Pesquisar este blog

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Diferenças radicais - Resposta a um católico



Diferenças radicais - Resposta a um católico
por Vianna de Carvalho
Reformador (FEB) Abril 1918

            Vou explicar-vos as razões porque efetivamente não sou cristão no sentido emprestado erroneamente a esta palavra pela igreja romana.

            Para esta seita, ser cristão não é cumprir os preceitos admiráveis do Evangelho, não é imitar, quando possível, as sublimes lições da vida de Jesus.

            Tanto assim que, sendo o Mestre um simples carpinteiro, o papa é rei com todo o cortejo de mundanas grandezas.

            Enquanto o Cristo vestia a túnica dos pegureiros que não têm onde repousar a cabeça, seus pretensos continuadores cobrem de ouro e de púrpuras, alardeiam uma pompa de caráter pagão, cercam-se de luxo familiar aos tiranos do tempo de Senaquerib (Rei da Assíria. Reinou entre 705 a 681 a.C. É lembrado principalmente por suas campanhas militares contra Babilônia e Judá).

            O filho de Maria era humilde e perdoavas ofensas alheias; a igreja católica mostra-se sob um orgulho indomável e amaldiçoa, desde séculos, a quantos se não submetem a seus  desarrazoados caprichos.

            Cristo espalhava, sem remuneração, os benefícios de um amor incomparável; a igreja  vende os sacramentos, negocia com a salvação das almas, trafica com o reino dos céus.

            Cristo profligava os erros e o despotismo dos fariseus bafejados pela riqueza da Terra; a igreja rasteja aos pés dos potentados.

            No rabino genial conjugam-se as perfeições do missionário cumprindo a risca os desígnios da Providencia; na igreja proliferam os crimes e os atentados contra a vida e a consciência de nosso semelhante.

            A disparidade entre o ensino de Jesus e o dos concílios romanos não precisa de mais exemplos para se impor com a força dos axiomas irrespondíveis.

            Cristão, no conceito católico, é o homem escravizado ao culto externo, às regrinhas da disciplina religiosa, às bulas e pastorais ejaculadas de vez em vez, pelo zelo das autoridades eclesiásticas.

            Ouve missa, bate nos peitos, confessa ao padre suas mazelas espirituais, usa a opa (veste ou capa usada pelos religiosos católicos) nas procissões, torce entre os dedos, maquinalmente, as contas do rosário e crê no sortilégio dos escapulápios.

            Vive transido com o horror blasfemo de um Deus vingativo e implacável que tem embaixadores na Terra para a regularização dos negócios celestes. Isto não o impede, entretanto, de alimentar ódios, intolerância, dureza de coração, maledicências venenosas, invejas surdas, ambições insopitáveis e apego aos bens terrenos temporais. Não o impede de desejar todo o mal possível ao próximo, de vangloriar-se com o alheio infortúnio, de rogar pragas, atirar esconjuros sobre os que não comungam com as suas ideias.

            A piedade, a doçura, a indulgência, a mansidão... são coisas de que se não ocupa absolutamente.
           
            Rezando a sua Salve Rainha e pondo uma vela a arder em face do oratório bento, dá-se por satisfeito, repousa a consciência no cumprimento dessas puerilidades. 

            De tempos a tempos, a penitência dos confessionários, com a deglutição complementar da hóstia, lavam lhe os pecados velhos. Julga-se então apto para subir entre serafins tangendo liras vaporosas aos esplendores da felicidade eterna.  

            Mas, como a morte parece-lhe ainda longe, torna a pecar e copiosamente, fiado no perdão já tantas vezes concedido às suas faltas anteriores.

            Entre a prática do bem, das virtudes humildes e o abster-se de carne às sextas-feiras, ele prefere sempre este último sacrifício. É mais cômodo, mais ortodoxo e produz e produz resultados extraordinários.

            Pode-se realiza-lo conservando o orgulho, o egoísmo, a vaidade os rancores rubros que geram as explosões da criminalidade.

.............................................................................

            Agora vede o quo é ser cristão segundo o espiritismo. É ter gravado no recesso de nosso entendimento as passagens maravilhosas do Evangelho afim de evita-las nos casos concretos da existência humana. O espírita não bate nos peitos soturnamente mas ama a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Não veste opa nem se ajoelha ante imagens talhadas no mármore ou fundidas no bronze; adora o Ser Sensível com as efusões de sua alma extasiada com as magnificências da criação universal.  

            Para chegar ao céu, dispensa o caminho dos confessionários e considera muito mais benefícios o perdão das injúrias, o amor à justiça, a piedade para todas as fraquezas, a doçura e o amparo para todos os infortúnios.

            Faz-se menor entre os menores, combate a iniquidade, difunde a instrução,
protege ao órfão, enxuga as lágrimas da viuvez desolada.  

            Não incensa aos orgulhosos cercados de grandezas e de glórias efêmeras; lastima-os.

            Põe seu cuidado na vida futura, encara a dor como instrumento de progresso,  resigna-se às opressoras contingências do planeta, porque a sua verdadeira pátria está além, no seio augusto da Misericórdia Suprema.  

            Às suas más paixões guerreia sem cessar. E só se empenha tenazmente em conseguir moldar seu caráter nas linhas puras traçadas por Jesus para a edificação de todas as gerações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário