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“Amor
à Verdade”
por
Alpheu Gomes O. Campos
Marques Araújo & C. – R. S. Pedro, 216
1927
Espiritismo
prático
Certa vez, ao terminar das preces, a
hora de repouso, percebemos, mercê da mediunidade sensorial, que possuímos,
aproximação de Protetores.
Interrogando-os se desejavam
comunicar-se, foi obtida resposta afirmativa.
Feita nova oração e dispostas as
causas para colhermos a sideral mensagem, entra a escrever um Espirito que,
saudando-nos com o conhecido cântico dos anjos, se dizia Paulo, o apóstolo. Sem
embargo das palavras mansas e harmoniosas que usava, não nos sentíamos bem,
como acontece todas as vezes que recebemos uma entidade superior; ao inverso,
era ingrata a sensação que experimentávamos. Anda mouro na costa! - pensamos; e
logo nos lembrou aquela admonenda do Mestre: ORAI E VIGIAI. Foi o que para logo
fizemos: mentalmente pedimos nos fossem dados eflúvios em sinal da dignidade
inculcada pelo manifestante. Nada veio: tratava-se de um mistificador, que nos
haveria por certo bigodeado (enganado), se não fora a nossa sensibilidade.
De novo oramos, suplicando a
confirmação, por eflúvios também, de que o referido Paulo estava mistificando.
Veio a confirmação, e com ela, graças ao cuidado tomado, a lição que aí segue,
de nosso incansável Guia:
“Paz de Maria seja com o meu filho.
“Ás vezes, permite-se que os partidários
da ignorância, obdurados (obcecados) inimigos da
verdade espírita, tomem a nossa frente nas comunicações. A razão é porque o médium
deve não só estar vigilante, como ainda, se prudente e esclarecido, repô-los no
caminho verdadeiro.
“Nem sempre, infelizmente, isso
acontece. Antes pelo contrário: esquecendo conselhos, ou deveres, é comum
deixar o médium de instruir os impostores, privando-se ele próprio de receber a
lição grandiosa que o céu lhe deseja dar.
“Os falsos instituidores pululam no
espaço; e a ligeireza com que muita gente meneia o espiritismo tem concorrido
para engrossar o número deles. Em vista do livre arbítrio, nem sempre podemos
evitar o fracasso quer de médiuns e de adeptos. Na maioria dos grupos aonde
repetidamente vamos por trabalhos de conversão, nada ou quase nada conseguimos:
entontece-os a MILICIA DAS TREVAS. Inteligente, porém mau e despeitado, manhoso
e atreito (acostumado) a engazopar (iludir), o inimigo da luz
consegue parecer um Enviado, um Santo, uma alma pura. Usando linguagem mais
empolada que substanciosa, prende a atenção da assistência e refoge (escapa apressado) a doutrinação. O calor do discurso e a opulência da palavra
não deixam ver debaixo da erva o trigonocéfalo... (serpente venenosa)
“Ora, em quanto da parte dos espíritas
perdurar tamanha inadvertência, esses inveterados sapadores procurarão, por
todos os modos, insinuar-se, conquistar simpatias e confiança, estabelecer, em
suma, a corrente necessária à sua dominação.
“Dezenas de círculos trabalham sem
nenhum resultado, porque vivem sob continua ação de falanges malignas. Fazendo,
para se tornarem acreditadas, um que outro favor material, encabrestam um por
um todos os médiuns. E o que custa, depois, a descravização!
É bem difícil, na atualidade, a
prática do espiritismo sem as maiores cautelas. Em tudo, aliás, há precauções a
tomar.
“Na lei de Deus nada passará; tem
que ser cumprida a risca e inteiramente; a tarefa hoje negligenciada haverá de
ser repetida amanhã.
“Os centros que se deixam em tanta
maneira ludibriar, não perdem somente o tempo: cometem faltas graves, por
assumirem responsabilidades a que longe estão de dar cumprimento.
“É necessário orar e vigiar. Quando
não se possuem certas faculdades, como vidência e sensibilidade, mais vale a
sessão sem comunicações, até que um médium de boa moral e, sobretudo, humilde
possa contribuir para um serviço de cunho prático.
“A prece atrai sempre os Espíritos
do Senhor. Eles, porém, mensageiros do bem e do belo, cumpridores severos da
lei, jamais a violarão. Daí o livre arbítrio respeitado.
“A função do espírita consiste no
esclarecimento dos Infelizes, na assimilação e propaganda dos ensinos que deve
haurir não só das individualidades avançadas como das próprias manifestações
inferiores.
“Assim sendo, os gênios tutelares
procuram quanto mais atender as preces, e então, em frente do que rogou, colocam
a tarefa, isto é, o Espírito que lhe compete regenerar.
“Na maioria das vezes, esse Espírito
ou é turbulento e intenta lançar o pânico entre os assistentes, ou é hipócrita
e insinua-se com roupagens de certo efeito. Senhoreando a assembleia, passa
corno um graduado, não balançando mesmo em usurpar o nome de varões ilustres,
ou dos chamados santos. Assim persiste até que, tendo chegado ao extremo, é
levado a lugar onde possa ser descoberto e logo doutrinado.
“Há, entre as tendas espiritas,
algumas práticas de perigoso resultado. É uma a consulta, principalmente sobre
assuntos estranhos à doutrina.
“Nem sempre o médium tem próximo o
seu real Protetor; além de que, é ele, mais do que qualquer outro, visado assim
pelos inimigos da sua crença, como pelas vítimas de encarnações pretéritas.
Pois algumas destas, ou qualquer daqueles, é que se prontificam, o mais dos
casos, a responder às consultas, empregando comumente esforços para que a
resposta satisfaça e se verifique o pedido.
“Não quero com isso dizer que não se
consultem os Espíritos: eles mesmos são felizes quando podem instruir seus
irmãos; porém não é a tal ou tal Espirito que se deve consultar ou pedir, mas a
Deus, em fervorosa prece.
“Todo ser humano tem mediunidade
pelo menos nos intuitiva. Se assim não fora, difícil se tornaria aos Espíritos
guardíães conduzir os seus guiados.
“A prece, pois, ao Pai, dá lugar a
que o próprio Anjo de Guarda venha em auxilio do seu tutelado e lhe dê, por
intuição, a resposta, ou atenda a rogativa, se for permitido.
“Por um lado, evita-se, assim, que
embusteiros tomem autoridade sobre as oficinas; por outro lado, consegue-se que
as influências salutares possam aproximar-se, imprimir o necessário impulso,
deitar a orientação precisa para conhecimento das leis supremas.
“Se os espíritas souberem arredar
esses entraves, colaborando de fato no plano divino, merecerão as luzes e auxílio
que na maioria das vezes não alcançam depois da morte, - o que dá sempre aso a
despeito, desilusões e consequência natural) acordo com os infelizes que lhes
impediram o progresso, tornando-se, em regra, terribilíssimos obsessores.
Quando, numa sessão espirita, impera
a anarquia, quando os invisíveis ocupam os médiuns sem que o diretor o tenha
ordenado, ou os abandonam à vontade, sem que possam ser tolhidos, não há
duvidar: os chamados protetores, em tal meio, não passam de elementos
degradados, almas tisnadas pelo vício da mentira.
“Em uma roda com proteção superior, nenhum
espirito abandonará o aparelho sem que seja acompanhado de um mensageiro e com
a permissão do doutrinador.
“Esses pontos de espiritismo prático
são facilmente reconhecidos pelos observadores atentos e de boa vontade.
“Para que uma reunião tenha amparo e
força, indispensável se torna a unificação dos pensamentos; a harmonia dos
corações; a vigilância tanto do presidente e médiuns como dos circunstantes; a
boa vontade; a intenção de trabalhar para esclarecer-se e esclarecer o próximo.
O que tudo faz com que o doutrinante receba as inspirações e tenha poder para
reter no médium o espírito que importa ser convertido.
“Trabalha, meu filho, e concita os
nossos irmãos ao trabalho produtivo. Dentre eles, muitos são bem intencionados;
mas falta-lhes melhor compreensão da doutrina, o que só com esforço e paciente
estudo irão lento e lento conquistando.”
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