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O pensamento que, por suas
incessantes vibrações, constitui no homem uma espécie de fotografia instantânea
de todos os seus movimentos físicos, é ao mesmo tempo, considerado em suas fontes
mais remotas, o instrumento propulsor de todos os dinamismos do universo.
Projetando constantemente em torno
de nós os nossos pensamentos, vamos de sua mesma natureza impregnando o aura
fluídico em que se envolve o espírito que somos. Simultaneamente com esta ação
individual, restrita no que se refere ao homem, é pela emissão de correntes de
pensamentos, harmônicos ou discordes com os emitidos ab aeterno pelo Divino Foco, que os espíritos de todas as categorias,
consoante à sua elevação ou inferioridade, colaboram na execução dos desígnios
divinos ou contra ela buscam se insurgir, daí resultando o que, não somente em
mecânica, mas nas regiões abstratas da moral, denomina-se equilíbrio.
E é porque no aura invisível do
homem se estereotipam, pela irradiação do pensamento, as suas tendências más ou
boas, os seus vícios ou virtudes - casulo terrível ou
benéfico que, ao desencarnar, cada um consigo leva como irrecusáveis
testemunhos de sua própria baixeza ou elevação - que para os desencarnados não
podem haver dissimulações da parte dos humanos. Os nossos pensamentos são assim
lidos pelos espíritos como se de fato escritos
em páginas abertas.
E aqui, por mais obscuro, inextricável
mesmo, que ainda nos seja o mecanismo íntimo do pensamento, uma indagação se
torna indispensável. Terá ele, como atributo do espírito, uma grafia própria,
ou se exprimirá obrigatoriamente, por palavras, consoante à língua familiar ao
indivíduo?
A primeira hipótese é a que, a nosso
ver, reúne as melhores condições de admissibilidade, não sendo possível de outro
modo explicar a correspondência universal dos espíritos
entre si, pelo menos dos que compõem a nossa humanidade, para os quais seria
realmente uma deplorável singularidade que subsistisse, na vida livre do
espaço, a barreira moral que para os homens representa ,a diversidade das línguas,
obstáculo que é a um mais perfeito entendimento e aproximação, o que importa
dizer, à íntima e consciente solidariedade que os há de, por fim, um dia vincular.
Se os espíritos, com efeito, para
entre si corresponder-se, tivessem que se exprimir em línguas diferentes, em lugar
da graduação natural por ordem dos respectivos méritos, que lhes determina a
hierarquia, haveria a torna-los de alguma sorte estranhos uns aos outros um
acidente como esse, peculiar sem dúvida ao modo de viver terrestre, analítico por
natureza, como tivemos ocasião de o assinalar, mas incompatível com a tendência
para a síntese, a unificação, que caracteriza a vida no espaço.
A língua, como tantas outras
convenções humanas, é um resultado da diferenciação das raças. Mas como os espíritos
não se dividem em raças, senão que pertencem a uma mesma e única família, no
que se refere a distinções tudo se se reduzindo para eles a uma menor ou maior
evolução, segue-se que para eles não haverá - assim pelo menos o entendemos - mais que uma
linguagem, o pensamento, menos ou mais rico sem dúvida em expressões, de um
lado, e em possibilidade de percepção, do outro, conforme o menor ou maior grau
de evolução atingido pelo espírito.
Há um fato, no domínio da
experimentação espírita - e nunca serão para desprezar os subsídios da
observação - que vem documentar até um certo ponto esta tese da universalidade
do pensamento como expressão mental, fato que pelos observadores inexpertos tem
sido considerado, em certos casos, um elemento negativo da autenticidade do fenômeno.
E vem a ser que o espírito de um indivíduo que pertencera a uma determinada nacionalidade,
ao se manifestar por um médium de nacionalidade diferente, exprime-se não em
sua própria língua, mas na do intermediário de que no momento se utiliza (1).
(1) Dentre os mais notáveis ditados desse gênero, que
conhecemos, se destacam os recebidos (não todos) pelo médium Fernando de
Lacerda e transmitidos por espíritos, como os de Victor Hugo, Leon Tolstoi e
outros pensadores, com a mesma originalidade e opulência de estilo que tinham
como homens, o que representa um positivo sinal de identidade, sobretudo se se
atender a que a amplitude das ideias expressas em português pelo médium e a que
na terra era peculiar àqueles espíritos, quando aqui viviam, coincidem
admiravelmente.
Ver a obra desse médium, Do PAIZ DA
LUZ, 3 Vols. publicados e também, no REFORMADOR de 3 de outubro de 1911, ditado
de Leon Tolstoi intitulado "A ordem na vida."
Como explicar esse fenômeno, senão
admitindo que o pensamento é transmitido de espírito a espírito, isto é, do
comunicante ao do médium, em sua forma originária, e por este elaborado e
traduzido nas expressões verbais da língua que lhe é familiar? Se considerarmos
que, na ocorrência de toda manifestação espírita, mediante a psicografia, a
incorporação, vidência, audição, etc., o espírito do médium se acha mais ou
menos exteriorizado e, assim, em condições de perceber diretamente a ação dos invisíveis,
não haverá dificuldade em compreendermos o fenômeno.
Restaria a explicar o processo, o
mecanismo dessa transformação do pensamento, de sua feição peculiar em forma
articulada. Isso, porém, como tantos outros fatos obscuros do domínio da psicologia,
há de por muito tempo ainda permanecer ignorado.
O que se sabe - e experiências de fotografia,
que se pode chamar transcendental, o tem demonstrado, permitindo registrar na
placa as efluviações (=
eflúvios)
ódicas (do
duplo etérico)
do homem - é que o pensamento, força que de si mesmo é, se traduz por
vibrações, variando de forma e de tonalidade conforme a natureza das impressões
e emoções que, silenciosamente mesmo, exterioriza, chegando também a reproduzir
a imagem de seres e objetos sobre que persistentemente incida.
Assim, por exemplo, se o indivíduo se acha sob
o domínio de uma emoção nobre e elevada, como na prece e em todos os
transportes de amor e adoração, de que é suscetível o Ego divino, o pensamento
se exterioriza em forma de imponentes e luminosas espirais, como de incenso,
que se elevam para o alto. Se é um impulso de cólera ou de ódio, as suas
vibrações se tonalizam por cambiantes rubras ou entenebrecidas, variando por
extensa escala cromática, segundo a índole das paixões que exprimem, como por
seu lado o tem podido atestar videntes adestrados.
Pensando com energia e demoradamente
num objeto ou em determinado ser, projetamos no éter a sua forma, a que o
pensamento, assim vigorosamente emitido,
comunica
uma vitalidade fictícia e momentânea, como tivemos, no capítulo precedente,
ocasião de registrar que sucedeu - é verdade que num estado de completo
desprendimento - ao Dr. Wiltse, que ao pensar em anjos e demônios que, imaginava,
encontraria em sua excursão extra terrestre, viu apresentarem se lhe à vista
essas figuras, logo verificando embora que não eram reais, senão mero produto
da imaginação.
Se, finalmente, em lugar de
convergir para seres e objetos definidos, é um raciocínio que formulamos, uma
deliberação que concebemos ou, em suma, qualquer outra operação abstrata a que
nos entregamos, as linhas de força, por assim dizer, desse dinamismo mental se exteriorizam
e fixam em nosso aura, com a exata expressão dos pensamentos que traduzem e
que, semelhantes à grafia musical, cada uma de cujas notas tem sempre
significação e valor por toda parte idênticos, podem ser, graças a isso,
decifrados pelas testemunhas invisíveis que nos cerquem.
Mas os espíritos, como o vínhamos precedentemente
assinalando, não se limitam a ser espectadores silenciosos das nossas operações
mentais. Pela natureza do plano a que pertencem - plano das causas, como ficou
dito - não somente, por uma sistematizada sugestão, a que também fizemos referência
e havemos de nos reportar ainda em capítulo adiante, intervêm na direção dos
pensamentos e na realização dos humanos sucessos, senão que, operando em
grandes massas, colaboram, conforme a hierarquia a que pertençam, na produção
dos fenômenos que tem por cenário o próprio mundo físico.
Nem de outro modo se podem explicar
certos fatos do Evangelho, por muito tempo aos olhos do vulgo apresentados como
milagrosos, mas que, determinados por uma vontade poderosa como a de Jesus, a
cujo aceno obedeciam os espíritos de todas as ordens, vem ter no conhecimento das
leis e na ação dos invisíveis, que o Espiritismo patenteia, uma lógica e
esclarecedora sanção.
Está neste caso, por exemplo, o episódio
da tempestade aplacada, diante do qual pode sem dúvida sorrir a Incredulidade,
relegando-o, como tantos outros, para o domínio da fábula ou da lenda, mas que
o estudante espírita, esclarecido sobre a verdadeira índole desta doutrina, um
de cujos objetivos capitais é fornecer de todas as passagens e ensinamentos do
Evangelho uma explicação minuciosa e integral, em espírito e verdade, tem tanto
mais ponderoso motivo para admitir como verídico, quanto nenhum desacordo lhe
observa com as leis naturais, sobretudo no que se refere à colaboração das
entidades universalmente prepostas a sua execução.
O episódio é assim, em suas linhas
singelas, descrito por MATEUS (VIII, 23 a 26) :
"Entrando ele (Jesus) em uma barca, o seguiram
seus discípulos; e eis que sobreveio no mar uma grande tempestade, de modo que
a barca se cobria das ondas. E, entretanto, ele dormia. Então se chegaram a ele
seus discípulos e o acordaram, dizendo: - Senhor, salva-nos, que perecemos.
"E Jesus lhes disse: Porque
temeis, homens de pouca fé? - E, levantando-se, pôs preceito ao mar e aos
ventos, e logo se seguiu uma grande bonança."
Ora, como poderia o Cristo exercer
esse império sobre os elementos, se não fossem eles movidos por inteligências
capazes de perceber a sua determinação e obedecer-lhe? E onde estaria o elo
dessa volição, de um lado, e dessa execução, do outro, senão no pensamento, veículo
e propulsor, como o dissemos, de todos os dinamismos do universo ? (1)
(1) De modo idêntico, isto é, pela colaboração de espíritos
obedientes às determinações do Cristo e prepostos, consoante a sua natureza, ao
manejo de fluidos apropriados, se podem explicar outros fatos narrados no
!Evangelho, como a pesca dita miraculosa, a multiplicação dos peixes e dos pães
e mesmo o incidente dos porcos precipitados ao mar (MATEUS, VIII, 28 a 34),
após a libertação, por Jesus, dos subjugados, ou possessos.
Só o espírito é capaz de entender o espírito.
Mas se já vemos, neste mesmo plano inferior em que operamos, o homem pelo poder
da inteligência submeter ao seu domínio as forças vivas da natureza, captando,
por exemplo, essa misteriosa e formidável energia, que é a eletricidade, e
utilizando-a nas mais variadas aplicações, que haverá de extraordinário,
partindo da existência dos espíritos e da universalidade de sua ação - e foi
este fato que tivemos o cuidado de previamente estabelecer - que haverá de
extraordinário - dizíamos - em admitir que essas inteligências, desenvolvendo
correntes de pensamentos e operando sobre os fluidos que tudo, na criação,
envolvem e penetram, possam produzir ou fazer cessar determinados fenômenos?
Pois o que é fácil, em pequena escala, a um homem - produzir com um sopro a
agitação de um líquido - não será possível aos espíritos, reunidos em massa,
pelo poder do pensamento sobre os fluidos?
A única diferença consiste em que,
sob a ação das grandes e eternas leis que tudo regem no universo, a intervenção
dos espíritos, qualquer que seja a órbita em que incida, jamais se opera a
esmo, senão que é sempre regulada com um fim de utilidade e tendo em vista, com
a harmonia do conjunto, a realização do plano providencial, que já procuramos
definir nesta palavra : evolução.
E, pois, que tudo evolui, do átomo à
estrela, do infusório (seres
vivos unicelulares)
ao anjo, vejamos se é possível, dilatando esta incursão pelo pensamento aos
remotos arcanos em que se opera a gênese dos mundos e dos seres, apreender, não
decerto em toda a magnificência, o plano evolutivo - demasiado arrojo para a fragilidade
do nosso entendimento - mas um esboço ao menos desse plano, em que o nosso próprio
destino se contém.
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