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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

02 Ana Prado e os Figner



02 Ana Prado
e os Figner
inO Trabalho dos Mortos  (o livro do João)” (FEB)
 de Nogueira de Faria (FEB)  5ª Ed.  1990


Primeira sessão a 1º de maio de 1921


            No dia 1 de Maio estávamos todos ansiosos, mas confiantes na promessa de João.

            O Sr. Eurípedes passara regularmente a noite. Pela manhã, no entanto, foi de novo um pouco atuado pelo Espírito, que Frederico conseguiu afastar por meio dos passes.

            Às 11 da manhã, ele se levantou da cama, sendo essa a primeira vez que o fazia, desde que chegara. A partir desse momento, cessou todo o mal-estar que vinha experimentando.

            À noite, sentia-se completamente restabelecido, conforme João prometera.

            Tivemos uma sessão admirável. Falando ao ouvido da médium, determinou João que só as pessoas íntimas fossem admitidas, pois, dizia ele, era apenas uma sessão preliminar.

            Impossível me é descrever as sensações que experimentei.

            Nenhum pavor tive. Antes, senti-me possuída de um respeito profundo diante do fenômeno a que assistia. Sentia-me elevada, como que purificada. Parecia-me que o Céu baixara à Terra.

            A essa sessão de 1 de Maio estivemos presentes: o Sr. Prado e senhora (a médium), o maestro Bosio e senhora, o Sr. Manoel Tavares e senhora, Dr. Mata Bacelar, Sr. Viana e senhora, Sr. Batista, Fred Fígner, eu e nossa filha Leontina[1].

            Frederico[2] e eu pedimos insistentemente à médium que dispensasse as grades dentro das quais costumava ficar. Estávamos certos da realidade do fenômeno e, portanto, não podíamos consentir que ela se metesse naquela gaiola, que tão mal a impressionava, assim como ao bom irmão João. Ela, à vista da nossa insistência, se sentou numa cadeira de balanço, dentro da câmara escura.

            Abaixaram-se as luzes, não tanto, porém, que não víssemos uns aos outros distintamente[3]. A escuridão só era quase completa na câmara onde estava a médium. Mas, ainda assim, perfeitamente se via a gola branca do seu vestido e o lenço com que ela tapava os olhos, evitando a luz.

            Enquanto esperávamos o Dr. Mata Bacelar, que foi o último a chegar, Frederico fez uma prece. Todos depois nos sentamos e começamos a conversar, porém sempre atentos para a câmara onde se encontrava a médium, de sorte que todos a víamos na sua cadeira de balanço.

            Decorridos uns cinco minutos, principiamos a ver formar-se uma mancha de grande alvura e que mudava de posição, mas conservando-se sempre à volta da médium. Essa mancha foi aumentando e, à medida que crescia, mais se agitava.

            Dir-se-ia que primeiro formava a roupagem com que o Espírito se apresenta. Tendo chegado a um certo tamanho, foi crescendo aos poucos. Em certos momentos, desaparecia para logo reaparecer, até que se tornou a figura perfeita de um homem. Passou para fora da cortina e flutuou como uma nuvem para o lado esquerdo da câmara. Era João.

            Uma vez completamente materializado, fechou a cortina, para evitar que a claridade banhasse a médium, aproximou-se lentamente de um banco onde havia um tímpano e com este deu o sinal convencionado para se aumentar a luz, o que foi feito. O Espírito João tornou-se nitidamente visível.

            Caminhou com os braços estendidos para o Sr. Eurípedes e lhe fez alguns passes. Ajoelhou-se, ergueu as mãos ao céu e, levantando-se, foi à câmara ver a médium. Em seguida se dirigiu para mim e se pôs de pé na minha frente.

            Falei-lhe. Expus-lhe toda a minha dor. Disse-lhe o motivo da minha ida ao Pará. João ouviu-me atentamente. Depois, estendeu os braços num gesto de me abençoar e os levantou para o céu. Tudo isso fez defronte de mim e a uma distância que, se estendêssemos horizontalmente os braços, nossas mãos se tocariam.

            Ao terminar a narrativa que fiz de todas as minhas mágoas, ofereci-lhe as flores que lhe levara e apresentei a carta de Dona Elizabet. Ele recebeu tudo com a mão direita, passando em seguida para a esquerda e, estendendo aquela, passou-a suavemente sobre a que eu lhe estendera.

            O contato da sua mão me deu a impressão exata de u'a mão humana e senti que tinha a temperatura normal destas. Ele tem uma bela compleição. E' muito mais alto do que a médium, que é de estatura muito baixa. Não nos foi, todavia, possível apreciar bem o rosto. Via-se que havia rosto, mas não se lhe distingu[4]iam claramente os traços. Suas vestes são de extrema alvura; assemelham-se às de um frade, com um capuz, que traz sobre a cabeça.

            De vez em quando, João vai à câmara, para ver se a médium está bem, e volta, permanecendo sempre visível, pois que, para fazer a sua observação, apenas introduz a cabeça na câmara.

            Depois do João, apareceu-nos um outro Espírito, dentro da câmara, com a cortina entreaberta, de maneira que observamos a sua formação e seus movimentos. Esse, porém, não saiu da câmara e se transformou em seguida numa moça, cujo rosto vi muito regularmente, assim como os cabelos a lhe caírem sobre os ombros.

            A seguir, apareceu, na abertura da câmara, um Espírito completamente materializado, trazendo à cabeça uma espécie de chapéu mole de linho e, passado por baixo do queixo e amarrado por cima do chapéu, um pano escuro, como usam algumas pessoas quando têm dor de dentes. A vestimenta era igual à de João. Note-se que na abertura da direita da câmara, por onde João entrara e saíra, víamos bem nítida a sua túnica, como que a flutuar acima da câmara.

            Quando o outro Espírito se apresentou na abertura da esquerda, aí parou. Logo se ouviu a voz da médium, que vinha de dentro da câmara e pedia que parassem o ventilador para que o irmão pudesse caminhar. Parado o ventilador, o Espírito, atravessando toda a sala, foi até junto do Sr. Eurípedes, deu-lhe passes, levantou as mãos para o alto e terminou por fazer um gesto como que abençoando aquele senhor. Voltou para perto da abertura onde se achava a roupagem de João, pegou-a e puxou-a. um pouco para nos mostrar que era real, que era matéria. Aí se demorou alguns minutos, andando de um lado para outro, deixando-se observar e movendo os braços de maneira que reconhecêssemos ser exatamente uma criatura humana. Suas mãos, seus pés, todo o seu corpo, enfim, eram claramente visíveis. Apenas do rosto não se lhe podiam distinguir bem os traços. [5]

            Cumpre notar que os Espíritos que se materializaram eram muito mais altos que a médium. Seus pés assentavam completamente no chão, porquanto nos sapatos não traziam saltos.

            Em suma, foi uma verdadeira maravilha o que eu tive a graça de ver.

            Depois desse segundo Espírito, voltou João, trazendo nos braços alguma coisa que parecia uma criança recém-nascida. Dissemos todos: “É uma criança”, e ele com um aceno de cabeça confirmou. Levou-a em seguida para dentro da câmara. Reapareceu e ficou algum tempo a nos olhar.

            Das flores que lhe tinham sido ofertadas, deu uma ao Sr. Eurípedes, atirou uma ao Sr. Viana e distribuiu as restantes com os outros assistentes.

            Voltando à câmara, introduziu aí a cabeça, como que para falar à médium, e, por intermédio desta, mandou que fizéssemos uma prece para ser encerrada a sessão. Frederico começou a fazer a prece em voz alta e João se ajoelhou, tomando a atitude de quem ora. Antes que a prece terminasse, entrou na câmara e saiu logo, trazendo na mão um pano grande, muito alvo, semelhante a um lenço, com o qual se pôs a acenar como quem se despede. E foi pouco a pouco se desmaterializando às nossas vistas. Levantou a cortina e vimos, como no princípio da sessão, a mesma nuvem branca flutuando em torno da médium. Percebia-se bem que João lhe dava passes. Ouvimos depois algumas pancadas, como se alguém lhe estivesse dando tapinhas no rosto. Explicou-nos o maestro Bosio que era João a despertar a médium, dando-lhe palmadinhas nas faces.

            Já então distinguíamos de novo o lenço branco da médium e a gola do seu vestido. Acompanhando os volteios da mancha branca, percebíamos estar ali verdadeiramente um ser inteligente, pelos esforços que fazia por despertar a médium, a quem João dedica grande afeto.

            Cheia de indizível comoção, em estado de profundo reconhecimento a Deus pela sua misericórdia, via escoar-se assim um dos instantes mais felizes da minha vida. Tinha a impressão de que o Céu se unira a nós, míseras criaturas.

            Espero, com toda a impaciência, o momento ditoso de começar a próxima sessão.



[1] Do Blog: Para completa identificação do partícipes deste livro sugerimos sua aquisição junto à Editora da FEB. Seu título: “O Trabalho dos Mortos” (O Livro do João) por Nogueira de Faria.
[2] Do Blog: Fred Fígner
[3] Do Blog: Com essa afirmação temos contestada a opinião de alguns que seria imprescindível a total obscuridade do ambiente para não ‘queimar’ os fluidos ectoplasmáticos oriundos do médium.
[4] Grifado pelo blogueiro.
[5] Grifado pelo blogueiro.


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