segunda-feira, 17 de setembro de 2012

59a. "Doutrina e Prática do Espiritismo"



59a ***


            Em sua obra LES VIES SUCCESSlVES, de que mais de uma vez nos temos socorrido, o Sr. de Rochas, com efeito, registrando o depoimento do sensitivo Mireílle, com quem obteve as mais surpreendentes manifestações, numa serie de experiências que intitulou, como já aludimos no capitulo IV, O CASO DE MIREILLE (1), a propósito da "camada elétrica que limitaria a nossa atmosfera," observou em nota:

            (1) Ver ob. cit., cap , II  pág, 404 e segs .


            "Encontro no ENSAIO SOBrE OS PHENOMENOS ELECTRICOS DOS SERES VIVOS, publicado em 1894 pelo Dr. Fugairon, a seguinte passagem de que nem Mireille nem eu tinham os então conhecimento:

            "A esfera de fluido elétrico - O globo terrestre possui uma eletricidade própria, em múltipla causa originada. A crosta terrestre é eletrizada negativamente, ao passo que a atmosfera o é positivamente. O potencial do ar aumenta a medida que nos elevamos . Até a distância de um metro do solo nenhum sinal de eletricidade se observa. A partir daí, Quetelet verificou que a intensidade é proporcionada à altura, resultado igualmente encontrado por W. Thonson e por Mascart e Joubert .

            "Peltier reconheceu, com um papagaio de papel, que a eletricidade, que se intensifica lentamente até 100 metros, aumenta em seguida rapidamente até a altura ele 247 metros, máxima por ele atingida. As observações feitas nas ascensões aerostáticas provaram que o ar das altas regiões (6 a 7.000 metros) é fortemente carregado de eletricidade positiva.

            “Uma espessa camada de fluido elétrico parece, pois, saturar as regiões superiores e dominar nos limites de nossa atmosfera. Essa esfera etérea corresponde à zona de fogo, ao céu de fogo dos antigos."

            E o Sr. de Rochas acrescenta:

            "No Estado de Baroda (Índia) se acredita que a residência das almas depois ela morte, ou Vaya Loka, é uma porção do espaço que circunvolve a terra. Dizem que a Terra tem sete envoltórios e que vaya ou o ar é um deles, a eletricidade um outro."

            Essa concepção, como se vê, se ainda não está positivamente demonstrada, pode contudo a justo título invocar as aludidas observações da experiência cientifica em favor da sua probabilidade. E se, por nossa parte, nos abstemos de adotar o indicado número de esferas como definitiva aquisição, não desdenhamos o subsídio experimental que parece vir em seu auxílio, para formular, como o vínhamos fazendo, a hipótese - e não mais que a hipótese - das sucessivas estâncias dos espíritos no Invisível .

            Restaria contudo a esclarecer um ponto: como se comportará o perispírito em relação às camadas elétricas da nossa atmosfera? - Para o determinar, seria preciso conhecer, primeiro, a natureza e em seguida a variabilidade dos seus graus de atração, conforme a sua maior ou menor densidade, subordinada sempre ao adiantamento ou atraso do seu portador. Questão prematura no estado atual dos nossos limitados conhecimentos nesse domínio transcendente, deixa em todo caso franqueado o recurso às conjecturas, admissíveis certamente na proporção em que se fundem sobre o raciocínio e a analogia.

            Ora, a perfeita harmonia em que vemos todas as coisas se ajustarem, para a manutenção da ordem que evidentemente impera no universo, a tal ponto que, aos fenômenos de natureza espiritual, regidos por leis a que tudo o mais está subordinado, correspondem, na ordem material, sucessos que os completam, nos autoriza a acreditar que, se a permanência dos espíritos inferiores na atmosfera mais próxima da Terra é devida antes de tudo á inferioridade de seus sentimentos, que os induzem a colaborar com os homens em toda a sorte de desregramentos de que, pelo entre o seu perispírito e a composição, equivalentemente pensamento ao menos, participam, a essa permanência não será estranha a afinidade, isto é, a relação de atração grosseira, dessa mesma atmosfera. À medida que se elevam e enobrecem as aspirações do espirito, vai ele gravitando para regiões cada vez mais altas, com as quais vai também, simultaneamente, adquirindo afinidade o seu revestimento etéreo.

            Daí a admitir-se a possibilidade, senão a probabilidade, da superposição de esferas fluídicas sucessivas, em que a atração elétrica (ou magnética?) aumenta com a progressiva diminuição da densidade atmosférica, sendo cada uma delas a extensa morada de espíritos selecionados por ordem de adiantamento, mas sempre com a faculdade de interpenetração - convém não o esquecer - das menos elevadas pelos mais adiantados seres, não vai senão um passo que a lógica, sem dificuldade nem repugnância, transporá.

            Se esta concepção, como se nos afigura, é verdadeira, virá sensivelmente modificar as noções até agora admitidas, no sentido da ilimitada liberdade de que no Além gozariam os espíritos de todas as categorias, não somente confundidos em um meio uniformemente constituído, como nos era apresentado o invisível, não havendo entre eles separação alguma a não serem as diferenças intrínsecas resultantes de seus respectivos graus de moralidade e inteligência, mas tendo todos a mesma faculdade de ação e translação em todas as latitudes do universo.

            A razão, contudo, nos diz que assim não pode ser. E se, em nossa condição de encarnados, não podemos conceber o modo de ser peculiar aos espíritos libertos, para os quais - já o temos mais de uma vez assinalado -as noções de espaço e tempo, se de todo não desaparecem, devem pelo menos consideravelmente se modificar, não ficaremos decerto muito longe da verdade, admitindo limitações à liberdade de ação e translação de que desfrutam eles, necessariamente regulada pela maior ou menor soma de progresso adquirido.

            Poderá, com efeito, razoavelmente conceber-se que espíritos ignorantes e atrasados tenham as mesmas possibilidades de acesso que outros mais adiantados a todas as regiões do infinito? E que é que os deterá, circunscrevendo-os, na liberdade dos seus surtos? - Primeiro, sem dúvida, uma razão de ordem moral: a sua tendência para os lugares em que encontrem eco e expansão os seus inferiores sentimentos; e em seguida uma razão que se pode rigorosamente considerar de natureza física, isto é, a afinidade, entre o seu perispírito e o ambiente por eles preferido.

            Dar-se-á a esse respeito - e aqui a analogia virá em nosso auxílio - o que semelhantemente se passa em nosso mundo. Também aqui os indivíduos não somente se procuram e convivem, constituindo as diferentes classes sociais, consoante a natureza dos seus hábitos, inclinações, educação e o mesmo gênero de vida a que se entregam mas até se instalam em bairros separados, cada um com seus próprios e inconfundíveis característicos.

            Na Terra, essas diferentes classes sociais, posto que frequentemente se acotovelem nas ruas e mesmo, em obediência ao inflexível princípio da solidariedade universal e, conseguintemente, humana, estejam em mútuas e mais ou menos diretas relações de dependência, gravitam contudo em distintas órbitas de ação, mantendo entre si os caracteres de uma positiva hierarquia. O mesmo não será ilógico admitir que se verifique no mundo espiritual, com a diferença, todavia, de que, caída a máscara de carne e banidos os preconceitos e convenções, tantas vezes arbitrárias, que separam aqui as criaturas, bem diversa há de ser a sua classificação. Neste mundo, com efeito, nem sempre são os mais dignos nem os de mais elevada estatura moral os que ocupam as eminentes posições na sociedade. vendo-se, ao contrário, confinados nas classes inferiores e obscuras indivíduos de nobres sentimentos e inquebrantável retidão, enquanto outros de pervertidos e viciosos
pendores, servidos pela astúcia, desfrutam as vantagens daquelas elevadas posições, que  - bem o sabemos - constituem arriscadas provas a que geralmente sucumbem tais espíritos: lá, no "mundo da verdade," onde não são possíveis a impostura e as dissimulações, a classificação hierárquica de si mesma se opera, por ordem estritamente rigorosa de merecimento, cada um se apresentando tal qual é, e não como desejaria parecer.










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