Divagações
J.
Paixão
Reformador
(FEB) Janeiro 1920
Para o Luiz de
Oliveira
Pode haver esperança onde não existe
fé. A esperança é mais objetiva que a fé;
aquela, está no plano terrestre; esta, no plano celeste. A esperança entusiasma;
a fé alegra; a primeira, coroa os heróis; a segunda, os mártires; aquela, incinera
uma cidade, reedifica-a porque é o amor, e o amor aliança e fortalece. A esperança
conquista o realizável; a fé prossegue, vai além: opera o milagre. A esperança
pode derivar na inteligência, da vontade estóica, fé, porém, deriva da região
mais serena, mais pura, mais distanciada do mundo cheio de imperfeições, de
orgulho e de ambição.
Todos os espíritos que se têm
imortalizado, por suas descobertas úteis e necessárias ao bem humano, foram uns
inspirados pela fé. Como prova-lo? Com o exílio, com as fogueiras, os calabouços,
as terras inóspitas, onde pela nostalgia, pela mingua de carinhos do lar, deixaram
de pulsar tantos corações, humildes, resignados; leiam-se os anuários da
ciência; leiam-se a história dos predestinados.
Quando a esperança arma-se de
punhal, a fé arma-se do perdão; e quando aquela ri
do que baqueia exânime; esta pensa-o com o bálsamo de seu carinho e o envolve e
aquece com o manto de seu amor. A esperança planejou e construiu a Torre de
Babel, a fé edificou a ermida na aba da montanha. Babel esboroou-se, ruiu, porque
o orgulho não tem alicerces; a ermida desafia os séculos porque a humildade é a
máxima das fortalezas. A Babel, porque era o ódio, a tirania, dividiu e dispersou
os povos; o templo, o altar atraiu-os e unificou-os pelos mesmos sentimentos,
pelo mesmo destino, porque o templo é o amor. Há casos em que a esperança volve
em fé: o Messias e Jesus.
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