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domingo, 19 de fevereiro de 2012

03 Ana Prado e os Figner


03 Ana Prado
e os Figner

inO Trabalho dos Mortos  (o livro do João)” (FEB)
 de Nogueira de Faria (FEB)  5ª Ed.  1990


Segunda sessão a 2 de maio de 1921


            Pessoas presentes: o Sr. Prado e senhora (a médium), maestro Bosio[1] e senhora, Sr. Manoel Tavares e senhora, Sr. Antônio Bastos. senhora e filha, Sr. João da Rocha Fernandes e senhora, Dr. Mata Bacelar, Dr. Remígio Fernandez, Dr. Pereira de Barros, Sr. Barbosa e senhora, Dr. Nogueira de Faria e senhora, Sra. Albuquerque e filho, Coronel Santiago e senhora, Frederico Fígner, senhora e filhas. Entre essas pessoas, algumas havia inteiramente incrédulas.

            Depois de tudo bem examinado e de estar a médium (aliás contra a nossa vontade) fechada dentro das grades, apagaram-se as luzes. Daí a uns dez ou quinze minutos começaram a aparecer as manchas brancas de que já falei anteriormente .  João, ainda não de todo materializado, pediu o tímpano que haviam esquecido de colocar junto à câmara.

            Passados alguns instantes, indicando com o tímpano as letras do alfabeto, ele pergunta se não querem ir observar a médium em transe, dentro da grade. Acendeu-se uma vela a cuja chama servia de anteparo um chapéu, a fim de que a luz não batesse em cheio na médium, e alguns senhores foram até perto da câmara, verificando que esta se achava adormecida e tudo intacto.

            Segue-se um pequeno intervalo, após o qual começamos a ver de novo as manchas brancas a se condensarem até tomarem a forma de uma pessoa. Essa forma se apresentou, primeiro, de tamanho reduzido. Em seguida, porém, tomou as dimensões de um homem bem proporcionado. É João, o nosso bom amigo.

            Saiu da câmara e caminhou por diante de todos os que estavam na primeira fila de cadeiras: recebeu as flores que alguns dos assistentes lhe ofereceram, inclusive eu, Frederico e minhas filhinhas Lélia de sete anos, Helena e Leontina; e, feito isso, começou a distribuí-Ias com alguns dos presentes, jogando-as muitas vezes para o ar. Todos os seus movimentos são absolutamente humanos. Não se pode ter a menor dúvida de que seja um homem quem está em nossa presença. De vez em quando vai à câmara escura para observar a médium, mas sem nunca deixar de ser visível a todos.

            De uma das vezes fica dentro da câmara, enquanto que pela outra porta sai um vulto, que dizem parecer o marinheirinho , Este se demorou um instante fora da câmara e tornou a entrar. Aparece de novo João. Afinal, eles se materializam sucessivamente às nossas vistas.

            Materializou-se um rapaz, que nenhum dos assistentes conhecia. Perguntando-se-lhe se entre os presentes havia algum parente seu, acenou com um lenço negativamente e levantou a mão direita para o alto, como a indicar qualquer coisa. Perguntaram-lhe se com isso queria significar que seus parentes estavam no Espaço. Respondeu, por acenos, que sim.

            Surgiu em seguida, junto à cortina, uma moça, com todas as aparências e gestos de minha filha, a tal ponto que dissemos: É Rachel! Então, quando se ajoelhou, era perfeitamente ela. Os gestos eram todos absolutamente os de minha Rachel, e mesmo o corpo, a forma, o vestidinho acima do tornozelo, de mangas curtas e um pouco decotado. Apresentou-se-nos assim muito parecida, porém ficou distante de nós, bem junto à câmara onde se achava a médium.

            Entrou depois na câmara e de novo saiu, trazendo sobre a cabeça um capuz branco, que lhe encobria os cabelos e os ombros. Caminhou em direção a mim, dizendo, com uma voz fraquinha e como que chorosa: “Mamãe, mamãe.” À medida que de nós se aproximava, ia, por assim dizer, diminuindo, tornando-se menos semelhante, de corpo, à minha filha. Veio até bem perto de mim e aí parou. Não tinha então as formas tão perfeitas. Reconheci-lhe, porém, a fronte, as sobrancelhas; verifiquei, em suma, que era minha filha.

            É possível que, por ser a primeira vez, não houvesse podido materializar-se bem. Penso, todavia, que foi devido à assistência, porquanto, voltando certa vez à câmara, fez a médium dizer: “Afastem-se os que estão atrás de mamãe, pois que há ali uma corrente contrária, que me impede de aproximar-me .” Imediatamente todos se afastaram e ela pode com facilidade vir até muito perto de mim e falar. Ouvi e vi perfeitamente que a voz partia da boca de minha filha, pois me achava de joelhos diante dela, a contemplá-Ia e a ouvi-Ia.

            Disse-me, em voz baixa, porém que todos ouviram: “Para que essa roupa preta? Sou muito feliz, muito feliz.” E moveu os braços para cima numa expressão de contentamento. Frederico, Leontina e Helena choraram muito. Eu experimentei grande emoção, mas não pude chorar.

            Depois de proferir aquelas palavras, pegou de minha mão e beijou-a, coisa que não fazia aqui na Terra, por isso que eu e Frederico não gostamos que os nossos filhos nos beijem as mãos. Entretanto, isso foi uma prova. É que durante toda a sua enfermidade, ela, o meu anjo adorado, me beijava a mão e me cobria de carícias. Vivíamos acariciando-nos, as duas, como se estivéssemos a despedir-nos para uma grande viagem.

            Também o referir-se ela à roupa preta foi uma misericórdia e uma prova, pois que eu dizia sempre que só tiraria o preto se minha filha viesse em pessoa falar-me a esse respeito. E, como tenho a certeza de que foi ela quem me falou, fiz-lhe a vontade: desde aquele instante tirei o vestido preto e nunca mais em minha vida, morra quem morrer, o usarei. Sei hoje, com toda a segurança, que isso desagrada aos nossos entes queridos que partem para o Além.

            Leontina lhe entregou uma rosa. Ela acariciou a mão da irmã, passando-lhe por cima a rosa, e retirou-se para câmara escura, onde fez que a médium dissesse: “Vou levar para o Espaço a rosa que me deste.” Enfim, uma maravilha, a maior das misericórdias que uma criatura pode receber.

            Materializaram-se em seguida os Espíritos de Maria Alva e o de uma moça que parecia ser o que costuma apresentar-se numa sessão que o maestro Bosio frequenta e que se mostra sempre com um diadema na cabeça, diadema que ela trazia esta noite, mas que não estava muito visível. Como não a reconhecessem, disse pela médium: “Olhem para o emblema que trago na cabeça e me reconhecerão.” Como o emblema não estivesse, bem visível, conforme notamos acima, ela entrou na câmara e, ao voltar, sem ter demorado, trazia-o muito mais nítido, belamente iluminado.

            Antes, como já disse, aparecera Maria Alva, muito desembaraçada. É' uma moça gorda, de braços roliços e cadeiras redondas. Veio com os cabelos soltos e com um pano de cor escura a tiracolo, lembrando um vestuário grego. Tendo sido, em outra encarnação, filha do maestro Bosio, dirigiu-se a ele, pegou-lhe fortemente as mãos, beijou-as e deixou que lhe beijasse as suas. Depois foi ter com a Sra. Bosio e, brincando com ela, lhe deu, na palma da mão, forte palmada, cujo estalido todos ouviram.

            É preciso dizer que, quando o Espírito está materializado, João baixa a cortina da câmara e toca o tímpano para que seja aumentada a luz, ficando assim os Espíritos completamente visíveis. Em seguida, ele pede música.

            Maria Alva ofereceu-me uma angélica, e outras flores a outros assistentes.

            A moça do diadema, a quem chamaram Diana, esteve bastante tempo entre nós, deixando-nos ver bem o seu diadema iluminado, assim como toda a beleza de suas formas e de seu rosto.

            Desde, que essas boas irmãzinhas se retiraram, voltou João e conosco ficou ainda algum tempo, mostrando-se e brincando com os presentes. Chegou-se ao ouvido de uma das senhoras e disse o nome dos assistentes que concorriam para prejudicar o trabalho. Logo no início da sessão, ele dissera pela médium: “Está alguém na sala, que prejudica os trabalhos.” Só no fim da sessão, entretanto, declinou o nome desse alguém. Era, de fato, um incrédulo, mas que, apesar disso, chorou, quando viu toda aquela magnificência.

            Por fim, tomando de um lenço, que ele decerto materializara como havia feito com a sua roupa, João acenou por longo tempo em sinal de despedida. Vimos, como sempre, a desmaterialização operar-se dentro da câmara, pois que, quando isso se vai dar, ele suspende a cortina, para que a médium fique visível.

            Ouvía-se-lhe a voz chamando a médium para que despertasse e ouvia-se igualmente o ruído das tapinhas que lhe dá com o mesmo intuito. Ele se conserva em derredor da médium até que esta desperte. Vimos as manchas brancas que sempre vemos no começo e no fim das sessões. Dessa vez a médium sofreu um certo abalo, porque alguém, imprudentemente, aumentou a intensidade da luz.

            É assombroso tudo quanto tenho visto. Estou em suspenso à espera de outras horas felizes, como as que passei junto desses bons irmãos do Espaço, aos quais só Deus pode recompensar o imenso lenitivo que trouxeram ao meu coração dilacerado pela dor da separação de minha amada filha RacheI.




[1] Sobre a relevância de cada um dos presentes, suas funções, credos etc., cabe recorrer ao livro.



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