nem eu tinham os então conhecimento:
"A esfera de fluido elétrico - O globo terrestre possui uma
eletricidade própria, em múltipla causa originada. A crosta terrestre é
eletrizada negativamente, ao passo que a atmosfera o é positivamente. O
potencial do ar aumenta a medida que nos elevamos . Até a distância de um metro
do solo nenhum sinal de eletricidade se observa. A partir daí, Quetelet
verificou que a intensidade é proporcionada à altura, resultado igualmente
encontrado por W. Thonson e por Mascart e Joubert .
"Peltier reconheceu, com um papagaio de papel, que
a eletricidade, que se intensifica lentamente até 100 metros, aumenta em
seguida rapidamente até a altura ele 247 metros, máxima por ele atingida. As
observações feitas nas ascensões aerostáticas provaram que o ar das altas
regiões (6 a 7.000 metros) é fortemente carregado de eletricidade positiva.
“Uma espessa camada de fluido elétrico
parece, pois, saturar as regiões superiores e dominar nos limites de nossa atmosfera.
Essa esfera etérea corresponde à zona de fogo, ao céu de fogo dos
antigos."
E o Sr. de Rochas acrescenta:
"No Estado de Baroda (Índia) se acredita que a
residência das almas depois ela morte, ou Vaya
Loka, é uma porção do espaço que circunvolve a terra. Dizem que a Terra tem
sete envoltórios e que vaya ou o ar é
um deles, a eletricidade um outro."
Essa concepção, como se vê, se ainda
não está positivamente demonstrada, pode contudo a justo título invocar as
aludidas observações da experiência cientifica em favor da sua probabilidade. E
se, por nossa parte, nos abstemos de adotar o indicado número de esferas como
definitiva aquisição, não desdenhamos o subsídio experimental que parece vir em
seu auxílio, para formular, como o vínhamos fazendo, a hipótese - e não mais
que a
hipótese - das sucessivas estâncias dos espíritos no Invisível .
Restaria contudo a esclarecer um
ponto: como se comportará o perispírito em relação às camadas elétricas da
nossa atmosfera? - Para o determinar, seria preciso conhecer, primeiro, a
natureza e em seguida a variabilidade dos seus graus de atração, conforme a sua
maior ou menor densidade, subordinada sempre ao adiantamento ou atraso do seu
portador. Questão prematura no estado atual dos nossos limitados conhecimentos
nesse domínio transcendente, deixa em todo caso franqueado o recurso às conjecturas,
admissíveis certamente na proporção em que se fundem sobre o raciocínio e a
analogia.
Ora, a perfeita harmonia em que
vemos todas as coisas se ajustarem, para a manutenção da ordem que evidentemente
impera no universo, a tal ponto que, aos fenômenos de natureza espiritual,
regidos por leis a que tudo o mais está subordinado, correspondem, na ordem
material, sucessos que os completam, nos autoriza a acreditar que, se
a permanência dos espíritos inferiores na atmosfera mais próxima da Terra é
devida antes de tudo á inferioridade de seus sentimentos, que os induzem a
colaborar com os homens em toda a sorte de desregramentos de que, pelo entre o
seu perispírito e a composição, equivalentemente pensamento ao menos,
participam, a essa permanência não será estranha a afinidade, isto é, a relação
de atração grosseira, dessa mesma atmosfera. À medida que se elevam
e enobrecem as aspirações do espirito, vai ele gravitando para regiões cada vez
mais altas, com as quais vai também, simultaneamente, adquirindo afinidade o
seu revestimento etéreo.
Daí a admitir-se a possibilidade,
senão a probabilidade, da superposição de esferas fluídicas sucessivas, em que
a atração elétrica (ou magnética?) aumenta com a progressiva diminuição da
densidade atmosférica, sendo cada uma delas a extensa morada de espíritos
selecionados por ordem de adiantamento, mas sempre com a faculdade de interpenetração
- convém não o esquecer - das menos elevadas pelos mais adiantados seres, não
vai senão um passo que a lógica, sem dificuldade nem repugnância, transporá.
Se esta concepção, como se nos
afigura, é verdadeira, virá sensivelmente modificar as noções até agora
admitidas, no sentido da ilimitada liberdade de que no Além gozariam os
espíritos de todas as categorias, não somente confundidos em um meio
uniformemente constituído, como nos era apresentado o invisível, não havendo
entre eles separação alguma a não serem as diferenças intrínsecas resultantes
de seus respectivos graus de moralidade e inteligência, mas tendo todos a mesma
faculdade de ação e translação em todas as latitudes do universo.
A razão, contudo, nos diz que assim
não pode ser. E se, em nossa condição de encarnados, não podemos conceber o
modo de ser peculiar aos espíritos libertos, para os quais
- já o temos mais de uma vez assinalado -as noções de espaço e tempo, se de
todo não desaparecem, devem pelo menos consideravelmente se modificar, não
ficaremos decerto muito longe da verdade, admitindo limitações à liberdade de
ação e translação de que desfrutam eles, necessariamente regulada pela maior ou
menor soma de progresso adquirido.
Poderá, com efeito, razoavelmente
conceber-se que espíritos ignorantes e atrasados tenham as mesmas possibilidades
de acesso que outros mais adiantados a todas as regiões do infinito? E que é
que os deterá, circunscrevendo-os, na liberdade dos seus surtos? - Primeiro,
sem dúvida, uma razão de ordem moral: a sua tendência para os lugares em que encontrem
eco e expansão os seus inferiores sentimentos; e em seguida uma razão que se
pode rigorosamente considerar de natureza física,
isto é, a afinidade, entre o seu perispírito e o ambiente por eles preferido.
Dar-se-á a esse respeito - e aqui a
analogia virá em nosso auxílio - o que semelhantemente se passa em nosso mundo.
Também aqui os indivíduos não somente se procuram e convivem, constituindo as
diferentes classes sociais, consoante a natureza dos seus hábitos, inclinações,
educação e o mesmo gênero de vida a que se entregam mas até se instalam em
bairros separados, cada um com seus próprios e inconfundíveis característicos.
Na Terra, essas diferentes classes
sociais, posto que frequentemente se acotovelem nas ruas e mesmo, em obediência
ao inflexível princípio da solidariedade universal e, conseguintemente, humana,
estejam em mútuas e mais ou menos diretas relações de dependência, gravitam contudo
em distintas órbitas de ação, mantendo entre si os caracteres
de uma positiva hierarquia. O mesmo não será ilógico admitir que se verifique
no mundo espiritual, com a diferença, todavia, de que, caída a máscara de carne
e banidos os preconceitos e convenções, tantas vezes arbitrárias, que separam
aqui as criaturas, bem diversa há de ser a sua classificação. Neste mundo, com
efeito, nem sempre são os mais dignos nem os de mais elevada estatura moral os
que ocupam as eminentes posições na sociedade. vendo-se, ao contrário,
confinados nas classes inferiores e obscuras indivíduos de nobres sentimentos e
inquebrantável retidão, enquanto outros de pervertidos e viciosos
pendores,
servidos pela astúcia, desfrutam as vantagens daquelas elevadas posições, que - bem o sabemos - constituem arriscadas provas
a que geralmente sucumbem tais espíritos: lá, no "mundo da verdade,"
onde não são possíveis a impostura e as dissimulações, a classificação hierárquica
de si mesma se opera, por ordem estritamente rigorosa de merecimento, cada um
se apresentando tal qual é, e não como desejaria parecer.
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