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“Amor
à Verdade”
por
Alpheu Gomes O. Campos
Marques Araújo & C. – R. S. Pedro, 216
1927
Para maior clareza, além de ainda
uma vez patentear que nada bom se consegue sem trabalho, paciência e
tenacidade, sucintamente contaremos como chegamos a tal conclusão.
Aceitávamos a doutrina consoante
fazem ainda hoje, infelizmente, muitos coirmãos - sem a compenetração de que o
espírita deve caminhar todo dia o seu tanto. Um bocadinho que seja.
Era no inicio da Conflagração Europeia.
Organizamos, nesta cidade de Campos, o Dr. Epaminondas Alves de Souza e nós um
pequeno centro de psiquismo, usando os métodos adaptados no comum dos sinédrios.
Assim atravessamos meses. De vez em quando nos falavam os Diretores espirituais
acerca da unificação das ideias, facilitadora de preciosos conhecimentos com
que muito serviço poderíamos prestar. Senão quando, salteia-nos grossa nuvem de
ferrenhos Inimigos da fé. Astutos, manhosos, treinados em dominar sociedades,
acabaram com desfazer trecho a trecho a companhia. Só ficamos o Dr. Epaminondas
e nós; os demais, a pesar nosso, lá se deixaram ir um após outro, expendendo
cada qual razões diversas.
Onde se reunirem duas ou três
pessoas em meu nome, aí estarei - disse o Mestre. Não nos descoroçoou a
debandada. Segundo o conselho dos Protetores, ia nosso irmão recebendo os Espíritos
e nós doutrinando-os.
Valeu-nos a firmeza: favorecidos
pela sensibilidade assaz desenvolvida do bondoso Epaminondas, convertemos inúmeros
membros da falange invasora, além de vítimas que, a modo de premio, nos foi
dado esclarecer. Colocamos então toda quanta diligência podia ser no desempenho
de nossa tarefa, obtendo constantemente orientação confirmada pelos eflúvios
dos nossos Instituidores.
A lanços nosso colega tinha vidência,
podendo então descrever alguns Espíritos vulgares à superfície da sala e, a
certa altura, irradiando sua luminosidade maior ou menor, os Protetores.
Volvidos semanas, começamos a notar
que, em seguida às preces e no transcorrer dos trabalhos, bocejamos de um
feitio particular, e muito amiudadamente, o que de certo modo nos incomodava
julgando-o sinal de fadiga. Logo mais saber-se-á o motivo.
Recebíamos com frequência Espíritos
familiares, que nos entretinham com palestras de todo ponto instrutivas,
frisando sempre haver no espaço muito mais conversações das que realizávamos
por via do médium. Naturalmente - pensávamos - é porque a todos aproveita a
doutrinação de um.
Entrementes, foi o nosso grupinho
acrescido de mais um médium. De ampla vidência e flexibilidade excepcional, por
sua ignorância mesma, prestava excelentemente a narrar o que via. Por isso
precisamente que era incapaz de interpretar as coisas, de inestimável utilidade
nos foi. Através dele soubemos a serventia dos nossos fluidos para a elucidação
das almas. Em sua simplicidade, dizia que assim de nossa cabeça como da
extremidade dos dedos saíam faíscas difíceis de suportar pelos desencarnados que,
de sua parte, lançavam sobre nós quantia delas não pequena. Observava, porém,
que as nossas eram diferentes dessas, caracterizadas pela cor pardacenta. Era
então de mal-estar a sensação que experimentávamos, chegando mesmo a sentir dor
de cabeça. Com os bocejos ia tudo aliviando.
Escoado algum tempo mais, pode o
vidente perceber o seguinte: Certos Espíritos, em atitude agressiva,
cobriam-nos de fluidos: os Protetores, deixando cair também dos seus, que são
luminosos, em seguida os retiravam de mistura com os outros e os nossos. A
certa altura tudo se transformava em quadros animados, qual tela de cinema, onde reconhecia as Entidades ali
presentes. Pelos modos, dizia ele, tal representação lhes provocava remorso e
sofrimento. Cenas dantescas. Ao cabo, já todos se mostravam mais ou menos
arrependidos e saiam, feita a prece, em companhia dos Trabalhadores. Nova turma
para logo entrava em serviço, repetindo-se a mesma operação acima exposta. A
principio, eram poucas e pouco densas as turmas; de dia em dia foram crescendo
e multiplicando; por fim tornaram-se muitas e compactas.
Longamente meditávamos sobre os
informes do médium e as alternâncias, bastante nítidas, de bem e mal estar. Enquanto
isso, nossos Guias concitavam-nos a labuta. Sem cessar nos reafirmavam serem
muito mais abundantes as conversações fora do médium. Recomendavam-nos que
atenta e pacientemente observássemos os fatos; pois breve compreenderíamos
quanto podem fazer pela humanidade os médiuns de efeitos físicos, se esforçados
e cheios de amor ao próximo. Sustentavam; que os tempos haviam realmente
chegado, sendo urgente que os homens conhecessem a doutrina, Pululando o espaço
em almas infelizes, com estupenda influência sobre os encarnados, diziam, Deus
permitira se intensificasse o afano em ordem a desoprimir as criaturas. Assim,
mais livres, poderiam receber dos anjos guardiães a inspiração tão necessária
ao seu progresso como o sol aos organismos.
Reunindo-nos sempre pouco antes da
hora prefixa para os trabalhos, trocávamos opinião acerca da doutrina, suas
belezas e seus peguilhos (dificuldades). O vidente narrava
o movimento do meio psíquico. De todos os lados chegavam sucessivamente
Protetores trazendo Espíritos de mui variado aspecto. Passavam de cem, às
vezes. - Estão separando-os em diferentes grupos, dizia. Agora, os Protetores
falam com eles. Alguns atendem; outros recalcitram. Os primeiros subiram para
perto de maiores Luzes; os segundos ficaram cá em baixo”.
Era então que um destes, conforme
instrução do alto, se ligava ao médium para ser doutrinado. Os remanescentes,
como para socorrer o camarada, choviam sobre nós, enfurecidos; mas acabavam
elucidados por meio da recapitulação fIuídica das suas vidas
pretéritas.
Certo dia, antes de se abrirem os
trabalhos, mandou-nos um de nossos orientadores dar um giro pela cidade,
juntamente com o costumado auxiliar: queriam ministrar-nos mais ensinos e iriam
indicando as ruas por onde fosse conveniente passar. Ávidos sempre de aprender,
executamos a determinação. Apenas saídos, informa-nos o vidente: “Duas fileiras de
Trabalhadores caminham à nossa frente, uma de cada lado, e não só da rua como
de várias casas vêm Espíritos para entre elas”. Contados, a par e passo que
entravam no quadrado, eram mais de cem os Espíritos arrebanhados quando
recebemos aviso de regressar à casa.
Foram todos esclarecidos pelo
processo de que estamos tratando.
Viemos, por esse tempo, a notar que
não raro e insistentemente bocejávamos, mesmo à hora dos negócios materiais ou
nos momentos de descanso. A sede, em circunstâncias tais, foi outro fato
assinalado. Apetecíamos uma explicação. Mas, prevenindo qualquer iniciativa a
esse respeito, falou por esta forma um Amigo: “Há grande pressa de serviço. Os
nossos irmãos tombados na Grande Guerra devem ser trazidos para o Brasil a fim
de se esclarecerem. Destarte, havemos mister dos médiuns de boa vontade, que
nos forneçam elementos. Extraindo os vossos fluidos, indispensáveis a este gênero
de labor, não
se perturbam as vossas lides terrenas, a que é força acudir, como homens que
sais”.
Com efeito: sem deixarmos trair o
nosso pressuposto, procuramos, quanto possível, ter conosco o vidente.
Não tardou que nos chamasse a
atenção para a faina quase permanente que ao nosso derredor se realizava. Nos
teatros e cinemas, igual atividade.
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