Pesquisar este blog

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Qualidade e Quantidade



 Qualidade e Quantidade
           
           
            Em todos os tempos, a iniquidade aninhou-se no seio das chamadas maiorias.

            Nem podia ser de outra maneira, uma vez que elas representam o direito arbitrário e brutal da força. Valendo-se desse prestígio, as decantadas maiorias vem exercendo toda sorte de tiranias e violências, até que, provocando reações, são destronadas, para surgirem de novo, usando outras máscaras, porém com os mesmos intentos egoístas, procurando opor embargos à lei da evolução,

            A vida da humanidade tem sido uma série de lutas contra as pretensões liberticidas e opressoras, sustentadas pelas maiorias. É certo que, de cada queda elas se erguem menos prepotentes e arrogantes; contudo, sempre adversárias da liberdade, sempre inimigas da justiça.

                        As minorias, ao contrário, constituem o terreno propício à frutificação da boa semente suportando os danos e constrangimentos impostos pelas maiorias, anseiam pelo advento das ideias libertárias, tornando-se, por isso, elemento propulsor do progresso e da civilização.

            Todos os benefícios e todos os direitos que as gerações modernas desfrutam representam conquistas das minorias, compostas, quase sempre, dos párias sociais. Jamais partiram de outra fonte quaisquer medidas no sentido de melhorar as condições aflitivas dos povos.

            O gozo do poder fascina os homens obliterando-lhes o raciocínio. A sensação de se verem apoiados na força das armas Ihes acoroçoa o orgulho, enfunando-lhes as velas da vaidade. Por isso, as maiorias constituem terreno estéril onde a verdade e o bem não podem medrar.

            Os que se prestam a receber as revelações do céu são os pequeninos, os simples e humildes componentes das minorias desprezadas.

            O povo judeu, até hoje perseguido e malsinado, eterno Ashaverus sem pátria e sem bandeira, foi o escolhido de Deus para receber em seu seio o Redentor do mundo tendo sido já, em tempo, o oráculo dos profetas portadores das mais transcendentes mensagens celestes.

            Paulo, o erudito Apóstolo das Gentes, perseguido e molestado a cada passo pelas autoridades civis e religiosas, legítimos expoentes da maioria daquela época, dizia,  num sublime e santo desabafo: “Quem está com Deus, está com a Maioria!" Magnífica expressão que sintetiza a mais inconfundível realidade, pois estão com Deus os que, como ele, Paulo, estão com a verdade e com a justiça. Decorre daquela asserção outro fato comprovado: a maioria que coarcta a liberdade de pensamento, que persegue, que cria regalias e privilégios odiosos, que abusa, enfim, do poder, impedindo o livre curso das ideias, portanto do progresso, não está com Deus; por conseguinte,  não pode ser a verdadeira maioria, cujo caráter é universal,  não se medindo pelas facções humanas.

            O reino de Deus não é deste mundo, já o disse o divino Mensageiro da verdade e da graça. Com aquele reino está a maioria que governa o Universo; estão a suprema razão e o excelso direito; estão a indefectível justiça e a soberana onipotência, que rege os destinos da criação.

            A Igreja foi grande enquanto foi pequena. Para sermos grandes no céu, havemos de ser pequenos na terra. A força material e o prestígio político da Igreja cresceram na proporção inversa do seu declínio moral e da sua esterilidade espiritual. No tempo em que ela não tinha catedrais nem recebia o bafejo dos Constantinos, nem era representada pelos príncipes  mas por homens simples e obscuros, possuídos de fé e de entusiasmo pela causa do bem e da justiça, a presença de Jesus em seu seio era um fato.

            “Permanecei em mim e eu permanecerei em vós." A prova dessa comunhão de Jesus com a Igreja se verifica nos poderes espirituais conferidos aos seus legítimos componentes. Quando a Igreja não dispunha de prata, nem possuía ouro, dizia aos paralíticos: Levantai-vos e Iocomovei-vos! E era obedecida.

            Não nos impressionemos,  pois,  com o número. Tratemos de melhorar a qualidade, sem nos preocuparmos com a quantidade pois já sabemos que muitos são os chamados e poucos os escolhidos". Sabemos mais que “estreita é a porta e apertado é o caminho que conduzem à Vida e poucos são os que acertam com ele; ao passo que larga é a porta e espaçosa é a estrada que leva à perdição,  e muitos são os que a preferem".


por Vinícius (Pedro de Camargo)

inReformador’ (FEB) Agosto  1934




Nenhum comentário:

Postar um comentário