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domingo, 16 de setembro de 2012

VII - Kardec -Roustaing



Kardec-Roustaing  VII

Reformador (FEB)   Abril 1947

            Um argumento muito solene e presunçoso das pessoas que contestam a teoria do corpo fluídico de Jesus e que, no entanto, nada vale, é que as leis de Deus na Natureza são irrevogáveis e que Ele estabeleceu como lei, para a reprodução da vida, a união dos dois sexos.

            É presunçoso, porque conhecemos pouquíssimo das leis de Deus na Natureza; sabemos que estamos muito longe de poder traçar limites finais e, deste pouco que conhecemos, notamos que há infinita variedade de processos. As plantas se reproduzem pela união dos dois sexos: há a flor masculina que pelo seu pólen fecunda a feminina, assim como também há flores andrógínas. Outros vegetais existem que possuem os mais variados métodos de reprodução assexuada. Os fetos, os cogumelos, os musgos e as algas marinhas desprendem miríades de células ou esporos, cada qual capaz de dar origem diretamente a um novo vegetal. Muitos lavradores empregam a estaca, a olhadura, parte da rama de muitas plantas para a reprodução sem a reunião dos sexos. Vemos tapiocais, canaviais feitos exclusivamente pelo processo de reprodução por um olho e não pela semente que representaria o ovo fertilizado, ou a união dos dois sexos.

            Nas sessões de materialização assistimos ao fenômeno de um Espírito tomar de empréstimo matéria ectoplásmica do médium e dos assistentes e formar para si mesmo um corpo substancial com o qual pratica todos os atos de um homem normal: fala, escreve, faz moldes, maneja uma tesoura, etc. , assim como, nesse corpo carniforme, são sentidas as pulsações do coração, o sopro pulmonar e muitos outros característicos do ser humano-carnal.

            Como, pois, nos atreveríamos a traçar limites ao poder de Deus e estabelecermos leis naturais vegetativas?

            Se realmente o nosso corpo foi produzido dentro de uma lei conhecida de cooperação dos dois sexos, não é menos verdade que tal corpo apareceu no mundo somente com dimensões e pesos insignificantes em comparação com o seu pleno desenvolvimento. Nasceu pesando três quilogramas e, quando plenamente desenvolvido, virá a pesar sessenta, setenta ou cem quilogramas. Portanto, pelo processo de cooperação dos sexos formou-se a parte mínima, uma vigésima parte do todo, e o crescimento se fez com o auxílio do material alimentício contido na Natureza, por um processo lento. Esse processo, que consome vinte anos no homem para seu pleno desenvolvimento, exige em alguns animais dois anos, em outros, alguns dias apenas. Não nos esqueçamos de que uma bactéria pode completar
todo o ciclo da sua existência individual apenas no espaço de meia hora. A maior parte dos Protozoários, os mais simples seres animais, unicelulares, reproduzem-se por cissiparidade, isto é, por divisão transversal ou longitudinal do ser primitivo; outros, desse mesmo grupo, se reproduzem por gemiparidade (processo também assexuado), ou por conjugação (processo sexuado).

            Nos Espongiários, animais pluricelulares classificados no grupo dos Metazoários, dá-se a reprodução sexuada, mas também se verifica, nas esponjas velhas, a reprodução assexuada, por gemiparidade.

            E nas espécies das diversas séries do imenso grupo dos Metazoários, até mesmo nas da série dos Nefridiados, à qual pertencemos, são encontrados reunidos os dois modos de reprodução. Nos Protocórdeos, ramo muito próximo dos vertebrados, observa-se na classe dos Tunicados a reprodução assexuada.

            Longe poderíamos ir nesse estudo, se nos estendêssemos pelos processos de reprodução partenogenética (reprodução virgem), natural ou artificial, pois desta podem resultar seres que, apesar de não terem pai, se apresentam tão sadios como os que se originam segundo o processo ordinário da Natureza, Sempre a variedade infinita se manifesta na Criação e nos convida a sermos mais humildes em nossos julgamentos. O verdadeiro sábio é muito humilde, sabe que ignora um infinito em comparação com o pouco que aprendeu.

            A pretensão de tudo saber e estabelecer limites negativos é mostra de ignorância e orgulho que sempre andam juntos. Oliver Lodge, um dos maiores sábios de todos os tempos, aconselhou-nos a cancelar em nossos dicionários a palavra impossível, por ser ela uma arrogância. Muitas coisas declaradas impossíveis por uma geração, tornam-se realidade para outras gerações mais adiantadas.

            Há um infinito de leis da Natureza que ainda não conhecemos, A própria existência e sobrevivência do Espírito humano é lei da Natureza, mas ainda desconhecida e negada pela ciência oficial, O Espiritismo vai nos revelando muitas leis totalmente desconhecidas no passado e ainda hoje só aceitas por pequena minoria de estudiosos, mas tratadas como heresia científica e loucura pelas nossas Universidades.

            Nenhum limite negativo devemos traçar às leis de Deus na Natureza. O progresso nos levará a conhecer sempre novas leis e até mesmo os processos da Natureza se podem alterar com o progresso do planeta e da Sua Humanidade. O processo lento de encarnação, a que somos submetidos e ao qual se submetem igualmente muitos Missionários, poderá ser alterado para os grandes Missionários no futuro e tomarem eles corpos de formação e desagregação momentânea, a fim de cumprirem Suas missões sem os percalços da encarnação normal.

            Ainda uma presunção muito audaciosa dos adversários de Roustaing consiste em declararem que os pontos dos Evangelhos que afirmam o nascimento de Jesus, sem a união dos sexos, foram interpolados, não se achavam nos originais antigos. Nada provam a esse respeito, afirmam aereamente. As mais minuciosas pesquisas de autoridades no assunto, de judeus, protestantes, católicos, desautorizam essa opinião. Como não podem explicar os fatos, pretendem riscar das Escrituras os textos para eles inexplicáveis e declaram que tais e tais versículos foram interpolados pela Igreja Católica.

            É outro processo orgulhoso e audacioso, mas que nada resolve.

            Melhor seria a tais senhores negarem toda autoridade aos Evangelhos e escreverem obras que os substituam, de acordo com a sua convicção atual e negativa. Assiste-lhes todo o direito de fazerem isso, mas em seus próprios nomes, não em nome de Kardec e como Espiritismo, porque Kardec e o Espiritismo codificado por ele aceitam os Evangelhos e sobre eles apoiam toda a construção espírita. Note-se que o livro mais divulgado de Kardec é "O Evangelho segundo o Espiritismo", no qual se confirmam as duas Revelações anteriores.

            Que fundem uma seita com seus nomes, mas não se atrevam a dizer que são espíritas kardecianos, porque será difícil enganar os espíritas, pois estes conhecem e estudam as obras de Kardec e sua confirmação numa literatura imensa. A lógica dos negadores os conduz para muito longe de Kardec. O primeiro passo deles é negar os Evangelhos, o segundo é negar valor à prece. Bastam estas duas negações para estarem inteiramente divorciados de Kardec e do Espiritismo.

            Inútil, também, injuriar a Federação Espírita Brasileira, dizendo que ela não é kardeciana, porque os fatos da vida pública da Federação, em mais de 60 anos, já o demonstraram com tal eloquência que ninguém mais se deixa embair com esse palavrório e todos sabem que no planeta inteiro, presentemente, não existe instituição que mais divulgue a Doutrina de Kardec pelos livros do Mestre, a preços de propaganda, em edições imensas e em grande parte distribuídas gratuitamente. Como estes fatos são conhecidos de todos os espíritas, o único resultado a que podem chegar os negadores e, realmente, ao qual eles têm chegado, é de se desacreditarem diante da coletividade espírita e perderem toda autoridade de pregar a Doutrina ou agir em seu nome na sociedade em que vivem.

            Ao chegarmos aos oitenta anos de discussão sobre a obra de Roustaing, vemos que ele foi o grande colaborador de Kardec e que sua obra, do mesmo modo que a do Mestre, está sob o alto patrocínio dos Guias da Humanidade.  Nos lugares onde os inimigos visíveis e invisíveis de Roustaing venceram a campanha que maquinaram, o Espiritismo e Kardec entraram em declínio e, ou desapareceram totalmente, ou estão adormecidos. Está demonstrado, pois, que atacar a obra de Roustaing é de fato atacar e minar o edifício todo da Terceira Revelação, lançar o descrédito sobre a fonte mesma do Espiritismo, a mediunidade, e que, ao contrário defender a obra de Roustaing é fortalecer a construção toda e pôr-se em afinidade com Alta Direção espiritual do movimento espírita.

            Por mercê de Deus, essa tenebrosa campanha que triunfou em outros lugares com seus ardilosos processos, eclipsando o movimento espírita, nunca vingou no Brasil, onde o Espiritismo foi superiormente protegido por uma plêiade de Missionários ilustres dos primeiros tempos como Ewerton Quadros, Sayão, Bezerra de Menezes, Bitttencourt Sampaio, que parecem encarnados no tempo oportuno, por alto Desígnio de Deus, para salvar o Espiritismo dos mais perigosos e astuciosos dos seus inimigos, os de dentro dos nossos arraiais, os que se dizem espíritas e promovem a divisão, a negação, lançando dúvidas sobre os Evangelhos e sobre a mediunidade, num anseio fanático de tudo minar em nome de sua ciência, em arroubos de orgulho que jamais poderão seduzir o verdadeiro iniciado da Doutrina. 

            Rendamos graças a Deus pela obra realizada pelos Seus Prepostos no momento oportuno e pelo imenso auxílio que vimos recebendo para o cumprimento da missão que à Federação Espírita Brasileira foi confiada.

            Todas estas periódicas tempestades desencadeadas contra a Federação não passaram de procelas em copo d'água. Está hoje evidenciado que os espíritas compreenderam, foram inspirados pelos seus Guias e negaram apoio aos adversários ocultos da Doutrina. 

            O futuro pertence a Deus e o Espiritismo é Seu grande instrumento na preparação do porvir.

            Não nos iludamos com esses pretensos defensores de Kardec que nunca traduziram nem publicaram nem distribuíram um só livro, nem mesmo um artigo do Mestre; que nenhuma autoridade possuem, portanto, para se dizerem paladinos de Kardec. Eles são únicos inimigos perigosos do Espiritismo, por isso que se dizem espíritas, escrevem e falam em nome da Doutrina e ardilosamente lhe vão minando os alicerces eternos: os Evangelhos e a mediunidade. Quem ainda tenha dúvidas a esse respeito examine a obra que eles já realizaram na França. Também no Brasil, se não houvessem encontrado Espíritos de pulso na direção da Casa de Ismael, eles teriam exterminado o movimento espírita, contra o qual não cessam de lutar. Nenhum mal temos a recear dos adversários honestos da Doutrina, dos que a combatem de viseira erguida; mas devemos estar prevenidos contra os que tentam de dentro minar-lhe os fundamentos.

Nota do Blogueiro - Como os companheiros de estudo puderam notar, pulamos de Kardec-Roustaing III para Kardec-Roustaing VII. É que, por imperdoável falha nossa, descobrimos (tardiamente) que não dispúnhamos dos exemplares de Janeiro, Fevereiro e Março de 1947 que contém respectivamente os artigos Kardec-Roustaing IV, V e VI.  Caso alguém seja detentor desses exemplares rogamos confirmar através de comentário  abaixo.  Imediatamente enviaremos os dados para remessa de cópia xerox para que seja digitalizada e aqui postada. Desde já, Obrigado!




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