Ano Novo
Humberto de Campos por Chico Xavier
Reformador (FEB) Janeiro
1944
Quando o desvelado orientador chegou ao planeta,
encaminhando o aprendiz à experiência nova, o lar estava em festa, na
celebração do Ano Novo.
Músicas alegres embalavam a casa, flores festivas
enfeitavam a mesa lauta. Riam-se os jovens e as crianças, enquanto os velhos
bebiam vinhos de júbilo.
O devotado amigo abraçou o tutelado e falou:
- Nova existência, meu filho, é qual ano novo. Enche-se o
coração das esperanças mais belas. Troca-se o passado pelo presente.
Rejubila-se a alma na oportunidade bendita. Promessas divinas florescem no
coração.
O tempo é o tesouro infinito que o Criador concede às
criaturas. Não esqueças, todavia, que a concessão de um tesouro é título de
confiança e toda confiança traduz responsabilidade. Tanto prejudica a obra de
Deus o avarento que restringe a circulação dos valores, como o perdulário que
os dissipa, olvidando obrigações sagradas.
O tempo, desse modo, é benfeitor carinhoso e credor
imparcial simultaneamente. Na Terra, a maioria dos homens não chegou ainda a compreendê-lo.
Os ignorantes perdem-no.
Os loucos matam-no.
Os maus envenenam-no.
Os indiferentes zombam dele.
Os vaidosos confundem-no.
Os velhacos enganam-no.
Os criminosos perturbam-no.
Riem-se dele os pândegos.
Os mentirosos ridicularizam-no.
Os tolos esquecem-no.
Os ociosos combatem-no.
Os tiranos abusam dele.
Os irônicos menosprezam-no.
Os arbitrários dominam-no.
Os revoltados acusam-no.
Aproveitam-no os trabalhadores fiéis.
O tempo, contudo, meu filho, pertence ao Senhor e ninguém
pode subverter a ordem de Deus.
É por isso que, ao fim da existência, cada um recebe,
conforme usou o divino patrimônio.
Vale-te, pois, da oportunidade nova, sem olvidar o dever,
convicto de que ninguém falará ou agirá no mundo, em vão.
O homem precipita-se. O tempo espera. O primeiro
experimenta. O segundo determina. Se atingiste a alegria de recomeçar,
alcançarás, igualmente, o dia de acertar.
Lembra-te que o tempo ensinará aos ignorantes.
Anulará os loucos.
Envenenará os maus.
Zombará dos indiferentes.
Confundirá os vaidosos.
Esclarecerá aos velhacos.
Perturbará os criminosos.
Surpreenderá os pândegos.
Ridicularizará os mentirosos.
Corrigirá os tolos.
Combaterá os ociosos.
Ferirá os tiranos.
Menosprezará os irônicos.
Prenderá os arbitrários.
Acusará os revoltados.
Compensará os trabalhadores fiéis.
Calou-se o venerável ancião.
Havia risos à mesa doméstica, expectativas no candidato à
reencarnação, sorrisos paternais no velhinho experiente.
O sábio abraçou novamente o discípulo e despediu-se,
rematando: - Não esqueças de que o tempo é generoso nas concessões e justo nas
contas. Vai, porém, meu filho, e não temas. Nesse instante, à maneira
do homem, cheio de esperanças, que penetra o ano novo, o aprendiz reingressou
na onda do renascimento.
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