A Guerra
José
Petitinga
Reformador (FEB) Fevereiro
1918
É possível que eu
seja um retrógrado, que não compreenda bem as leis da Evolução, que desconheça
todos os matizes da palavra - Progresso -, e daí a minha oposição à Guerra e o
meu desacordo com o modo de pensar dos seus partidários, ou dos que a julgam
necessária ao progresso humano.
Ela serve, é verdade, pelas dores que nos proporciona, de
instrumento vingador das nossas infrações ao código divino.
Mas assim como a forca e o carrasco tornaram-se obsoletos
e reclamam, para
substitui-lo, uma educação
baseada nos ensinos do Cristo, do mesmo modo a Guerra, que é um monstruoso arcaísmo,
deve ser substituída pela Fraternidade, ou, se quiserem, pelo altruísmo, que é vocábulo mais moderno e,
por isto, mais agradável a muitos ouvidos.
Se o homem progride pelo conhecimento da Lei natural, se
o perfeito conhecimento dessa lei nos dá a posse da verdadeira ciência, como a
sua prática nos conduz à verdadeira felicidade penso que não pode ser considerado
progresso aquilo que se opõe a essa lei.
O código mosaico, que Jesus não revogou, mas somente
amenizou lhe os pontos ásperos, necessários à época de sua promulgação,
conservando lhe a essência divina, que é eterna e imutável, diz claramente: “-
Não matarás!”; a Guerra, ao contrário, tendo por princípio a destruição, sem a
qual não poderá existir, recomenda a matança e faz dos mensageiros da Morte os
seus heróis, os seus distinguidos.
É
progresso o que está em desacordo com a Lei?
Deve-se considerar conquista da civilização o que é
contrário aos mandamentos divinos?
Pode-se logicamente, dentro dos princípios da Moral,
considerar benemérito o homem que mata?
A afirmativa, que eu não subscrevo e contra a qual
protesto, será a revogação do Decálogo, a proscrição do Evangelho e a apoteose
da Guerra pelo retrocesso do homem à barbárie, retrocesso esse que modificaria
- se a Lei pudesse alterada - o valor de todos os termos do vocabulário humano,
confundindo a Virtude e o Vicio, a Luz e as Trovas, o Bom e o Mal.
Creio, portanto, que é dever de todo cristão, e
especialmente dos que seguem
o Espiritismo, fazer
guerra à Guerra. O orgulho gerou-a, o egoísmo concebeu-a, e como estes
mesquinhos sentimentos - origem de todo os males, causa de todas as desgraças -
são contrários a moral evangélica, a Guerra, deles diretamente derivada é
anticristã e deve ser repudiada por aqueles que se esforçam por seguir os
preceitos do Nazareno.
Ninguém, podendo evita-la, submete-se a uma operação
cirúrgica; assim devemos evitar prudentemente as efusões de sangue,
acautelando-nos quanto possível contra essas operações violentas que, embora
não desintegrem o organismo social, deixam-no sempre depauperado.
A
Guerra, mesmo quando se nos afigure justa, parecendo que tem por base um
princípio elevado, - é má. Esse princípio é um pretexto ou um simulacro. Se, o
estado físico do momento não permite uma análise vigorosa, se a paixão
dominante cega os homens vedando lhes o discernimento, o futuro, com a calma de
um frio analista, virá mostrar que somente o orgulho e o egoísmo agiram,
ocultando a natural hediondez sob a máscara da Honra e da Justiça.
A História está pejada de exemplos: as guerras que no
passado foram chamadas “santas”, o presente chama-as “Maldita” e o futuro
talvez as julgue simplesmente ridículas.
Esforcemo-nos, pois, para conquistar a Paz pelo Amor que
salva e pelo Trabalho que dignifica, lembrados de que o “Não matarás” do
Decálogo encontra o seu complemento no «Amai-vos reciprocamente do Evangelho.
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