Odium
Theologicum
Redação
Reformador (FEB) 1 Junho
1918
“Si attendis quid
apud te sis intus, non curabis quid de te loquantur hamines.” (Imitação
de Cristo)
Para a Igreja Católica e seus cismáticos rebentos, a Doutrina
Espírita, em tese, é obra de puro satanismo.
E não se apercebem os seus corifeus, homens
presumidamente ilustrados que tal afirmativa não passa de grosseiro paralogismo,
(raciocínio falso que se estabelece involuntariamente). insubsistente e nulo ante o espírito filosófico
da nossa época, tecido de madureza e livre exame.
O Dr. Joseph Lapponi, médico de Leão XIII e Pio X, em sua
obra “Hipnotismo e o Espiritismo” chegou à conclusão tendenciosamente e esdrúxula
de ser o Espiritismo “sempre” (1) perigoso, funesto e imoral, (2) depois de fundamentar
e aliás brilhantemente a autenticidade das manifestações espíritas, respigadas
os próprios anais do Vaticano.
(1) O grifo é nosso.
(2) Ob. Cit. Pag. 278
Diante de atitudes clássicas tão desenvoltas, de tipos
representativos como esse, não admira que um Bispo ainda há pouco, do alto da
sua cátedra viesse de público afirmar que o Espiritismo é imoral porque nega a
Deus!
De qualquer forma, porém, o que se infere é que, para os
ultramontanos ortodoxos os fatos são inconcussos (indiscutíveis) e apenas
subsiste a questão de sua origem suspeita e perniciosa.
Estribados nesse conceito, de barato “bona fide” (de boa fé) os
clericais intransigentes não regateiam ensejo de bolsar (lançar) contra o
Espiritismo em geral e contra os seus adeptos em particular, protérvias (violências) e calunias
indignas, seja dito, da tarefa que tão ciosa e exclusivamente se arrogam de ministros
de Deus; únicos depositários da Verdade revelada e senhores de almas e povos.
Essa campanha, entretanto, não é nova: nem é privativa,
como poderia parecer a muitos de nossos leitores, da partida prelatura (área geográfica sob a orientação de um autoridade
católica – os prelados ou seja, padres, bispos etc).
Como tal, não nos surpreende nos seus métodos e analisando-a
de conjunto, o que encontramos de curioso, no momento, é que ela parece
intensificar-se por toda a parte, quiçá como fenômeno reflexo do grande abalo que
o mundo experimenta, na justificada previsão de reformas político-sociais que
lhe coartem (comprimem) ou extingam o já de si vacilante e duvidoso prestígio.
De fato, pelo jornais e revistas que nos chegam da Itália
como da França, da Espanha como da Inglaterra, da Norte América como de Cuba,
do México como da Argentina, inferimos que o “mot d'ordre” (palavra de ordem) para
a cleresia arregimentada é a hostilidade a todo o transe aos portadores da nova
crença, que há de regenerar o mundo e sarar lhe as gotejantes feridas do presente.
E por aqui como algures, acham os nossos gratuitos e
natos adversários que todas as armas lhes servem, como quem diz - honrando o
velho lema de Loyola – “os fins justificam os meios”.
Que o façam, que continuem a fazê-lo no louco intento de
atrofiar consciências e auferir proventos e regalias, é coisa que menos nos
importa, tão certo estamos que os tempos estão chegados de emancipação coletiva
no conspecto (olhar) do problema religioso, que não pode regredir para ankilosar
(perder o conquistado) em teocracias formalísticas, porque é apanágio da
evolução dessas mesmas consciências, a falarem incoercivelmente mais alto que
todos os interesses e convenções mundanos.
Vale o asserto pelo incremento assombroso da nossa causa,
cujos adeptos se multiplicam não já entre gentes simples e humildes de boa fé,
não já entre os que deixaram por muitos marcos assinalados na estrada da vida
os entusiasmos e ilusões, mas no seio da mocidade, das classes estudiosas e
pensantes, que representam o futuro, o mundo de amanhã.
Tudo vem a seu tempo e se apenas em pouco mais de dez
lustros (01 lustro = cinco anos) o espiritismo apresenta esta vitalidade, malgrado a
cavilosa e sistematizada campanha de descrédito que lhe moveram e malgrado as
aberrações do seu falso proselitismo, é licito concluir que ele seja o que
anunciam os espíritos elevados, isto é - o Consolador prometido por Jesus há
vinte séculos.
Para nós outros já o é.
Náufragos de todas as borrascas, penitentes e sofredores
de todos os matizes, céticos desiludidos de todas as escolas filosóficas, inúmeros
são os que nele entraram energia e fé, serenidade e esperança amor e caridade para
prosseguirem na derrota necessária.
E é diante de fatos desta ordem que nos increpam de
blasfemos, de néscios ou de loucos!
Mas,
néscios não são os que pontificam de oitiva (por ouvir dizer)?
E loucos não serão os que por espírito de seita pretendem
opor-se a leis naturais em nome de Deus que é a Lei Suprema?
Sim, mil vezes sim.
A história aí está viva para comprova-lo: as hipóteses
absurdas de ontem são as verdades incontrastáveis da hoje.
O “satanismo” glosado de hoje será também a consagração
da misericórdia divina de amanhã quando generalizada a noção lídima dos três
grandes princípios que o Espiritismo consagra e dignifica - Deus por base,
Progresso por meio e Liberdade por fim.
O clero saberá intuitivamente que os seus dias de fastígio
e predomínio estão contados.
Arremete contra nós outros porque temos fé viva num Deus
absoluto na perfeição de seus atributos, incapaz de votar seus filhos a
condenação eterna, mas capaz de os salvar a todos pela lei do trabalho e esforço
próprio!
Anatematiza-nos porque não aceitamos os seus dogmas heteróclitos,
porque não acompanhamos o seu ritual solenemente pagão, preferindo-lhes em consciência
o
Evangelho de Jesus em espírito
e verdade!
Injuria-nos porque aceitamos a comunicação dos espíritos,
que os apóstolos e santos varões primitivos da sua Igreja aceitaram e praticaram!
Pretende, finalmente, pôr-nos fora da sociedade e da Lei,
porque aos ensinos abstrusos do seu catolicismo ministrados em templos de pedra
com mundanas exibições de luxo e vaidade, preferimos o templo augusto da consciência,
apenas aclarado pelo amor do nosso Deus sobre todas as coisas e do nosso Deus
sobre todos as coisas e do nosso próximo como a nós mesmos!
Grande
crime, na verdade, o nosso; e tão grande que não nos só beija, por ele, o direito
de revide, condenando a sua Egreja.
Ela está no seu papel e coerente com o seu passado.
Nós ficaremos em nosso posto, coerente com o ensinamento
do Divino Mestre.
E até que o tempo decida o pleito, enquanto a igreja apela
para as leis humanas, para as suas tradições e até para os governos temporais, nós
apelamos simples e unicamente para Deus. E fazemo-lo como quem d’Ele procura dar
testemunho nos próprios atos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário