Donos da
Doutrina
Ao que nos parece quando dizemos
Doutrina dos Espíritos queremos significar que a Doutrina Espírita pertence
aos Espíritos “que são as virtudes dos céus, qual imenso exército que se movimenta
ao receber as ordens do seu comando, espalham-se por toda a superfície da Terra
e, semelhantes a estrelas cadentes, vêm iluminar os caminhos e abrir os olhos
aos cegos" (O Evangelho segundo o Espiritismo
- prefácio).
Assim sendo, entendemos que à nossa Doutrina
tem suas raízes no plano espiritual superior, encarregado da evolução da Terra,
e estando sob a responsabilidade direta de Jesus, o Cristo de Deus, a orientação
e propagação das suas verdades eternas.
Mas quem é aqui na Terra que é o "dono"
da Doutrina Espírita? Quem é aquele que representa o seu mais alto papel,
podendo ser considerado o seu máximo represente?
Foi Kardec? Seus descendentes? Algum
movimento?
Na verdade, ninguém é dono da Doutrina
Espírita. Os seus verdadeiros donos são os Espíritos Superiores que a ofereceram
à humanidade sofredora, como resposta de Jesus aos sofrimentos do homem.
A nós, os encarnados, compete assessorar
a tarefa desses luminares, tudo fazendo para a implantação dessas verdades maravilhosas
no seio da humanidade.
Compete-nos, ainda, aprofundar-nos nos
conhecimentos que a Doutrina Espírita oferece, pesquisando, analisando, tudo fazendo
para melhorar o entendimento do Espiritismo. Mas nós, os encarnados, nenhum de
nós somos os donos da Doutrina Espírita.
Espanta-nos, assim, a atitude dos
que desejam, a todo custo, dar a ÚLTIMA PALAVRA A RESPEITO DE ESPIRITISMO.
É bem verdade que todos temos o direito
de pensar dessa ou daquela forma, porém, temos obrigação de permitir que o nosso semelhante também tenha o seu ponto de
vista, ainda que diferente do nosso. Mas, daí partir para uma posição de
intransigência, de intolerância, querendo estandardizar o pensamento das pessoas,
obrigando-as a pensarem de uma só forma, todos de uma mesma maneira, é uma
aberração que a Doutrina não apoia, como condena.
Se assim fosse, daqui a pouco teremos
a institucionalização de um sacerdócio, formado daqueles que supostamente se
julgam os verdadeiros conhecedores da Doutrina. A seguir virá uma nova Inquisição,
destinada a punir aqueles que não pensem como os sacerdotes e o seu chefe.
Não, alto lá. A Doutrina veio exatamente
para dar novo caminho ao homem, caminho de liberdade, de tolerância, de indulgência.
Aonde vamos?
Querer que o movimento espírita seja
unificado é coisa louvável e que muito benefício trará a todos, mas forçar a
situação para que os espíritas sejamos unos em interpretação doutrinária, fere
o mais comezinho
princípio de tolerância religiosa.
Vez por outra, vemos surgir alguns confrades
que querem ser mais "kardecistas” que o próprio Kardec, isto é, mais realistas
que o rei. A sua palavra, pretendem, é a que basta para solucionar todas as questões
que surgem. Se eles não aprovam ou não dão seu "veredictum" final (em
última análise) o “imprimatur”, nada mais se
pode fazer ou falar, que eles chamarão de heresia.
Kardec, o "bom senso
encarnado", não tomou tal atitude. Sempre dizia que a opinião dele, sobre
determinado assunto, estava passível de mudança, com o correr do tempo. Não
envolvia os Espíritos no assunto para, reforçar a sua tese ou ideia. Exatamente por isso é que não surgiu um movimento
chamado "kardecismo", que seria tudo menos Doutrina Espírita. O Espiritismo
sim pode ser encarado do ponto de vista kardecista, isto é, segundo a codificação de Allan Kardec.
Alguém poderia se preocupar com a diversidade
de ideias que surgiriam, já que todos somos livres para entender ou aceitar
alguma coisa. Essa diversidade, no entanto, seria na maneira de pensar e não na de agir
que é uma só para nós todos: a vivência cristã nos nossos atos. Individualmente
poderemos divergir aqui ou ali, mas no movimento doutrinário estaremos unidos
no objetivo comum da Doutrina Espirita:
Achamos, até, mal muito maior pretender
um bitolamento do pensamento doutrinário, que seria causa de descrédito para o
movimento, de vez que fingiríamos aceitar aquilo que não aceitamos. Aliás, por acaso
não foi esse o grande erro do Dogmatismo, obrigando (com ferro e fogo) as
pessoas a pensarem de acordo com uma única ideia dominante?
Precisamos estar atentos com os dizeres:
“A letra mata, o espírito vivifica”.
Felipe Salomão
in ‘Reformador’ (FEB) Março 1974
Allan Kardec: Revista Espírita de janeiro de 1866
ResponderExcluir"Cada um é livre de encarar as coisas à sua maneira, e nós, que reclamamos esta liberdade para nós, não podemos recusá-la aos outros. Mas, porque uma opinião é livre, não se segue que não se a possa discutir, examinar o lado forte e o fraco, pesar suas vantagens e inconvenientes.”
Palavras do Mestre de Lyon. Há que entender e incorporar à nossas atitudes, pensamentos e palavras.
ResponderExcluir