sábado, 22 de setembro de 2012

26. 'Amor à Verdade"



26
“Amor à Verdade”
por Alpheu Gomes O. Campos
Marques Araújo & C. – R. S. Pedro, 216
1927

Espiritismo prático


            Certa vez, ao terminar das preces, a hora de repouso, percebemos, mercê da mediunidade sensorial, que possuímos, aproximação de Protetores.

            Interrogando-os se desejavam comunicar-se, foi obtida resposta afirmativa.

            Feita nova oração e dispostas as causas para colhermos a sideral mensagem, entra a escrever um Espirito que, saudando-nos com o conhecido cântico dos anjos, se dizia Paulo, o apóstolo. Sem embargo das palavras mansas e harmoniosas que usava, não nos sentíamos bem, como acontece todas as vezes que recebemos uma entidade superior; ao inverso, era ingrata a sensação que experimentávamos. Anda mouro na costa! - pensamos; e logo nos lembrou aquela admonenda do Mestre: ORAI E VIGIAI. Foi o que para logo fizemos: mentalmente pedimos nos fossem dados eflúvios em sinal da dignidade inculcada pelo manifestante. Nada veio: tratava-se de um mistificador, que nos haveria por certo bigodeado (enganado), se não fora a nossa sensibilidade.

            De novo oramos, suplicando a confirmação, por eflúvios também, de que o referido Paulo estava mistificando. Veio a confirmação, e com ela, graças ao cuidado tomado, a lição que aí segue, de nosso incansável Guia:

            “Paz de Maria seja com o meu filho.

            “Ás vezes, permite-se que os partidários da ignorância, obdurados (obcecados) inimigos da verdade espírita, tomem a nossa frente nas comunicações. A razão é porque o médium deve não só estar vigilante, como ainda, se prudente e esclarecido, repô-los no caminho verdadeiro.

            “Nem sempre, infelizmente, isso acontece. Antes pelo contrário: esquecendo conselhos, ou deveres, é comum deixar o médium de instruir os impostores, privando-se ele próprio de receber a lição grandiosa que o céu lhe deseja dar.

            “Os falsos instituidores pululam no espaço; e a ligeireza com que muita gente meneia o espiritismo tem concorrido para engrossar o número deles. Em vista do livre arbítrio, nem sempre podemos evitar o fracasso quer de médiuns e de adeptos. Na maioria dos grupos aonde repetidamente vamos por trabalhos de conversão, nada ou quase nada conseguimos: entontece-os a MILICIA DAS TREVAS. Inteligente, porém mau e despeitado, manhoso e atreito (acostumado) a engazopar (iludir), o inimigo da luz consegue parecer um Enviado, um Santo, uma alma pura. Usando linguagem mais empolada que substanciosa, prende a atenção da assistência e refoge (escapa apressado) a doutrinação.  O calor do discurso e a opulência da palavra não deixam ver debaixo da erva o trigonocéfalo... (serpente venenosa)

            “Ora, em quanto da parte dos espíritas perdurar tamanha inadvertência, esses inveterados sapadores procurarão, por todos os modos, insinuar-se, conquistar simpatias e confiança, estabelecer, em suma, a corrente necessária à sua dominação.

            “Dezenas de círculos trabalham sem nenhum resultado, porque vivem sob continua ação de falanges malignas. Fazendo, para se tornarem acreditadas, um que outro favor material, encabrestam um por um todos os médiuns. E o que custa, depois, a descravização!

            É bem difícil, na atualidade, a prática do espiritismo sem as maiores cautelas. Em tudo, aliás, há precauções a tomar.

            “Na lei de Deus nada passará; tem que ser cumprida a risca e inteiramente; a tarefa hoje negligenciada haverá de ser repetida amanhã.

            “Os centros que se deixam em tanta maneira ludibriar, não perdem somente o tempo: cometem faltas graves, por assumirem responsabilidades a que longe estão de dar cumprimento.

            “É necessário orar e vigiar. Quando não se possuem certas faculdades, como vidência e sensibilidade, mais vale a sessão sem comunicações, até que um médium de boa moral e, sobretudo, humilde possa contribuir para um serviço de cunho prático.

            “A prece atrai sempre os Espíritos do Senhor. Eles, porém, mensageiros do bem e do belo, cumpridores severos da lei, jamais a violarão. Daí o livre arbítrio respeitado.

            “A função do espírita consiste no esclarecimento dos Infelizes, na assimilação e propaganda dos ensinos que deve haurir não só das individualidades avançadas como das próprias manifestações inferiores.

            “Assim sendo, os gênios tutelares procuram quanto mais atender as preces, e então, em frente do que rogou, colocam a tarefa, isto é, o Espírito que lhe compete regenerar.

            “Na maioria das vezes, esse Espírito ou é turbulento e intenta lançar o pânico entre os assistentes, ou é hipócrita e insinua-se com roupagens de certo efeito. Senhoreando a assembleia, passa corno um graduado, não balançando mesmo em usurpar o nome de varões ilustres, ou dos chamados santos. Assim persiste até que, tendo chegado ao extremo, é levado a lugar onde possa ser descoberto e logo doutrinado.

            “Há, entre as tendas espiritas, algumas práticas de perigoso resultado. É uma a consulta, principalmente sobre assuntos estranhos à doutrina.

            “Nem sempre o médium tem próximo o seu real Protetor; além de que, é ele, mais do que qualquer outro, visado assim pelos inimigos da sua crença, como pelas vítimas de encarnações pretéritas. Pois algumas destas, ou qualquer daqueles, é que se prontificam, o mais dos casos, a responder às consultas, empregando comumente esforços para que a resposta satisfaça e se verifique o pedido.

            “Não quero com isso dizer que não se consultem os Espíritos: eles mesmos são felizes quando podem instruir seus irmãos; porém não é a tal ou tal Espirito que se deve consultar ou pedir, mas a Deus, em fervorosa prece.

            “Todo ser humano tem mediunidade pelo menos nos intuitiva. Se assim não fora, difícil se tornaria aos Espíritos guardíães conduzir os seus guiados.

            “A prece, pois, ao Pai, dá lugar a que o próprio Anjo de Guarda venha em auxilio do seu tutelado e lhe dê, por intuição, a resposta, ou atenda a rogativa, se for permitido.

            “Por um lado, evita-se, assim, que embusteiros tomem autoridade sobre as oficinas; por outro lado, consegue-se que as influências salutares possam aproximar-se, imprimir o necessário impulso, deitar a orientação precisa para conhecimento das leis supremas.

            “Se os espíritas souberem arredar esses entraves, colaborando de fato no plano divino, merecerão as luzes e auxílio que na maioria das vezes não alcançam depois da morte, - o que dá sempre aso a despeito, desilusões e consequência natural) acordo com os infelizes que lhes impediram o progresso, tornando-se, em regra, terribilíssimos obsessores.

            Quando, numa sessão espirita, impera a anarquia, quando os invisíveis ocupam os médiuns sem que o diretor o tenha ordenado, ou os abandonam à vontade, sem que possam ser tolhidos, não há duvidar: os chamados protetores, em tal meio, não passam de elementos degradados, almas tisnadas pelo vício da mentira. 

            “Em uma roda com proteção superior, nenhum espirito abandonará o aparelho sem que seja acompanhado de um mensageiro e com a permissão do doutrinador.

            “Esses pontos de espiritismo prático são facilmente reconhecidos pelos observadores atentos e de boa vontade.

            “Para que uma reunião tenha amparo e força, indispensável se torna a unificação dos pensamentos; a harmonia dos corações; a vigilância tanto do presidente e médiuns como dos circunstantes; a boa vontade; a intenção de trabalhar para esclarecer-se e esclarecer o próximo. O que tudo faz com que o doutrinante receba as inspirações e tenha poder para reter no médium o espírito que importa ser convertido.

            “Trabalha, meu filho, e concita os nossos irmãos ao trabalho produtivo. Dentre eles, muitos são bem intencionados; mas falta-lhes melhor compreensão da doutrina, o que só com esforço e paciente estudo irão lento e lento conquistando.” 


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