17b
“Amor
à Verdade”
por
Alpheu Gomes O. Campos
Marques Araújo & C. – R. S. Pedro, 216
1927
A Caridade
Muito se tem dito sobre a caridade;
nada obstante, entre os homens, interpreta-se erradamente essa virtude.
Acreditam-na favorecidos da fortuna
mera distribuição de algum dinheiro, não raro esquecendo que a mão esquerda mal deve saber o que dá a
direita. Na verdade, esses já receberam a recompensa na satisfação de sua
vaidade.
Se é esmola o matar a fome do corpo,
maior sê-lo-á saciar a sede do espirito. E quantos de nós, muita vez,
alimentando o organismo, não sentimos o ânimo despedaçado pela dor e pela
vergonha, acrescidas com o juízo que a nosso respeito forma a sociedade!
Quanto rico pobre e quanto pobre
rico!
Caridade é amor. É água cristalina
em que se banham as chagas sangrentas das provas e expiações por que uns
passamos hoje, outros amanhã.
É virtude sublime, que não constitui
apanágio de ninguém senão do que sabe abençoar a dor, reconhecendo nela a
misericórdia divina. Tanto o rico como o pobre, podem faze-la: porque ser
caridoso é ser clemente; é compreender o alheio sofrimento; é
enxugar uma lágrima; é ensinar; é guiar, com sinceridade, o cego que para o abismo
se encaminha; é abrir o peito ao amor até do inimigo, a exemplo do Nazareno,
que orava ao Pai pelos que o perseguiam;
trazer a luz da verdade ao obscuro; ser justo, mas indulgente;
e grande sem humilhar; e dar sem aviltar; é elevar-se elevando o próximo; é ser
cristão; compreendendo os ensinos de Jesus, não ocultá-los e colocar bem alto a
lâmpada para que todos a vejam; não ver na desigualdade das posições sociais nenhum
privilégio ou real superioridade, a fim de não aumentar as mágoas ao aflito, a
dor ao desesperado.
Pelo inverso: negar a luz aquele que
a procura, clamorosa descaridade é; e tanto maior quanto nela mal se disfarça a
ganância de acumular fazenda. Ora, esta por si só não cura as mazelas da alma
e, sujeita à deterioração mais aos ladrões, não pertencerá nunca ao espirito,
que, em nova encarnação, virá mendigar e sentir o que a outros ou fez sofrer,
ou não soube suavizar.
Daí, logo, meus irmãos, a oblata do
amor, do amparo, da instrução, da lealdade, do progresso e, quando a isto
puderdes juntar a moeda, fazei-o, sem ostentação, bem no segredo, a surdina,
para que não se veja humilhado o vosso vizinho.
Santificai vossa esmola, por tal
sorte que de Deus também recebais igual; essa jamais a perdereis, porque ficará
em vossa alma, que mais e mais ascenderá para a perfeição.
Fala agora um Maior.
“Glória
a Deus nas alturas, paz na Terra aos trabalhadores de boa vontade.
“A mais sublime das obras é a que
propele os homens ao amor de Deus e do próximo,
“Jesus quando pregava a seus irmãos,
tinha, sem
dúvida, um escopo - a divulgação das prédicas; e mandava que as repetissem seus
discípulos para que os incrédulos tivessem oportunidade de conhecê-las.
“As
diferentes seitas que se formaram, não souberam guardar o mesmo cuidado; antes
pelo contrário, ocultaram certas verdades, reservando-as qual monopólio de seus
principais chefes.
“Exemplos contínuos eram trazidos às
multidões pelos fenômenos espíritas e pelas revelações; mas acabavam abafados e
circunscritos a limitado número.
“Tendo-se isto tornado hábito,
resultou permanecerem os povos na ignorância, influindo, à sua parte, depois,
para que se distanciassem cada vez mais da verdadeira
doutrina.
“Espíritos
maus, egoístas, coagulados de imperfeições, ora encarnados, ora no espaço,
animados de todos os sentimentos condenáveis, espíritos que, por falta de mérito,
sofrem ao despertar, nada mais vendo senão as coisas terrenas, tornaram-se de
tal modo endurecidos, que nem a dor nem o amor conseguiram enternecê-los.
Crentes de que só a força bruta pode vencer, experimentados nas mais perigosas
e várias aventuras, senhores dos homens, sim, mas também escravos, cobrem de
sombra a humanidade inteira, que geme ainda sob o peso de seus tetros erros.
“Não
pedia Jesus que empanassem os ensinos: ao revés, que pusessem a luz bem alto
para que todos a vissem. Mas assim não tem sido desde aqueles tempos até os
dias de hoje.
“Ensinar
ao próximo sem fazer mistério dos conhecimentos - eis a obrigação de todo
aquele que os recebeu.
“Pedi, e ser-vos-á dado: dizia o
Mestre. Todo aquele que pede, obtém; no entanto, pagam para se implorar a Deus
aquilo que só uma prece fervorosa e pronunciada com amor pode conciliar.
“Os
erros veem de séculos, tendo sua origem no egoísmo. Se os que pretenderam
continuar a pregação de Cristo, não sub rogassem os seus verdadeiros ensinamentos, a
cegueira que ainda infelicita a humanidade ter-se-ia dissipado já, e a paz reinaria
entre os homens.
“Guerras e mais guerras se fizeram
no passado; e agora de novo assaltam o espirito das criaturas a dúvida e a
descrença.
“Não se toma o reino dos céus com
violência... e com violência é que se
procura impor preconceitos humanos com o rótulo de ordenações divinas.
“Cruéis que são tais seitas! ditam o
que não sentem; fanatizam, com pompas, um sem número de almas simples, que
podiam mais e muito mais se elevar pelo amor e pela fé raciocinada.
“Foi
tão simples e humilde Jesus, que nada absolutamente pode aceitar como
recompensa de suas revelações, e não cessava de recomendar a seus discípulos
que não tivessem nem pão, nem bordão, nem moeda no cinto, e fossem transmitir
as suas verdades, que
encontrariam abrigo na casa do justo.
“Meu
carinhoso amigo: revelo o meu mais ardente desejo de instruir-te, para que
outro tanto faças a teu irmão; por isso, deves orar por ti e pelos que te
odiarem, certo de que, se guardardes tão somente para ti o aprendido, incorres
nota de egoísta e mau, impedindo que a luz chegue também a iluminar teu
próximo.
“Tens, como não ignoras, alcançado o
bastante para fazer-te feliz; porém, muito infeliz serás se não difundires o
que aprendes, o que sentes e o que vês: recebes também um talento, conforme a
parábola, e dele deves ser fiel depositário.
“Deus, em sua infinita misericórdia,
permitiu que os alunos de Jesus volvessem à Terra, em missão de novamente
esclarecerem a humanidade, que não logrou receber, em estado de pureza, as
lições do sublime Semeador. Neste pressuposto, estão sendo chamados os
espíritas para colaborarem a prol da verdade. A todos: calma, reflexão, muito
cuidado; que as almas daqueles que, por egoísmo e subalternos interesses,
meteram a luz “debaixo do alqueire”, constituem temerosa hoste, e, apoiadas em
seus infelizes sectários, continuam a devorar a casa das viúvas...
“Não
vos esqueçais, espíritas, daquele banquete simbólico, a que os convidados
deixaram de comparecer: vós sois os maltrapilhos, indistintamente postos à mesa.
“Saciastes a fome e a sede; e da água
que tomastes, - da mesma natureza e fonte da que Jesus oferecia à Samaritana -
jamais encontrareis entre os orgulhosos, que saboreiam capitosos vinhos e
pretendem fazê-lo sangue redentor.
“Embora os tempos sejam outros e a
desigualdade das posições sociais tenha feito surgir exigências desconhecidas
ao tempo do Crucificado, compete aos cultores da fé e do amor uma coisa somente,
pouco importando que sejam pobres ou ricos - serem sempre caridosos, porque
fora da caridade não há salvação.
“A
lei do progresso quer-nos provados já na fartura, já na pobreza; em nenhum
caso, porém, deve o homem recusar o seu óbolo, quer em moeda, quer em ensino,
ou carinho.
“Almas
em expiação, arrastando os andrajos da miséria material, porém muita vez
maiores que os monarcas e milionários, de maior caridade precisam para
aguentarem-se na dor do que na fome. Dar uma esmola é, não raro, pelo preço de
um níquel, evitar a presença de um ente talvez querido, por quem se experimenta
repugnância, quando amor é que se devia
sentir.
“Espíritas:
lembrai-vos de que ser caritativo é perdoar aos adversários e mostrar-lhes, com
brandura, o caminho da Vida. Guardar ressentimentos e despeito é tornar-se egoísta,
não partilhando com o seu pensamento o pão que lhe falta, o pão espiritual.
“A
luz que iluminar os simples e caridosos, jamais se apagará; e Jesus os
conduzirá ao Pai.
“Glória, a Deus , nas alturas, paz
na Terra aos trabalhadores de boa vontade. - João.”
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