03 Ana
Prado
e os Figner
in “O Trabalho dos Mortos (o livro do
João)” (FEB)
de Nogueira de Faria (FEB) 5ª Ed.
1990
Segunda sessão a 2 de maio de 1921
Pessoas presentes: o Sr. Prado e senhora
(a médium), maestro Bosio[1] e
senhora, Sr. Manoel Tavares e senhora, Sr. Antônio Bastos. senhora e filha, Sr.
João da Rocha Fernandes e senhora, Dr. Mata Bacelar, Dr. Remígio Fernandez, Dr.
Pereira de Barros, Sr. Barbosa e senhora, Dr. Nogueira de Faria e senhora, Sra.
Albuquerque e filho, Coronel Santiago e senhora, Frederico Fígner, senhora e
filhas. Entre essas pessoas, algumas havia inteiramente incrédulas.
Depois de tudo bem examinado e de
estar a médium (aliás contra a nossa vontade) fechada dentro das grades,
apagaram-se as luzes. Daí a uns dez ou quinze minutos começaram a aparecer as
manchas brancas de que já falei anteriormente .
João, ainda não de todo materializado, pediu o tímpano que haviam esquecido
de colocar junto à câmara.
Passados alguns instantes, indicando
com o tímpano as letras do alfabeto, ele pergunta se não querem ir observar a
médium em transe, dentro da grade. Acendeu-se uma vela a cuja chama servia de
anteparo um chapéu, a fim de que a luz não
batesse em cheio na médium, e alguns senhores foram até perto da câmara,
verificando que esta se achava adormecida e tudo intacto.
Segue-se um pequeno intervalo, após
o qual começamos a ver de novo as manchas brancas a se condensarem até tomarem
a forma de uma pessoa. Essa forma se apresentou, primeiro, de tamanho reduzido.
Em seguida, porém, tomou as dimensões de um homem bem proporcionado. É João, o
nosso bom amigo.
Saiu da câmara e caminhou por diante
de todos os que estavam na primeira fila de cadeiras: recebeu as flores que
alguns dos assistentes lhe ofereceram, inclusive eu, Frederico e minhas
filhinhas Lélia de sete anos, Helena
e Leontina; e, feito isso, começou a distribuí-Ias com alguns dos presentes,
jogando-as muitas vezes para o ar. Todos os seus movimentos são absolutamente
humanos. Não se pode ter a menor dúvida de que seja um homem quem está em
nossa presença. De
vez em quando vai à câmara escura para observar a médium, mas sem nunca deixar
de ser visível a todos.
De uma das vezes fica dentro da
câmara, enquanto que pela outra porta sai um vulto, que dizem parecer o marinheirinho
, Este se demorou um instante fora da câmara e tornou a entrar. Aparece de novo
João. Afinal, eles se materializam sucessivamente às nossas vistas.
Materializou-se um rapaz, que nenhum
dos assistentes conhecia. Perguntando-se-lhe se entre os presentes havia algum
parente seu, acenou com um lenço negativamente e levantou a mão direita para o alto, como
a indicar qualquer coisa. Perguntaram-lhe
se com isso queria significar que seus parentes estavam no Espaço. Respondeu,
por acenos, que sim.
Surgiu
em seguida, junto à cortina, uma moça,
com todas as aparências e gestos de
minha filha, a tal ponto que dissemos: É
Rachel! Então, quando se ajoelhou, era
perfeitamente ela. Os gestos eram
todos absolutamente os de minha Rachel, e mesmo o corpo, a forma, o vestidinho
acima do tornozelo, de mangas curtas e um pouco decotado. Apresentou-se-nos
assim muito parecida, porém ficou distante de nós, bem junto à câmara onde se
achava a médium.
Entrou depois na câmara e de novo
saiu, trazendo sobre a cabeça um capuz branco, que lhe encobria os cabelos e os
ombros. Caminhou em direção a mim, dizendo, com uma voz fraquinha e como que
chorosa: “Mamãe, mamãe.” À medida que de nós se aproximava, ia, por assim
dizer, diminuindo, tornando-se menos semelhante, de corpo, à minha filha. Veio
até bem perto de mim e aí parou. Não tinha então as formas tão
perfeitas. Reconheci-lhe, porém, a fronte, as sobrancelhas; verifiquei, em
suma, que era minha filha.
É possível que, por ser a primeira
vez, não houvesse podido materializar-se bem. Penso, todavia, que foi devido à
assistência, porquanto, voltando certa vez à câmara, fez a médium dizer: “Afastem-se os que estão atrás de mamãe, pois
que há ali uma corrente contrária, que me impede de aproximar-me .”
Imediatamente todos se afastaram e ela pode com facilidade vir até muito perto
de mim e falar. Ouvi e vi perfeitamente
que a voz partia da boca de minha filha, pois me achava de joelhos diante dela,
a contemplá-Ia e a ouvi-Ia.
Disse-me, em voz baixa, porém que
todos ouviram: “Para que essa roupa preta? Sou muito feliz, muito feliz.” E
moveu os braços para cima numa expressão de contentamento. Frederico, Leontina
e Helena choraram muito. Eu experimentei grande emoção, mas não pude chorar.
Depois de proferir aquelas palavras,
pegou de minha mão e beijou-a, coisa que não fazia aqui na Terra, por isso que
eu e Frederico não gostamos que os nossos filhos nos beijem as mãos.
Entretanto, isso foi uma prova. É que
durante toda a sua enfermidade, ela,
o meu anjo adorado, me beijava a mão e me cobria de carícias. Vivíamos
acariciando-nos, as duas, como se estivéssemos a despedir-nos para uma grande
viagem.
Também o referir-se ela à roupa
preta foi uma misericórdia e uma prova, pois que eu dizia sempre que só tiraria
o preto se minha filha viesse em pessoa falar-me a esse respeito. E, como tenho
a certeza de que foi ela quem me falou, fiz-lhe a vontade: desde aquele
instante tirei o vestido preto e nunca mais em minha vida, morra quem morrer, o
usarei. Sei hoje, com toda a segurança, que isso desagrada aos nossos entes
queridos que partem para o Além.
Leontina lhe entregou uma rosa. Ela
acariciou a mão da irmã, passando-lhe por cima a rosa, e retirou-se para câmara
escura, onde fez que a médium dissesse: “Vou levar para o Espaço a rosa que me
deste.” Enfim, uma maravilha, a maior das misericórdias que uma criatura pode
receber.
Materializaram-se em seguida os
Espíritos de Maria Alva e o de uma moça que parecia ser o que costuma
apresentar-se numa sessão que o maestro Bosio frequenta e que se mostra sempre
com um diadema na cabeça, diadema que ela trazia esta noite, mas que não estava
muito visível. Como não a reconhecessem, disse pela médium: “Olhem para o emblema
que trago na cabeça e me reconhecerão.” Como o emblema não estivesse, bem
visível, conforme notamos acima, ela entrou na câmara e, ao voltar, sem ter
demorado, trazia-o muito mais nítido, belamente iluminado.
Antes, como já disse, aparecera
Maria Alva, muito desembaraçada. É' uma moça gorda, de braços roliços e
cadeiras redondas. Veio com os cabelos soltos e com um pano de cor escura a
tiracolo, lembrando um vestuário grego. Tendo sido, em outra encarnação, filha
do maestro Bosio, dirigiu-se a ele, pegou-lhe fortemente as mãos, beijou-as e
deixou que lhe beijasse as suas. Depois foi ter com a Sra. Bosio e, brincando com
ela, lhe deu, na palma da mão, forte palmada, cujo estalido todos ouviram.
É preciso dizer que, quando o
Espírito está materializado, João baixa a cortina da câmara e toca o tímpano
para que seja aumentada a luz, ficando assim os Espíritos completamente
visíveis. Em seguida, ele pede música.
Maria Alva ofereceu-me uma angélica,
e outras flores a outros assistentes.
A moça do diadema, a quem chamaram
Diana, esteve bastante tempo entre nós, deixando-nos ver bem o seu diadema
iluminado, assim como toda a beleza de suas formas e de seu rosto.
Desde, que essas boas irmãzinhas se
retiraram, voltou João e conosco ficou ainda algum tempo, mostrando-se e
brincando com os presentes. Chegou-se ao ouvido de uma das senhoras e disse o
nome dos assistentes que concorriam para prejudicar o trabalho. Logo no início
da sessão, ele dissera pela médium: “Está
alguém na sala, que prejudica os trabalhos.” Só no fim da sessão, entretanto,
declinou o nome desse alguém. Era, de fato, um incrédulo, mas que, apesar
disso, chorou, quando viu toda aquela magnificência.
Por fim, tomando de um lenço, que
ele decerto materializara como havia feito com a sua roupa, João acenou por longo
tempo em sinal de despedida. Vimos, como sempre, a desmaterialização operar-se
dentro da câmara, pois que, quando isso se vai dar, ele suspende a cortina,
para que a médium fique visível.
Ouvía-se-lhe a voz chamando a médium
para que despertasse e ouvia-se igualmente o ruído das tapinhas que lhe dá com
o mesmo intuito. Ele se conserva em derredor da médium até que esta desperte.
Vimos as manchas brancas que sempre vemos no começo e no fim das sessões. Dessa
vez a médium sofreu um certo abalo, porque alguém, imprudentemente, aumentou a
intensidade da luz.
É assombroso tudo quanto tenho
visto. Estou em suspenso à espera de outras horas felizes, como as que passei junto
desses bons irmãos do Espaço, aos quais só Deus pode recompensar o imenso
lenitivo que trouxeram ao meu coração dilacerado pela dor da separação de minha
amada filha RacheI.
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