Kardec-Roustaing VII
Reformador (FEB)
Abril 1947
Um argumento muito solene e
presunçoso das pessoas que contestam a teoria do corpo fluídico
de Jesus e que, no entanto, nada vale, é que as leis de Deus na Natureza são
irrevogáveis e que Ele estabeleceu como lei, para a reprodução da vida, a união
dos dois sexos.
É presunçoso, porque conhecemos
pouquíssimo das leis de Deus na Natureza; sabemos que estamos muito longe de
poder traçar limites finais e, deste pouco que conhecemos, notamos que há
infinita variedade de processos. As plantas se reproduzem pela união dos dois
sexos: há a flor masculina que pelo seu pólen fecunda a feminina, assim como
também há flores andrógínas. Outros vegetais existem que possuem os mais
variados métodos de reprodução assexuada. Os fetos, os cogumelos, os musgos e
as algas marinhas desprendem miríades de células ou esporos, cada qual capaz de
dar origem diretamente a um novo vegetal. Muitos lavradores empregam a estaca,
a olhadura, parte da rama de muitas plantas para a reprodução sem a reunião dos
sexos. Vemos tapiocais, canaviais feitos exclusivamente pelo processo de
reprodução por um olho e não pela semente que representaria o ovo fertilizado,
ou a união dos dois sexos.
Nas sessões de materialização
assistimos ao fenômeno de um Espírito tomar de empréstimo matéria ectoplásmica
do médium e dos assistentes e formar para si mesmo um corpo substancial com o
qual pratica todos os atos de um homem normal: fala, escreve, faz moldes,
maneja uma tesoura, etc. , assim como, nesse corpo carniforme, são sentidas as
pulsações do coração, o sopro pulmonar e muitos outros característicos do ser
humano-carnal.
Como, pois, nos atreveríamos a
traçar limites ao poder de Deus e estabelecermos leis naturais
vegetativas?
Se realmente o nosso corpo foi
produzido dentro de uma lei conhecida de cooperação dos dois sexos, não é menos
verdade que tal corpo apareceu no mundo somente com dimensões e pesos
insignificantes em comparação com o seu pleno desenvolvimento. Nasceu pesando
três quilogramas e, quando plenamente desenvolvido, virá a pesar sessenta,
setenta ou cem quilogramas. Portanto, pelo processo de cooperação dos sexos
formou-se a parte mínima, uma vigésima parte do todo, e o crescimento se fez
com o auxílio do material alimentício contido na Natureza, por um processo
lento. Esse processo, que consome vinte anos no homem para seu pleno
desenvolvimento, exige em alguns animais dois anos, em outros, alguns dias
apenas. Não nos esqueçamos de que uma bactéria pode completar
todo
o ciclo da sua existência individual apenas no espaço de meia hora. A maior
parte dos Protozoários,
os mais simples seres animais, unicelulares, reproduzem-se por cissiparidade,
isto é, por divisão transversal ou longitudinal do ser primitivo; outros, desse
mesmo grupo, se reproduzem por gemiparidade (processo também assexuado), ou por
conjugação (processo sexuado).
Nos Espongiários, animais pluricelulares
classificados no grupo dos Metazoários, dá-se a reprodução
sexuada, mas também se verifica, nas esponjas velhas, a reprodução assexuada, por
gemiparidade.
E nas espécies das diversas séries
do imenso grupo dos Metazoários, até mesmo nas da série
dos Nefridiados, à qual pertencemos, são encontrados reunidos os dois modos de
reprodução. Nos Protocórdeos, ramo muito próximo dos vertebrados, observa-se na
classe dos Tunicados a reprodução assexuada.
Longe poderíamos ir nesse estudo, se
nos estendêssemos pelos processos de reprodução partenogenética (reprodução
virgem), natural ou artificial, pois desta podem resultar seres que, apesar de
não terem pai, se apresentam tão sadios como os que se originam segundo o
processo ordinário da Natureza, Sempre a variedade infinita se manifesta na
Criação e nos convida a sermos mais humildes em nossos julgamentos. O
verdadeiro sábio é muito humilde, sabe que ignora um infinito em comparação com
o pouco que aprendeu.
A pretensão de tudo saber e
estabelecer limites negativos é mostra de ignorância e orgulho que sempre andam
juntos. Oliver Lodge, um dos maiores sábios de todos os tempos, aconselhou-nos
a cancelar em nossos dicionários a palavra impossível, por ser ela uma
arrogância. Muitas coisas declaradas impossíveis por uma geração, tornam-se
realidade para outras gerações mais adiantadas.
Há um infinito de leis da Natureza
que ainda não conhecemos, A própria existência e sobrevivência do Espírito
humano é lei da Natureza, mas ainda desconhecida e negada pela ciência
oficial, O Espiritismo vai nos revelando muitas leis totalmente desconhecidas
no passado e ainda hoje só aceitas por pequena minoria de estudiosos, mas
tratadas como heresia científica e loucura pelas nossas Universidades.
Nenhum limite negativo devemos
traçar às leis de Deus na Natureza. O progresso nos levará
a conhecer sempre novas leis e até mesmo os processos da Natureza se podem
alterar com o progresso do planeta e da Sua Humanidade. O processo lento de
encarnação, a que somos submetidos e ao qual se submetem igualmente muitos
Missionários, poderá ser alterado para os grandes Missionários no futuro e
tomarem eles corpos de formação e desagregação momentânea, a fim de cumprirem
Suas missões sem os percalços da encarnação normal.
Ainda uma presunção muito audaciosa
dos adversários de Roustaing consiste em declararem que os pontos dos
Evangelhos que afirmam o nascimento de Jesus, sem a união dos sexos, foram
interpolados, não se achavam nos originais antigos. Nada provam a esse
respeito, afirmam aereamente. As mais minuciosas pesquisas de autoridades no
assunto, de judeus, protestantes, católicos, desautorizam essa opinião. Como
não podem explicar os fatos, pretendem riscar das Escrituras os textos para
eles inexplicáveis e declaram que tais e tais versículos foram interpolados
pela Igreja Católica.
É outro processo orgulhoso e
audacioso, mas que nada resolve.
Melhor seria a tais senhores negarem
toda autoridade aos Evangelhos e escreverem obras que os substituam, de acordo
com a sua convicção atual e negativa. Assiste-lhes todo o direito
de fazerem isso, mas em seus próprios nomes, não em nome de Kardec e como
Espiritismo, porque Kardec e o Espiritismo codificado por ele aceitam os
Evangelhos e sobre eles apoiam toda a construção espírita. Note-se que o livro
mais divulgado de Kardec é "O Evangelho segundo o Espiritismo", no
qual se confirmam as duas Revelações anteriores.
Que fundem uma seita com seus nomes,
mas não se atrevam a dizer que são espíritas kardecianos, porque será difícil
enganar os espíritas, pois estes conhecem e estudam as obras de Kardec e sua
confirmação numa literatura imensa. A lógica dos negadores os conduz para muito
longe de Kardec. O primeiro passo deles é negar os Evangelhos, o segundo é
negar valor à prece. Bastam estas duas negações para estarem inteiramente
divorciados de Kardec e do Espiritismo.
Inútil, também, injuriar a Federação
Espírita Brasileira, dizendo que ela não é kardeciana, porque os fatos da vida
pública da Federação, em mais de 60 anos, já o demonstraram com tal eloquência
que ninguém mais se deixa embair com esse palavrório e todos sabem que no
planeta inteiro, presentemente, não existe instituição que mais divulgue a
Doutrina de Kardec pelos livros do Mestre, a preços de propaganda, em edições
imensas e em grande parte distribuídas gratuitamente. Como estes fatos são
conhecidos de todos os espíritas, o único resultado a que podem chegar os
negadores e, realmente, ao qual eles têm chegado, é de se desacreditarem diante
da coletividade espírita e perderem toda autoridade de pregar a Doutrina ou
agir em seu nome na sociedade em que vivem.
Ao chegarmos aos oitenta anos de discussão
sobre a obra de Roustaing, vemos que ele foi
o grande colaborador de Kardec e que sua obra, do mesmo modo que a do Mestre, está
sob o alto patrocínio dos Guias da Humanidade.
Nos lugares onde os inimigos visíveis e invisíveis de Roustaing venceram
a campanha que maquinaram, o Espiritismo e Kardec entraram em declínio e, ou
desapareceram totalmente, ou estão adormecidos. Está demonstrado, pois, que atacar
a obra de Roustaing é de fato atacar e minar o edifício todo da Terceira
Revelação, lançar o descrédito sobre a fonte mesma do Espiritismo, a
mediunidade, e que, ao contrário defender a obra de Roustaing é fortalecer a construção
toda e pôr-se em afinidade com Alta Direção espiritual do movimento espírita.
Por mercê de Deus, essa tenebrosa
campanha que triunfou em outros lugares com seus ardilosos
processos, eclipsando o movimento espírita, nunca vingou no Brasil, onde o Espiritismo
foi superiormente protegido por uma plêiade de Missionários ilustres dos
primeiros tempos como Ewerton Quadros, Sayão, Bezerra de Menezes, Bitttencourt
Sampaio, que parecem encarnados no tempo oportuno, por alto Desígnio de Deus,
para salvar o Espiritismo dos mais perigosos e astuciosos dos seus inimigos, os
de dentro dos nossos arraiais, os que se dizem espíritas e promovem a divisão,
a negação, lançando dúvidas sobre os Evangelhos e sobre a mediunidade, num anseio
fanático de tudo minar em nome de sua ciência, em arroubos de orgulho que
jamais poderão seduzir o verdadeiro iniciado da Doutrina.
Rendamos graças a Deus pela obra
realizada pelos Seus Prepostos no momento oportuno e pelo imenso auxílio que
vimos recebendo para o cumprimento da missão que à Federação Espírita
Brasileira foi confiada.
Todas estas periódicas tempestades
desencadeadas contra a Federação não passaram de procelas em copo d'água. Está
hoje evidenciado que os espíritas compreenderam, foram inspirados pelos seus
Guias e negaram apoio aos adversários ocultos da Doutrina.
O futuro pertence a Deus e o
Espiritismo é Seu grande instrumento na preparação do porvir.
Não nos iludamos com esses pretensos
defensores de Kardec que nunca traduziram nem publicaram nem distribuíram um só
livro, nem mesmo um artigo do Mestre; que nenhuma autoridade possuem, portanto,
para se dizerem paladinos de Kardec. Eles são únicos inimigos perigosos do
Espiritismo, por isso que se dizem espíritas, escrevem e falam em nome da
Doutrina e ardilosamente lhe vão minando os alicerces eternos: os Evangelhos e
a mediunidade. Quem ainda tenha dúvidas a esse respeito examine a obra que eles
já realizaram na França. Também no Brasil, se não houvessem encontrado Espíritos
de pulso na direção da Casa de Ismael, eles teriam exterminado o movimento
espírita, contra o qual não cessam de lutar. Nenhum mal temos a recear dos
adversários honestos da Doutrina, dos que a combatem de viseira erguida; mas
devemos estar prevenidos contra os que tentam de dentro minar-lhe os
fundamentos.
Nota do Blogueiro - Como os companheiros de estudo puderam notar, pulamos de Kardec-Roustaing III para Kardec-Roustaing VII. É que, por imperdoável falha nossa, descobrimos (tardiamente) que não dispúnhamos dos exemplares de Janeiro, Fevereiro e Março de 1947 que contém respectivamente os artigos Kardec-Roustaing IV, V e VI. Caso alguém seja detentor desses exemplares rogamos confirmar através de comentário abaixo. Imediatamente enviaremos os dados para remessa de cópia xerox para que seja digitalizada e aqui postada. Desde já, Obrigado!
Nenhum comentário:
Postar um comentário